Adriano Benayon
I. Juros

2. Houve polêmica, com alguns
enaltecendo a iniciativa governamental, e a grande mídia veiculando, junto com
os usuais economistas a serviço dos bancos, as tradicionais advertências de que
seria perigoso diminuir as taxas de juros. Na essência, tudo não passou de
teatro.
3. O fato é que os juros
praticados no Brasil são os mais usurários do Planeta, e as finanças da grande
maioria dos brasileiros vai mal, pois os devedores perdem, cada vez mais, a
capacidade de quitar as prestações.
4. Em suma, atuais taxas de
juros são incompatíveis com a manutenção do volume do crédito no País. Ou seja:
se elas não baixarem, grande número de pessoas físicas e empresas
não-oligopolistas não mais terão condições de tomar crédito, e os bancos verão
cair muito seu volume de negócios.
5. Ademais, os bancos foram
compensados pelo BACEN com a diminuição dos depósitos compulsórios sobre os
depósitos a prazo. Além disso, o BACEN permite-lhes elevar em 10% (R$ 18
bilhões) o volume de seus financiamentos de automóveis e veículos comerciais
leves.
6. Assim, o governo prossegue
privilegiando dois dos setores poderosos, ambos controlados por grupos
concentradores, o dos bancos - em que a participação estrangeira segue
crescendo - e transnacionais estrangeiras montadoras de veículos.
7. O governo petista continua
favorecendo essas montadoras com repetidas baixas e isenções de impostos, como
voltou a fazer, há pouco. Parece querer, de qualquer maneira, fazer com que
essas transnacionais prossigam remetendo ao exterior lucros oficiais (sem falar
nos disfarçados) em montantes recordes, o último dos quais foram os US$ US$
5,58 bilhões em 2011, com aumento de 36,1% em relação a 2010.
8. Estimula, de todos os
modos, a compra de automóveis, enquanto a infraestrutura de transportes
públicos urbanos é cada vez mais insatisfatória, as rodovias também se
deterioram e inexistem transportes ferroviários e aquaviários. Desse jeito, os
veículos automotores, sonho de consumo, se atravancam nas vias urbanas e,
quando chegam ao destino, começa o sofrimento para estacionar, acompanhado de
tarifas extorsivas.
9. Com efeito, como temos
demonstrado em vários artigos, as transnacionais e uns poucos grandes grupos
locais, em geral associados a elas, comandam a política econômica do Brasil, há
muitos decênios. Isso é verdade tanto em relação à chamada economia produtiva,
como no que se refere à financeira, como ilustram, entre outros, estes
instrumentos destinados a assegurar que a economia brasileira seja sangrada em
favor de banqueiros estrangeiros e locais:
a) juros reais elevados;
b) prioridade a alocar
recursos para o “superávit primário”;
c) a emenda constitucional da
Desvinculação das Receitas da União (DRU), pela qual se desviam vultosíssimos
recursos tributários, inclusive os da seguridade social, para o serviço da
dívida;
d) a Lei de “Responsabilidade”
Fiscal;
10. Muita gente tem a ilusão
de que, nos últimos anos, houve mudanças significativas na redistribuição da
renda, mas isso só se deu em relação a estratos marginalizados pelo sistema
produtivo. Este prossegue oferecendo poucos empregos em geral e ainda mais
raros quando se trata dos mais qualificados e bem remunerados, a não ser no
topo dos executivos financeiros.
11. A redistribuição que se
faz é a recomendada pelo Banco Mundial e visa ao objetivo irrealista de manter
acomodados os mais destituídos. De outra parte, praticamente nada mudou quanto
ao privilegiamento aos concentradores financeiros mundiais, como exemplifiquei
acima nos parágrafos 6 a 9.
12. Alterou-se somente a
retórica, supostamente mais à esquerda em relação a governos anteriores, o que
serve para alimentar a oposição por parte da grande mídia e montar a encenação
de que as instituições políticas oferecem alguma alternativa por ocasião das
eleições.
II – Camisa de força
estrutural
13. O sistema de poder
imperial amarrou a política econômica “brasileira” numa camisa de força, uma
vez que estabelece a meta de inflação associada à ideia (falsa) de que os juros
funcionam contendo a alta dos preços.
14. Acontece que houve, ao
longo dos últimos decênios, acentuada decadência estrutural da economia,
causada pela desnacionalização. A desindustrialização, associada também à
abertura ao comércio mundial, é apenas uma das facetas dessa decadência.
15. Isso implica cada vez
maior dependência de produtos importados, especialmente os de maior conteúdo
tecnológico e maior valor agregado.
16. A população mal alimentada
ou incorretamente alimentada, além de explorada por cartéis transnacionais nas
sementes, fertilizantes e alimentos industrializados, submetida a stress por
dificuldades financeiras, transportes precários, precariedade nos empregos etc.
é grande consumidora de exames médicos em aparelhos importados e enorme
quantidade de drogas (chamadas de remédios) cujos insumos principais são
importados.
17. Além disso, impostos
altos, tarifas absurdas, como a dos pedágios indecentes nas rodovias paulistas,
as da eletricidade privatizada etc. Ademais, os produtos industriais
encontrados no mercado são dominados, na maioria, por carteis e empresas em oligopólio.
18. Assim, tanto a produção
local, nas mãos das transnacionais, como as importações têm preços elevados, e
tudo isso leva a pressão inflacionária. Então, a pretexto de conter essa
pressão, os juros no Brasil têm-se mantido incomparavelmente altos (são
atualmente negativos na Europa, EUA e outros).
19. Fundos e outros
aplicadores estrangeiros tomam, no exterior, recursos a juro zero para
aplicá-los no Brasil, em títulos públicos e outros instrumentos financeiros.
Isso faz o câmbio do real sustentar-se em patamar alto e tornar menos
competitiva a produção realizada no Brasil. Junto com a decadência estrutural,
isso causa, nas contas externas do País, déficit de transações correntes dos
mais altos do mundo, em proporção do PIB.
20. Portanto, o modelo
econômico leva forçosamente a crises e assegura que o País não realize o tão
falado e jamais alcançado desenvolvimento. É o modelo da dependência, adotado
desde meados dos anos 50 e radicalizado, a partir de 1990, com a adesão
subalterna à globalização dirigida pelas potências imperiais.
Título e Texto: Adriano Benayon, Doutor em Economia e
autor de “Globalização versus Desenvolvimento”
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