Maria Lucia Victor Barbosa
Na sua Carta Testamento
Getúlio Vargas escreveu: “Saio da vida para entrar na história”. Lula jamais
cometeria o suicídio ainda que imerso no mar de lama em que se afoga seu
partido. A frase mais adequada a seu pronunciamento seria: “Saio da boa vida
para entrar na história da carochinha”.
Lula da Silva é claro continua
na boa vida no sentido de gozar dos benefícios da “zelite”, mas não é a mesma
coisa de quando era presidente da República. E como não governou, mas deixou a
vida levá-lo entre viagens espetaculares, palanques constantes, recepções a
atletas, reuniões festivas, homenagens infindas, sendo que nos primeiros anos
de mandato tinha uma espécie de primeiro-ministro atualmente condenado pelo STF
como chefe da quadrilha do mensalão, José Dirceu, a existência presidencial era
um não acabar de maravilhas. Tretas, mutretas, trapaças ficavam a cargo do homem
forte do governo que, como o próprio afirmou nada fazia sem que o chefe Lula
soubesse e consentisse.
Que boa vida! Lula pairava
acima da lei. Podia falar o que quisesse porque mesmo os maiores despautérios
eram saudados com palmas, risos, gritos de júbilo. Dessa boa vida Lula saiu em
que pese desejar ardentemente a ela voltar. Ele sabe que ter ou não ter poder
eis a questão.
Entrar para a história da
carochinha merece uma explicação. No passado histórias da carochinha eram
narradas para crianças que acreditavam piamente nos contos, lembrando que
carocha quer dizer peta, mentira. Ora, Lula é um exímio contador de lorotas, um
ególatra que se gaba constantemente de feitos que não fez. Lula é uma
propaganda enganosa bem-sucedida digna de entrar eternamente para a história da
carochinha apesar de que sua peta mais hilária, a que reza que o mensalão nunca
existiu, foi agora desmentida pelo Supremo Tribunal Federal.
No julgamento considerado o mais importante de nossa história, além da condenação de várias figuras que atuaram como linhas auxiliares nos crimes de corrupção do governo Lula este amarga as que complicaram a vida de José Dirceu, carinhosamente apelidado de “capitão do time”; de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT; de José Genoino, ex-presidente do PT. São figuras exponenciais do partido marcado pelo maior crime de corrupção governamental já havido no país, a monumental compra de votos de parlamentares cujo objetivo era a manutenção do PT no poder. Algo, portanto, maculado com requintes de golpismo tão próprio da mente stalinista que articulou a sórdida trama.
Desagradavelmente surpreso
Lula e os companheiros assistem ministros do Supremo Tribunal Federal julgando
de acordo com a lei e melhor, com a isonomia que significa que a lei é igual
para todos. Destaque para o relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, que
nunca foi um boa vida nem precisou de cotas para chegar aonde chegou por
mérito. Ao horror das hostes petistas se opõe o encantamento cívico de grande
parte da nação que não acreditava mais na condenação de poderosos. Afirma assim
sua independência o Poder Judiciário prestando um relevante serviço à
democracia.
Diante da vexaminosa
desventura a reação do ex-presidente não poderia ser pior. Ele taxa o
julgamento de hipocrisia, o que se configura uma afronta monumental, um
desrespeito profundo, um desacato de enormes proporções ao STF. Delúbio, o
“homem bomba” que se imola pela causa continua calado. Genoino diz ter a
“consciência dos inocentes”, a mesma que devia ter Jacques´, o estripador. No repetido
diapasão petista ataca a imprensa, os reacionários, os moralistas, o STF e
sonha em vão com o “favorecimento da população” aos crimes por ele e pelos
companheiros cometidos. José Dirceu, depois da conversa fiada e requentada da
luta de classes, de direita versus esquerda, algo tão antigo quanto sua fuga
para Cuba prefere voltara à obsessão do fortalecimento do poder petista e apela
para a necessidade da vitória em São Paulo, além de frisar a urgência da
consecução do antigo projeto de amordaçamento da mídia e do controle do
Judiciário. Não há dúvida de que ele aprendeu muito com seu ídolo Fidel Castro.
Certamente o PT enlameado não
acabou. Lula, ainda desfruta de popularidade e conta com os que pensam que
histórias da carochinha são reais. E tem mais. Neste segundo turno os
institutos de pesquisa, que erraram de cabo a rabo, já começaram a desenvolver
seus enredos favorecendo a quem interessa. Partidos são meros clubes de
interesses facilmente cooptáveis. No PSDB, muitos erros estratégicos colaboram
para o êxito do lulismo.
Entretanto, vai ficando cada
vez mais evidente que “capitão do time” tinha um “general” que até hoje se diz
um pobre operário. O dia em que houver no Brasil uma oposição para valer isto
ficará provado e o STF fará justiça. Somente desse modo acontecerá para as
futuras gerações o resgate moral dessa fase da política delinquente.
Título e Texto: Maria Lucia
Victor Barbosa, socióloga, 13-10-2012
@maluvi
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