sexta-feira, 22 de junho de 2012

RIO+20 – E o AERUS, até quando?

José Carlos Bolognese
Até abril de 2006, eu era autossustentável. Meu latifúndio era produtivo sem agredir nem o meio, nem o inteiro ambiente. E para isso não precisei de nenhuma conferência global para batalhar pelo meu projeto de vida autossuficiente. Só precisei fazer uma coisa um tanto estranha para os amantes de eventos, Ongs, políticos e etc…: trabalhar. Ah!, e uma segunda coisa – alguém poderia dizer que assumi um risco ambiental/previdenciário mal calculado – descontar uma parte da minha colheita, digo meu salário, para um fundo de pensão – para evitar que uma OG (Organização Governamental – o INSS), que pegava outra parte do meu salário/colheita, não lançasse sobre mim o seu estigma devastador, estranhamente não condenado por dez entre dez Ongs do planeta Terra e adjacências. Qual estigma?
O de me considerar uma desprezível espécie em extinção:
Trabalhador aposentado!
Faço parte da única espécie consciente da extinção, que fertiliza o próprio solo onde vive para sair discretamente de cena sem parasitar as outras espécies. Mas o problema do meu grupo são os inevitáveis jardineiros infiéis, que desviam para suas hortas a nossa cota de nutrientes, impedindo o fluxo da nossa própria seiva.
Nos bons tempos, quando eu arava nos ares e era grande a minha produtividade, vieram com a história de que o futuro também se planta e estoca. “Nós temos o armazém; a criação do Aerus”, me disseram. “Você só precisa repassar para o estoque do Aerus um pouco da sua colheita mensal. “Cuide bem da horta!” Bem, o tempo passou e o Aerus transformou a minha vida numa lavoura arcaica. Parou de chover na horta e pragas e nuvens de gafanhotos tomaram conta de tudo. Só faltou uma invasão dos Sem-Terra, mas os parasitas Sem-Vergonha continuam entrando roendo tudo.
Assim, para a alegria da galera oba-oba da Rio+20, me tornei uma criatura verde... até demais. Verde de raiva! Verde de raiva de ver tanto tempo, tanto evento, tanto dinheiro desperdiçado, tanta conversa mole, tanta audiência para resolver o problema da colheita maldita do Aerus…
A propósito, quando é a próxima reunião definitiva, senador Paim?
Minha vida ficou tão degradada com o desmatamento dos meus direitos, que está cada dia mais parecida com a careca do Demóstenes por fora e a cabeça do ApeDelta por dentro: Um imenso vazio.
A parte sinistra dessa fábula é que há sim, a intenção desses “agricultores” em nos levar para uma terra prometida, onde nós só entramos como adubo. É o mesmo lugar aonde eles próprios farão de tudo para não ir tão cedo. Às nossas custas, claro!
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 22-06-2012
Edição: JP

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