quarta-feira, 20 de março de 2013

Dialética eleitoral e Comunicação política


Cesar Maia       
1. A atração de pessoas, de fiéis, de eleitores e de audiência para uma ideia, uma causa, um movimento, um candidato ou uma mídia, cumpre sempre – desde os tempos bíblicos – a mesma lógica: a dialética proposta para marcar identidade e desconstituir o contrário. Deus e Diabo. Bem e Mal. Pobre e Rico. Justo e Injusto. Manter e Mudar. Seguro e Inseguro. Emprego e Desemprego. Capaz e Incapaz. Confiável e Inconfiável. Honesto e Desonesto. Moral e Imoral. Público e Privado. Verdade e Mentira. Com Autoridade e Sem Autoridade. E assim por diante.       
2. A socióloga Kathleen Jamieson, principal pesquisadora norte-americana em Comunicação Política (“A Comunicação na Era Eletrônica”, “O que você pensa sobre política e por que você está errado”...), numa enorme pesquisa realizada nos anos 90 desde a Universidade da Pensilvânia, com 5 mil pesquisadores, estudou a memorabilidade das comunicações desde a eleição de John Kennedy até a primeira de Clinton.       
3. Afunilou para os comerciais na TV, que era a forma que produzia maior impacto. Tabulou milhares de comerciais eleitorais e os subdividiu em três tipos: os Defensivos, os de Ataque e os de Contraste. Os Defensivos são aqueles em que um candidato ou um governo apenas trata de si, mostrando os seus logros e virtudes. Esses eram os de menor memorabilidade.       
4. Os de Ataque produziam uma reação negativa ao serem vistos, mas depois a memorabilidade era bem maior que os Defensivos. Finalmente os de Contraste, onde se aplica a Dialética de Contrários. Esses – de longe – eram os que produziam a maior memorabilidade.
5. Na TV se vê isso com clareza nas “dramatizações” governo que erra/cidadão que reclama. Em entrevistas em estúdio com governantes respondendo a uma crítica, quando o âncora chama o repórter na rua e esse entrevista uma pessoa que sustenta a crítica, a derrota do entrevistado é inevitável. Da mesma forma a credibilidade dos apresentadores (as) de telejornais de grande audiência: raro político consegue “sobreviver” à “dramatização” do âncora.       
6. As campanhas eleitorais nitidamente vitoriosas são aquelas que escolhem adequadamente a dialética que vão aplicar, de acordo com o clima de opinião, a identidade do candidato e os adversários que terá que enfrentar. Em geral, as campanhas vitoriosas de reeleição usam a dialética do manter/mudar/segurança/insegurança (que se reforçam). Os líderes populistas repetem sempre a dialética Pobre/Rico.       
7. Os líderes religiosos a dialética de valores, Deus/Diabo (encarnado pelas ideias de seu adversário). Numa conjuntura economicamente adversa, a dialética Emprego/Desemprego. Os que querem Joaquim Barbosa presidente pensam na dialética moral/imoral, honesto/desonesto, confiável/inconfiável que se reforçam. Marina entra no campo Justo/Injusto, incluindo valores religiosos.       
8. A dialética pobre/rico em várias eleições é usada por mais de um candidato. Em 2014, no RJ, será assim. Dilma, Aécio e Eduardo Campos não têm uma identidade que naturalmente incorpore uma dialética eleitoral. Por isso, mesmo com Lula como anjo da guarda, o segundo turno de 2010 foi tão difícil. E ainda terão que pensar uma dialética eleitoral onde consigam vestir seu adversário como polo negativo dela. Há tempo.
Título e Texto: Ex-blog do Cesar Maia, 20-03-2013

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