Francisco Vianna
De forma misteriosa e opaca, o
presidente do Irã, Mahamoud Ahmadinejad, visitará hoje a Bolívia pela terceira
vez em cinco anos e vai se encontrar com seu colega, o índio cocaleiro Evo
Morales. O único setor da atrasada república sulamericana capaz de pensar e de
emitir opinião, que é composto pelos estados da chamada ‘região da meia-lua’ do
leste do país – que faz fronteira com o Brasil –, vê com reserva e muita
apreensão tal agenda e a crítica, exigindo mais transparência nessas relações
bilaterais.
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Os presidentes se cumprimentam
em 2008, em Teerã, foto: Atta Kenare/AFP/Getty Images
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O presidente jihadista chegará
na manhã de hoje, terça-feira, após uma escala de poucas horas no Rio de
Janeiro, onde assiste a Conferência da ONU RIO+20, sobre ‘Desenvolvimento
Sustentável’ e onde houve anteontem, domingo, manifestações contrárias a sua
realização.
O mistério em torno da visita
do fundamentalista islâmico à Bolívia se deve à inexistência de informações
oficiais detalhando os assuntos a serem abordados entre os dois mandatários,
bem como aonde irá e quais serão as atividades de Ahmadinejad no país.
O governo de La Paz, apenas
anunciou hoje, de forma lacônica, que os chefes de estado assinarão “memorandos
de entendimento com relação à Projetos de Elaboração da Carta Geológica em
Áreas da Cordilheira Oriental e Pré-Cambrial dos Andes” e de “luta contra o
narcotráfico, drogas estupefacientes e precursoras”. Acrescenta a nota oficial
do governo boliviano que, após a assinatura destes “documentos”, Ahmadinejad
voará até a cidade oriental de Santa Cruz de La Sierra – a mais desenvolvida do
país – sem especificar para que ou quantas horas vai ficar por lá, ou, ainda,
com quem entrará em contato, antes de retornar ao Brasil. É a terceira visita
do presidente iraniano à Bolívia, após as duas que realizou em 2007 e 2009 para
“estreitar a relações de cooperação estratégica, econômica, militar e de
segurança”, sem falar na ida de Evo Morales a Teerã em 2008, na primeira visita
de um presidente boliviano ao país persa, em 2010.
Alegando que as relações
irano-bolivianas “nunca foram claras ou transparentes” e que “o regime fascista
e teocrático de Teerã não respeita os direitos fundamentais de mulheres,
crianças e de minorias como a homossexual”, o Partido da Convergência Nacional
– conservador e de oposição ao socialismo indígena de Evo Morales condenou a
visita de Ahmadinejad, dizendo que o iraniano é considerado “persona non grata”
pela maioria dos bolivianos, disse a deputada Alejandra Prado. “Condenamos a
vinda de um presidente que não apenas viola os direitos fundamentais da pessoa
humana em seu país, como também apoia o regime sírio, que comete diariamente
crimes de lesa humanidade e genocídio qualificado”, declarou a parlamentar,
reclamando do governo autoritário e socialista de Evo Morales, desafiando-o a
revelar “qual é o interesse real” do Irã na Bolívia.
Centenas de defensores dos
direitos humanos, defensores do ambiente e membros da comunidade judaica
protestaram no domingo no Rio de Janeiro contra a participação de Ahmadinejad
na conferência Rio+20, realizada nesta semana.
O fascismo teocrático iraniano
defende que suas relações com governos comunistas sulamericanos são
“estratégicas e muito valiosas”, porque considera a região como uma porta de
saída para seu isolamento internacional e esses governos de esquerda como
aliados importante em sua ‘luta contra o capitalismo e o sistema global’.
Segundo o Wikileaks, o Irã busca, na Bolívia, o urânio que precisa para o seu
‘programa nuclear’, algo que Evo Morales nega, mas que diplomatas ocidentais em
La Paz asseguram que tal interesse é muito real em que pese os desmentidos
oficiais.
La Paz costuma manter
reservada até o último momento tudo o que se refere à chegada da comitiva
iraniana e, às vezes, até depois da visita, e sequer fornece detalhes da agenda
nem dos resultados das reuniões com seus pares bolivianos, nas quais, por vezes
participam funcionários venezuelanos. O contato mais recente teve lugar em La
Paz em maio passado, numa reunião do vice-presidente boliviano, Álvaro García
Linera, e seu colega iraniano para Assuntos Internacionais, Ali Saidlu, onde se
tratou de projetos conjuntos, embora não se tenha informado em que áreas.
A deputada Prado exigiu que o
governo informe quem chegará com Ahmadinejad, para que se evite um incidente
como o de maio de 2011, quando o ministro da Defesa iraniano, Ahmad Vahidi,
procurado na Argentina por um atentado que causou a morte de 85 pessoas em
1994, assistiu a atos militares com Morales na cidade oriental de Santa Cruz de
La Sierra. Embora as relações políticas e militares bilaterais tenham se
“estreitado”, a importância comercial do Irã para a Bolívia, “permanece
marginal”, segundo o Instituto Boliviano de Comércio Exterior (IBCE, entidade
privada), que destacou – usando dados do Instituto Nacional de Estatística --
que a Bolívia exportou para o Irã em 2011 apenas três produtos (óleo
combustível, ácido ortobórico e bórax refinado) por apenas 200.000 dólares, e
acrescentou que não houve vendas a esse país entre janeiro e abril de 2012. Em
contrapartida, o Irã vendeu à Bolívia sete produtos em 2011 por apenas 159.700
dólares, “soma irrisória em face dos 102,1 bilhões de dólares que o Irã
exportou para o mundo esse ano”, conforme o IBCE.
Título e Texto: Francisco Vianna (com base na mídia internacional), 19-06-2012
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