O PT elabora uma lista negra
de jornalistas, publica em seu site, dando uma espécie de sinal verde para seus
militantes partirem para a ação direta, e é claro que não haverá nenhuma
entidade da “catchiguria” que vai reclamar. Ao contrário: se for o caso, elas
vão lá e se oferecem para executar a pena.
Vejam a armação de que foi
vítima a jornalista Rachel Sheherazade, do SBT. Até gente que considero amiga,
que não está conscientemente (ao menos) rendida à “nova ordem”, tentou ponderar
comigo: “Ah, também ela exagerou…” E poucos se deram conta de que sua fala foi
escandalosamente distorcida.
O post em que trato da lista
negra do PT já abriga quase 2.300 comentários — sem contar outro tanto que não
foi publicado, ou porque há exageros que só ajudam a má causa dos fascistas, ou
porque, claro!, a malta resolveu entrar no blog para aplaudir a decisão. Mas
estes, os petralhas, apenas fazem o seu trabalho.
Muito mais asquerosas são
aquelas pessoas que resolveram vir me dar “conselhos”: “Pô, Reinaldo, se você
pegasse um pouco mais leve…” É mesmo? Será que é disso que se trata? Vocês
viram a lista do sr. Cantalice? Posso entender por que o fascismo petista quer
a minha cabeça e a de Augusto Nunes, ainda que não pensemos as mesmas coisas.
Mas Demetrio Magnoli, por exemplo, opera em outro registro, bem distinto do meu
— mais acadêmico, sem ser chato, já que escreve muito bem. Danilo Gentili
comanda um talk show na TV — o programa tem sotaque jornalístico também, mas é
evidente que o acento está no entretenimento — e atua como ator e humorista.
Arnaldo Jabor, que não deve
concordar comigo em quase nada, dispõe, sei lá, de um ou dois minutos no
“Jornal da Globo” umas duas ou três vezes por semana, não sei ao certo. É um
crítico, sim, da extrema-esquerda, mas já deve ter batido mais na “direita”.
Guilherme Fiuza, um articulista de primeira, não reza segundo a cartilha
petista, é claro!, mas busca menos as asperezas do PT do que eu, por exemplo —
e considero isso uma virtude, não um defeito. O cantor e compositor Lobão os irrita
muito especialmente porque pertence a um mundo em que assumir posições de
esquerda parece tão natural como dizer que hoje é terça-feira. Diogo Mainardi,
por ora ao menos, está um tanto afastado das questões, vamos dizer, mundanas —
e suas intervenções sobre assuntos mais urgentes estão restritas, por absoluta
escolha sua, ao programa Manhattan Connection. Marcelo Madureira discorre com
muita propriedade, sim, sobre política, mas também a sua pegada principal é o
humor.
E por que, tão distintos entre
si, entraram no radar do petismo? Em primeiro lugar, é evidente, porque a
crítica que fazem incomoda. E olhem que somos todos umas normalistas se
tomarmos como padrão, por exemplo, a acidez da imprensa americana, tenha lá o
analista o viés que for. Em segundo lugar, porque, é fato, o petismo vem
domesticando e colonizando o jornalismo brasileiro. E não é de hoje. O partido
percebeu que os coleguinhas podem aceitar qualquer desaforo, qualquer mesmo —
inclusive tabefes de manifestantes; só não aceitam ser chamados de
“direitistas”, de “conservadores”. Ah, isso não! Aí eles piram! Assim, o
partido ameaça permanentemente os profissionais com um carimbo: “Se você não se
comportar, ficará marcado”.
Ora, vejo a lista negra do sr.
Cantalice e fico cá a imaginar o suspiro de alívio de muita gente: “Ainda bem
que não estou nela!” E, é óbvio, o passo seguinte será modular a ação para
nunca entrar. E assim se vai formando uma geração e uma casta de covardes. Daí
que eu não estranhe que muita gente — também na “catchiguria” — ache que, de
algum modo, só estou no paredão petista porque mereci. E devem pensar o mesmo
sobre os outros, ainda que façam trabalhos tão distintos entre si.
Para mim, é uma honra estar na
lista negra do PT. É possível que, inconscientemente, desde que os rejeitei,
ainda na juventude, eu ambicionasse essa condição. Há suas vantagens:
- não tenho de defender
hóspedes da Papuda;
- não tenho de defender o
desvio virtuoso de dinheiro público;
- não tenho de defender
aliança com José Sarney;
- não tenho de chamar Maluf de
“Doutor Paulo”;
- não tenho de dar dinheiro
para o comitê do Luiz Moura.
Não tenho, em suma, de ser um
militante da união da escória do passado com a do presente.
Quanto aos “coleguinhas” que
já se esconderam debaixo da cama, com medo de entrar na lista dos malditos, uma
palavra de ânimo: fiquem tranquilos! Como se diz por aí, “boi preto conhece boi
preto”. Os petistas sabem reconhecer quem fala mal deles tentando lhes puxar o
saco e exaltando suas qualidades morais. Dou a dica aos leitores.
Quantas vezes, meus caros,
vocês já ouviram alguns e algumas valentes a dizer que o erro do PT foi, no
poder, ter se comportado como os demais partidos? Infinitas vezes! Os petistas
adoram ouvir esse tipo de crítica porque isso lhes dá a desculpa moral de que
precisam para o mensalão, o dossiê dos aloprados, as relações especiais com
Alberto Youssef, entre outras lambanças. Na sequência, eles explicam que só são
obrigados a aderir a certos métodos por uma questão de realismo. E o tal
crítico, claro!, concorda e escreve em seguida que, em política, ninguém presta
mesmo! O PT respeita esse tipo de gente.
A cada vez que vejo a reação
escandalizada de um analista político com o casamento entre Maluf e o PT, eu
fico a me perguntar a razão do espanto. Afinal, acho que os petistas não têm
nada a aprender com Maluf. Mas eles podem, sim, nunca é tarde, ajudar Maluf,
que está na lista da Interpol, a ser um verdadeiro profissional.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 18-06-2014
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