sábado, 21 de setembro de 2013

Travesseiros & Travessuras

Jonathas Filho

Eu sou cinéfilo e na maioria dos dias da semana, vejo um filme após as onze da noite. Depois desse entretenimento, sigo para o “pouso” na  pista do lado esquerdo da cama, já com o sono autorizado, lá pelas duas da manhã. Quando não vejo um filme, leio um livro ou escrevo quando a inspiração me consente.
Normalmente não tenho problemas com o sono, excetuando-se nas noites de lua cheia.  Nessas noites, costumo uivar e sofrer estranhas mutações...   Brincadeirinha!

Entretanto, quando acontece de eu perder o sono, não tenho o costume de brigar com a insônia. Meu travesseiro, grande ouvinte, insinua que devo aproveitar e assim relaxar. De  fato é uma oportunidade para colocar os pensamentos em ordem, analisar, planejar, tentar compreender os fatos acontecidos, estabelecer uma ligação entre uma coisa e outra, agendar sonhos, divagar e, sem forçar, ir penetrando passo a passo na caverna dos sonhos  e  assim adormecer.

Estando na vigília insone, converso com o meu travesso travesseiro que sempre me ampara.                
Internamente, sei que ele também tem as penas dele e que os gansos contribuíram em muito para isso. Eu repouso nesse conforto, o que para ele é uma tortura  que o espreme, aperta, comprime e  deforma.

Eu sei que ele é um intrometido que espiona o meu sono e  me influencia no descanso, nos sonhos e no acordar. Ele conhece os detalhes dos meus devaneios quando a Insônia me faz companhia e, de certa forma, até enciumado fica com a minha proximidade e intimidade com ela. A Insônia, apesar de ser uma kirida companheira não me aconselha como o travesseiro faz. Travesseiro é o Grilo Falante da gente quando se deita para dormir.  Já a Insônia só aparece quando ninguém mais a quer e aí sim... ela me procura. Sorte dela que eu não sou de guardar mágoas e nem de “dar a mínima” importância quando ela reaparece, esnobando-a.  Ao contrário, eu a recebo, conversamos, rimos juntos e às vezes choramos também. É engraçado esse tipo de relacionamento. Insônia vem e vai e por vezes demora a aparecer. Já eu, me considero um  volúvel  irreversível e flerto durante o dia com a Atenção, com Observação, com a Análise, com a Reflexão... até com a Irritação e com a Decepção já flertei.

Não digo que isto faça parte do meu destino; é da minha natureza e mesmo que eu quisesse modificá-la, provávelmente não poderia. Mas isso é de dia, coisa de adulto... e a noite é uma criança.

Convenhamos,  meu travesseiro  é o companheiro inseparável em todas as “baladas” dos sonhos desde que deixei de dormir em hotéis. Sinceramente, a minha fidelidade ao meu travesseiro é inconteste; tem sido total, apesar de eu ter tentado trocá-lo por outros. A propósito, me recordo da ocasião em que estava em oferta,  numa loja de departamentos bastante conhecida, uma  pilha dessas oitavas maravilhas da tecnologia moderna, encimada por um “chamativo” letreiro  típico do “por apenas ‘xis’ reais e noventa e nove centavos”. Os travesseiros, pelas características apresentadas, eram usados por astronautas dado a maciez, leveza e et ceteras, e sem qualquer pudor deram-lhe o nome de NASA. Comprei dois, um para mim e outro para minha mulher. Todavia, apesar de moldar-se à face e mantivesse tal moldagem, não era a minha cara. Por isso não abandonei o meu antigo travesseiro. Semanalmente, ele é levado sem fronha e sem capa, para um banho de sol nu, no upper-deck da minha humilde residência. 

Nessas intromissões naturais de um travesseiro metido, um dia, quer dizer, numa madrugada, tive um sonho e como em todo sonho a fantasia é a realidade, cometi um deslize imperdoável com o trio fronha, capa e travesseiro.

Sonhava eu com uma  artista franco-canadense dona uma beleza exótica, de um corpo esbelto tão delgado quase beirando a magreza anoréxica, de uma pele aveludada, proprietária de um sorriso sensual hipnótico e o pior... tinha uma cabeça cheia de loucuras pares  às minhas num entrosamento tão perfeito que me fez pirar. Aí, com a admiração intensa, acentuada e completamente hipnotizado, não me contive  e... babei!! Posteriormente, apesar de me desculpar solenemente com a dona fronha, ela seguiu até a máquina de lavar (levada pelas gráceis e finas mãos da minha mulher), proferindo um discurso impiedoso, reforçado pela dona “capa de travesseiro” que se expressava  gritando palavras de ordem tipo“ FORA, VELHO BABÃO” entre outras que aqui não citarei por depor contra minha moral ao sonhar.                    
Lastimável  episódio.

Às vezes eu sonho acordado e faço isso sem  receio de desagradar o meu travesseiro e mais tarde não omito os detalhes para ele durante o sono. Sonhar acordado não é leviano ou pueril mas sim um estado de espírito. Isso acontece corriqueiramente como se fosse uma troca de temperaturas, quando se sai do duro frio da realidade para o calor carinhoso da fantasia, mesmo que isso seja efêmero.

O meu travesseiro também observa que também tenho tido sonhos maus, verdadeiros pesadelos. Tem um que me assalta desde 2006 e soube que meus colegas  de infortúnio, via de regra e da mesma forma, são acometidos desse tormento seguidas vezes.

Diversas vezes, meu travesseiro me adverte que já sou um galo velho cansado e com a versão 6.8 plus instalada no princípio deste setembro e portanto tenho de tomar cuidados constantes para evitar que o cruel Cronos peça a minha cabeça precocemente.
Este hábil travesseiro me ajuda sempre, apresentando as suas opiniões e “pitacos”,  produzindo a arte-final dos meus sonhos para que se gere em mim, a confiança de um despertar motivado e entusiasmado, o que tornará o meu  novo dia, em outro sonho... acordado.
Título e Texto: Jonathas Filho... é um sonhador, mas não é o único! 21-9-2013

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Um comentário:

  1. Que bom Jonathas, sair do mundinho em preto e branco e entrar no mundo dos sonhos, das conversas com o travesseiro... É também um filme feito de palavras... ou uma viagem... sem malas? Valeu!

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