terça-feira, 19 de junho de 2012

Mahamoud Ahmadinejad e Evo Morales assinam "acordos de segurança andina"

Francisco Vianna
De forma misteriosa e opaca, o presidente do Irã, Mahamoud Ahmadinejad, visitará hoje a Bolívia pela terceira vez em cinco anos e vai se encontrar com seu colega, o índio cocaleiro Evo Morales. O único setor da atrasada república sulamericana capaz de pensar e de emitir opinião, que é composto pelos estados da chamada ‘região da meia-lua’ do leste do país – que faz fronteira com o Brasil –, vê com reserva e muita apreensão tal agenda e a crítica, exigindo mais transparência nessas relações bilaterais.

Os presidentes se cumprimentam em 2008, em Teerã, foto: Atta Kenare/AFP/Getty Images
O presidente jihadista chegará na manhã de hoje, terça-feira, após uma escala de poucas horas no Rio de Janeiro, onde assiste a Conferência da ONU RIO+20, sobre ‘Desenvolvimento Sustentável’ e onde houve anteontem, domingo, manifestações contrárias a sua realização.
O mistério em torno da visita do fundamentalista islâmico à Bolívia se deve à inexistência de informações oficiais detalhando os assuntos a serem abordados entre os dois mandatários, bem como aonde irá e quais serão as atividades de Ahmadinejad no país.
O governo de La Paz, apenas anunciou hoje, de forma lacônica, que os chefes de estado assinarão “memorandos de entendimento com relação à Projetos de Elaboração da Carta Geológica em Áreas da Cordilheira Oriental e Pré-Cambrial dos Andes” e de “luta contra o narcotráfico, drogas estupefacientes e precursoras”. Acrescenta a nota oficial do governo boliviano que, após a assinatura destes “documentos”, Ahmadinejad voará até a cidade oriental de Santa Cruz de La Sierra – a mais desenvolvida do país – sem especificar para que ou quantas horas vai ficar por lá, ou, ainda, com quem entrará em contato, antes de retornar ao Brasil. É a terceira visita do presidente iraniano à Bolívia, após as duas que realizou em 2007 e 2009 para “estreitar a relações de cooperação estratégica, econômica, militar e de segurança”, sem falar na ida de Evo Morales a Teerã em 2008, na primeira visita de um presidente boliviano ao país persa, em 2010.
Alegando que as relações irano-bolivianas “nunca foram claras ou transparentes” e que “o regime fascista e teocrático de Teerã não respeita os direitos fundamentais de mulheres, crianças e de minorias como a homossexual”, o Partido da Convergência Nacional – conservador e de oposição ao socialismo indígena de Evo Morales condenou a visita de Ahmadinejad, dizendo que o iraniano é considerado “persona non grata” pela maioria dos bolivianos, disse a deputada Alejandra Prado. “Condenamos a vinda de um presidente que não apenas viola os direitos fundamentais da pessoa humana em seu país, como também apoia o regime sírio, que comete diariamente crimes de lesa humanidade e genocídio qualificado”, declarou a parlamentar, reclamando do governo autoritário e socialista de Evo Morales, desafiando-o a revelar “qual é o interesse real” do Irã na Bolívia.
Centenas de defensores dos direitos humanos, defensores do ambiente e membros da comunidade judaica protestaram no domingo no Rio de Janeiro contra a participação de Ahmadinejad na conferência Rio+20, realizada nesta semana.
O fascismo teocrático iraniano defende que suas relações com governos comunistas sulamericanos são “estratégicas e muito valiosas”, porque considera a região como uma porta de saída para seu isolamento internacional e esses governos de esquerda como aliados importante em sua ‘luta contra o capitalismo e o sistema global’. Segundo o Wikileaks, o Irã busca, na Bolívia, o urânio que precisa para o seu ‘programa nuclear’, algo que Evo Morales nega, mas que diplomatas ocidentais em La Paz asseguram que tal interesse é muito real em que pese os desmentidos oficiais.
La Paz costuma manter reservada até o último momento tudo o que se refere à chegada da comitiva iraniana e, às vezes, até depois da visita, e sequer fornece detalhes da agenda nem dos resultados das reuniões com seus pares bolivianos, nas quais, por vezes participam funcionários venezuelanos. O contato mais recente teve lugar em La Paz em maio passado, numa reunião do vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, e seu colega iraniano para Assuntos Internacionais, Ali Saidlu, onde se tratou de projetos conjuntos, embora não se tenha informado em que áreas.
A deputada Prado exigiu que o governo informe quem chegará com Ahmadinejad, para que se evite um incidente como o de maio de 2011, quando o ministro da Defesa iraniano, Ahmad Vahidi, procurado na Argentina por um atentado que causou a morte de 85 pessoas em 1994, assistiu a atos militares com Morales na cidade oriental de Santa Cruz de La Sierra. Embora as relações políticas e militares bilaterais tenham se “estreitado”, a importância comercial do Irã para a Bolívia, “permanece marginal”, segundo o Instituto Boliviano de Comércio Exterior (IBCE, entidade privada), que destacou – usando dados do Instituto Nacional de Estatística -- que a Bolívia exportou para o Irã em 2011 apenas três produtos (óleo combustível, ácido ortobórico e bórax refinado) por apenas 200.000 dólares, e acrescentou que não houve vendas a esse país entre janeiro e abril de 2012. Em contrapartida, o Irã vendeu à Bolívia sete produtos em 2011 por apenas 159.700 dólares, “soma irrisória em face dos 102,1 bilhões de dólares que o Irã exportou para o mundo esse ano”, conforme o IBCE.
Título e Texto: Francisco Vianna (com base na mídia internacional), 19-06-2012

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