Até abril de 2006, eu era
autossustentável. Meu latifúndio era produtivo sem agredir nem o meio, nem o
inteiro ambiente. E para isso não precisei de nenhuma conferência global para
batalhar pelo meu projeto de vida autossuficiente. Só precisei fazer uma coisa
um tanto estranha para os amantes de eventos, Ongs, políticos e etc…: trabalhar. Ah!, e uma segunda coisa –
alguém poderia dizer que assumi um risco ambiental/previdenciário mal calculado
– descontar uma parte da minha colheita, digo meu salário, para um fundo de
pensão – para evitar que uma OG (Organização Governamental – o INSS), que
pegava outra parte do meu salário/colheita, não lançasse sobre mim o seu
estigma devastador, estranhamente não condenado por dez entre dez Ongs do
planeta Terra e adjacências. Qual estigma?
O de me considerar uma
desprezível espécie em extinção:
Trabalhador aposentado!
Faço parte da única espécie
consciente da extinção, que fertiliza o próprio solo onde vive para sair
discretamente de cena sem parasitar as outras espécies. Mas o problema do meu
grupo são os inevitáveis jardineiros infiéis, que desviam para suas hortas a
nossa cota de nutrientes, impedindo o fluxo da nossa própria seiva.
Nos bons tempos, quando eu
arava nos ares e era grande a minha produtividade, vieram com a história de que
o futuro também se planta e estoca. “Nós temos o armazém; a criação do Aerus”,
me disseram. “Você só precisa repassar para o estoque do Aerus um pouco da sua
colheita mensal. “Cuide bem da horta!” Bem, o tempo passou e o Aerus
transformou a minha vida numa lavoura arcaica. Parou de chover na horta e
pragas e nuvens de gafanhotos tomaram conta de tudo. Só faltou uma invasão dos
Sem-Terra, mas os parasitas Sem-Vergonha continuam entrando roendo tudo.
Assim, para a alegria da
galera oba-oba da Rio+20, me tornei uma criatura verde... até demais. Verde de
raiva! Verde de raiva de ver tanto tempo, tanto evento, tanto dinheiro
desperdiçado, tanta conversa mole, tanta audiência para resolver o problema da colheita
maldita do Aerus…
A propósito, quando é a próxima reunião definitiva, senador Paim?
Minha vida ficou tão degradada
com o desmatamento dos meus direitos, que está cada dia mais parecida com a
careca do Demóstenes por fora e a cabeça do ApeDelta por dentro: Um imenso
vazio.
A parte sinistra dessa fábula
é que há sim, a intenção desses “agricultores” em nos levar para uma terra
prometida, onde nós só entramos como adubo. É o mesmo lugar aonde eles próprios
farão de tudo para não ir tão cedo. Às nossas custas, claro!
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 22-06-2012
Edição: JP
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