Carlos Lúcio Gontijo
A gente se acostuma com as
distâncias que são construídas pelo passar do tempo. Cada um de nós passa por
um processo cultural: uns avançam, enquanto outros regridem ou estabilizam. E
assim as amizades aumentam ou diminuem a sua proximidade.
Em abril faço 61 anos, moro em
Santo Antônio do Monte (depois de 40 anos de Belo Horizonte) há quase dois anos
e tenho a mais absoluta consciência de que devo me afastar de toda e qualquer
coisa que me cause infelicidade, roubando-me a alegria. Não tenho o direito de
viver o tempo que me resta sob o equívoco de aceitar qualquer verter lacrimoso,
uma vez que não me é servida a dádiva de ser contemplado pela mesma marca de
anos. Ou seja, não há possibilidade de eu viver mais 61 anos.
O cotidiano me ensinou que
notícia ruim encontra de imediato seus propagadores – até os nossos veículos de
comunicação se guiam por essa premissa –, mas fato auspicioso é de rara e
difícil disseminação. Outro dia, meu filho Lucas telefonou para mim e minha
Nina, a fim de nos comunicar que a esposa Renata estava grávida. Ficamos muito
felizes, mas para quem contar o “encaminhamento” de nosso segundo neto, que vem
fazer companhia à querida neta-filha Luara? Então, buscamos meia dúzia de
amigos verdadeiros para divulgar a festa que banhava o nosso coração.
Aqui, em Santo Antônio do
Monte, encontrei três pessoas do mundo cultural que são exemplo de
comprometimento com o que fazem. A palavra ativista cultural é estreita demais
para definir o professor Antônio Fernando Gonçalves (o popular Fernandinho).
Ele está no Terço dos Homens, nos corais da Igreja Católica, na banda Lira
Monsenhor Otaviano; há 40 anos fundou e permanece à frente da Fanfarra Cônego
Pedro Paulo Michla; integra o grupo musical "Los hipertensos", faz
parte do coral Seresta e Festa, participa da direção do clube de futebol Swat,
que possui bela sede social; é peça importante na organização das festas
paroquias, integra de maneira efetiva a Irmandade do Rosário e das congadas,
que dão a Santo Antônio do Monte a maior e mais autêntica festa de reinado da
região e talvez até mesmo de Minas e do Brasil. E tem mais, o Fernandinho é
pessoa humilde de alma e coração, não carregando qualquer afetação ou esnobismo
por ser detentor de tamanha disponibilidade, competência e compromisso social.
Outro artista de qualidade é o
maestro Otaviano José Coimbra (o afável “Vai”), que se preocupa em dar aulas de
música a crianças, ensaiar corais e lutar pela perpetuação da tradicional banda
Lira Monsenhor Otaviano, sem a qual as procissões da Semana Santa encontrariam
dificuldade para se encaminhar na direção dos caminhos do Senhor. O maestro
amigo acaba de musicar o poema “Sangue Montense” (de minha autoria), num gesto
espontâneo que assentou, feito limo na pedra, em meu coração.
E tem ainda a Vilma Antônia da
Silva, que é daquelas pessoas quietas, de passos leves e olhar macio, que marca
presença como se presente não estivesse. Artista plástica e dona de uma
invejável habilidade artesanal, “Vilminha” me passou confiança e
desprendimento, predicados que encontrei (e encontro) em todos os ilustradores
de meus livros – Nivaldo Marques, “Quinho”, Evandro Luiz, Nelson Flores, Ana
Carolina, Hamilton Flores. Dessa forma, ousei pedir-lhe que ilustrasse o livro
infantil “Lelé, a formiga travessa”, que pretendo lançar no meio desde ano,
juntamente com “Poesia de romance e outros versos”, que está sob o trabalho de
ilustração de Amanda Quirino, uma jovem talentosa e disposta a me emprestar o
seu prodigioso talento.
Agora, retornando ao começo,
concluo que nunca devemos desistir de sairmos à procura de amigos ou estar de
portas e janelas espirituais abertas, para que eles entrem como se fossem
mentes e corpos ensolarados a iluminar e dar sentido aos horizontes de nossa
breve passagem pelo planeta Terra, que não pode nem deve ser desperdiçada com o
envolvimento com tudo aquilo que não presta, nem soma nem tem ouvidos sensíveis
às boas notícias.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta, escritor e
jornalista, 17-03-2013
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