A frase contraditória vai
contra a crença comum de nossos dias em que o dinheiro parece ser a medida de
todas as coisas. É claro que não se vive sem dinheiro para as necessidades
básicas (e algumas nem tão básicas, mas igualmente importantes) mas... não se
pode tomar como riqueza apenas o que se pode pagar com dinheiro. Ser rico em
bens materiais está mais para “estar” do que para ”ser” ou “ter”, pois nossa
satisfação com esses bens é volátil, seja por achar que ainda é pouco o que
temos seja pelo medo de perdê-los.
Assim, se estar rico é uma
circunstância mutável, a ideia de riqueza perene passa a ser a posse de outros
bens, não alienáveis nem perecíveis.
Podendo satisfazer suas
necessidades com o salário que ganha, um trabalhador é tanto mais feliz – e
rico em certo sentido – quanto esteja contente onde trabalha e com o que faz.
Sua riqueza inalienável vem do sentimento de pertencer a um sistema com o qual
colabora e que o respeita. E ele não precisa abrir mão da ambição por voos mais
altos até porque foi a ambição de outros antes dele que gerou o seu emprego.
Gosto de pensar em nós,
trabalhadores da Varig, como um grupo de pessoas não pobres. Estar passando
coletivamente por uma das piores fases de nossas vidas só nos faz carentes dos
bens materiais – o que é doloroso, sem dúvida – mas somos ricos de tantas
outras coisas que nos parece que os irresponsáveis que nos levaram a esse
estado de coisas o fizeram movidos pela inveja do que eram a Varig e seus
funcionários. Ou talvez pela sua incapacidade de nos dominar. Ou, pior ainda, a
Varig estava em suas cogitações apenas como instrumento de sua chegada e
permanência no poder.
Hoje, quando vemos
manifestações, greves, reivindicações – algumas justas, outras apenas a fachada
de interesses políticos – passar por cima do direito de ir e vir dos outros
cidadãos, os variguianos ao não irem por esse caminho, estão revelando parte da
sua riqueza sem cifrões. Nosso respeito pelo público vem de muito antes.
Mas, infelizmente sem escolha,
nascemos no Brasil, um rico país pobre. Aqui as grandes fortunas das últimas
décadas não foram “criadas” por inovação, empreendedorismo ou mérito, mas pela
pobreza moral que chafurda nos contratos de grandes obras e seus inevitáveis
aditivos. Outras fortunas são criadas até mesmo dentro das funções de Estado
deixando claro que, se da boca pra fora todos somos iguais, das portas de
gabinetes para dentro se encontram os muito mais iguais.
Nós, trabalhadores da Varig,
criamos vários tipos de riqueza nesse ingrato país. Uma delas foi a qualidade e
segurança de um produto que repercute ainda hoje quando se recorda a empresa da
Rosa dos Ventos.
À parte da riqueza intangível
produzida por nós, trabalhadores da Varig, em oito décadas e da qual sempre
poderemos nos orgulhar, também fomos capazes de acumular uma fortuna em ativos
reais e palpáveis - no momento fora do nosso alcance - sequestrada pelas
abonadas mentes pobres aboletadas no poder em seus vários níveis.
A política no Brasil é um
gritante exemplo de pobreza nadando num oceano de bilhões de reais e um título
eleitoral de um pobre cidadão é um instrumento que cria fortunas para serem
desfrutas bem longe dele.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 10-06-2014
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