A simples busca de boa
informação no Brasil se encontra em momento de muita dificuldade, pois os
veículos de comunicação se transformaram em simulacro de partido político,
construindo um jornalismo editado de forma seletiva, em que determinados grupos
políticos e pessoas são superprotegidos, com seus nomes passando ao largo dos
escândalos, ainda que principais responsáveis pelos mesmos.
Não dá mais para ver os
telejornais das emissoras líderes, nas quais o jornalismo comprometido pela
ideologia partidária se encontra praticamente às claras. Observamos um enorme
declínio intelectual em que uns se acham mais inteligentes que outros, mas
todos unidos pela desconstrução da boa informação e a bem do empobrecimento do
discernimento político-social da população.
Assistimos a um vigoroso
aniquilamento da cultura acompanhado de profundo desapreço pelos livros,
tornando-se praticamente proibitivo se falar em literatura, que não mais dispõe
de espaço nos jornais. Nossa certeza disso é tão grande que, quando do
lançamento do romance “Quando a vez é do mar” em Belo Horizonte, um bom amigo cedeu-nos o telefone de contato
com editores e subeditores de páginas de cultura em jornais da capital mineira,
mas optamos por não procurá-los, uma vez que ficamos 31 anos de nossa vida
profissional em redação de jornal e sabemos do tratamento... Decidimos por sair
em busca de amigos e leitores que nos acompanham desde 1977, o que nos garantiu
mais de 200 pessoas à nossa volta no dia 27 de abril de 2012, na Associação
Mineira de Imprensa (AMI) – uma multidão em matéria de lançamento de livro.
A chamada grande mídia
acompanha a tendência de exaltação a produto cultural grotesco e desprovido de
valor edificante do ser humano, promovendo músicas de má qualidade e livros que
nada têm a ver com a boa literatura, que é tida como gênero indesejável e
dispensável à indústria da subcultura do espetáculo e do entretenimento
eletrônico, que não cria nem busca valor cultural, mas tão-somente lucro. As
gravadoras e editoras não querem nem saber de trabalho intelectual reflexivo,
uma vez que estão à procura de algo que não intervenha nem atrapalhe as horas
de lazer, que têm que ser ocupadas com banalidades e futilidades, afinal o
homem moderno é aquele que se dá ao direito de desaprender.
Nem mesmo Monteiro Lobato, que
dizia que “um país se faz com homens e livros”, é tratado com o respeito de que
se fez (e faz) merecedor. Ainda agora, o Superior Tribunal Federal (STF) se vê
diante da esdrúxula necessidade de decidir sobre o destino a ser dado ao livro
“Caçadas de Pedrinho”, uma obra infantil que enfrenta o azar de ter caído nas mãos
ignaras da turma do eticamente correto, que o veem como obra detentora de
laivos racistas, desde outubro de 2010, quando o Conselho Nacional de Educação
(CNE) publicou parecer recomendando aos professores explicação aos alunos sobre
o contexto em que o livro infantil de Monteiro Lobato foi escrito.
Enquanto isso, persistimos em
nossa caminhada literária, apesar de todo o quadro de desestímulo. Num mãos à
obra dos mais constantes, enviamos livros de nossa autoria, gratuitamente, a
bibliotecas públicas, bibliotecas de escolas, faculdades, entidades
comunitárias etc. Estamos providenciando mudança técnico-visual em nosso site e
iremos lançar livro em Teresina, Piauí, em agosto deste ano. A realidade e as
situações sempre mudam: houve um tempo em que Monteiro Lobato lutava pelo
petróleo brasileiro, proclamando que “o petróleo é nosso”. Mas hoje o petróleo
jorra de maneira abundante e a Petrobrás é uma das maiores empresas do ramo no
mundo. Entretanto, o que nos parece não ser definitivamente nosso é a cultura,
que parou de jorrar ou, ainda pior, andam proibindo que ela flua até a mente do
povo brasileiro.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, poeta, escritor e
jornalista
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