José Manuel
Corria o ano de 2006,
estávamos aposentados há três anos, a nossa casa recém-construída estava em
acabamentos, o nosso filho, então com 15 anos, cursava normalmente a escola e
nós nos adaptávamos à nova vida, depois de termos voado como tripulantes em uma
das maiores e melhores empresas de aviação comercial no mundo, a Varig, por 32
e 30 anos respectivamente.
O glamour das viagens
internacionais se contrapunha a anos difíceis pois a nossa perene ausência
fazia com que nos perdêssemos no túnel do tempo sem, inclusive, poder
acompanhar corretamente o crescimento da nossa criança que havia nascido
durante o período.
Portanto, estávamos curtindo
essa proximidade, essa sensação boa, plena, de ser uma família, quando em abril
de 2006, por irresponsabilidade do governo federal, o nosso fundo de pensão
AERUS, para o qual havíamos contribuído por décadas sofreu uma intervenção
arbitrária, nos tirando do dia para a noite toda uma expectativa de vida pós-aposentadoria.
Essa foi a primeira tentativa de nos matar como cidadãos.
Ainda atordoados pela nova
realidade, meses depois, mais precisamente em outubro, nos desfizemos de algum
patrimônio e nos transformamos em empresários, sem saber o que realmente representava
aquela palavra.
Mas, precisávamos trabalhar
para tentar repor o que nos havia sido subtraído, e essa opção foi a melhor que
encontramos, pelo longo conhecimento que havíamos adquirido pelo mundo afora.
Foram oito anos de trabalhos
ininterruptos de uma rotina à qual tivemos que nos adaptar e uma realidade que
contrastava em tudo com a nossa atividade anterior. Claro, que por este motivo
também tivemos que abandonar o sonho da nossa casa pronta. Com a experiência
que tivemos no lidar com o público em voo, nos saímos muito bem, inclusive
trazendo para o local tudo o que de moderno havíamos conhecido no exterior.
Fomos agraciados com várias premiações e somos os mentores e fundadores do pólo
comercial da área.
Porém, a par de tudo isso, o
governo federal teimava em não fazer a sua parte no jogo da vida, e a partir do
ano de 2010, com a perda da competitividade industrial, a intensa fuga de
capital para o exterior, as péssimas administrações públicas nos últimos 12
anos, onde a meritocracia, o empreendedorismo a capacidade técnica e a vontade
de trabalhar, são expressões desconhecidas por um governo medíocre, fez com que
o comércio varejista, que é o nosso caso, rolasse ladeira abaixo com as
inadimplências se tornando uma rotina a mais no caos em que o país se encontra
hoje.
Apesar de toda a adversidade,
mostramos a eles que a nossa gana, a nossa vontade de vencer, de superar
obstáculos, de não nos deixar intimidar, inclusive perante o judiciário, que
foi por mim enfrentado por duas vezes em greves de fome, expondo ao mundo a
sordidez a que um povo está sendo submetido tanto pelo governo federal como
pela lei constituída que repudia a máxima de Rui Barbosa quando diz que "A
justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta",
e que nada mais faz do que se submeter aos ditames de um executivo covarde para
com os seus cidadãos da terceira idade, era muito maior do que eles pensavam
que fosse. Conseguimos a despeito de tudo formar o nosso filho.
Lutamos muito, e em duas
frentes, na defesa das nossas aposentadorias roubadas e na defesa da nossa
empresa até onde nos foi permitido, mas esta semana, mais precisamente no dia 26
de junho de 2014, tivemos que nos posicionar face a responsabilidades
contraídas, mas naturais ao ambiente. A carta a seguir é a amostra de como se
faz uma segunda tentativa e desta vez para matar empresários, cujo único crime
foi querer produzir mais uma vez para o enriquecimento da nação.
A QUEM INTERESSAR POSSA!
O EQUÍVOCO DO GOVERNO FEDERAL
NO QUE TOCA ÀS SUAS POLÍTICAS NAS ÁREAS FINANCEIRA, TRIBUTÁRIA E CAMBIAL, VEM
DE LONGA DATA ONERANDO, PENALIZANDO O COMÉRCIO VAREJISTA, LEVANDO A UMA
SITUAÇÃO DE ASFIXIA COM A SUA CONSEQUENTE FALTA DE CAPACIDADE FINANCEIRA PARA
SALDAR OS SEUS COMPROMISSOS, SEJAM DE ORDEM FÍSICA OU COM SEUS FORNECEDORES.
TAMBÉM A PRÁTICA IRRESPONSÁVEL
DE LONGOS PERÍODOS SEM SE PODER TRABALHAR, EM FERIADOS PROLONGADOS, A
PROMULGAÇÃO DE FERIADOS OU OS PONTOS FACULTATIVOS EM DEMASIA E SEM A MENOR
NECESSIDADE, ALIADOS A UM EVENTO COMO ESTA COPA DE FUTEBOL/2014 QUE
NATURALMENTE TIRA DAS RUAS OS CLIENTES, TAMBÉM ESTÁ TRAZENDO PREJUÍZOS
INCALCULÁVEIS A TODO O TIPO DE COMÉRCIO SEJA ELE DE RUA OU DE SHOPPINGS.
NO ACUMULADO DE JANEIRO A MAIO
DE 2014, O DÉFICIT EM CONTA CORRENTE DO BRASIL SOMA 40,07 BILHÕES DE DÓLARES, O
EQUIVALENTE A 4,26% DO PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB).
NO ACUMULADO DOS ÚLTIMOS DOZE
MESES ATÉ MAIO, O SALDO NEGATIVO SUBIU PARA 81,85 BILHÕES DE DÓLARES, OU 3,61%
DO PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB).
(Fonte: revista Veja Economia, 24-06-2014)
(Fonte: revista Veja Economia, 24-06-2014)
DENTRO DESTE CENÁRIO,
ENCONTRAM-SE OS GASTOS DOS BRASILEIROS NO EXTERIOR, QUE A CADA MÊS VEM BATENDO
TODOS OS RECORDES, TIRANDO DO COMÉRCIO VAREJISTA BRASILEIRO A SUA FONTE DE
RENDA E FAZENDO COM QUE A GERAÇÃO DE EMPREGOS CAIA ASSUSTADORAMENTE.
INFELIZMENTE, COMO TANTAS
OUTRAS, A NOSSA EMPRESA, FOFY'S PRESENTES, UMA DAS MAIS BONITAS LOJAS DE
NITERÓI, DETENTORA INCLUSIVE DE PRÊMIO POR COMPETITIVIDADE NA REGIÃO, APESAR DE
NÃO TER UMA ÚNICA DÍVIDA COM OS SEUS MAIS DE 80 FORNECEDORES NÃO ESTÁ
SUPORTANDO, TANTO OS ENCARGOS RESULTANTES DESTA POLÍTICA VIGENTE COMO O SUMIÇO
DO CAPITAL, DESLOCADO IRRESPONSAVELMENTE PARA O EXTERIOR.
PARALELAMENTE A ESTES PROBLEMAS, OS PROPRIETÁRIOS DA FOFY'S, EX- FUNCIONÁRIOS DA EXTINTA VARIG, SÃO CREDORES, OU SEJA, A UNIÃO FOI CONSIDERADA CULPADA EM AÇÕES JURÍDICAS E DEVE A SEUS PROPRIETÁRIOS UM MONTANTE DE R$ 2.000.000,00 (DOIS MILHÕES DE REAIS), MAS VEM INTERPONDO RECURSOS MERAMENTE PROTELATÓRIOS, QUE SOLUCIONARIAM A SAÚDE E A LONGEVIDADE DA EMPRESA.
POR SUA VEZ O JUDICIÁRIO, EM
SUA RECONHECIDA MOROSIDADE, NÃO DEMONSTRA BOA VONTADE EM RECONHECER OS
JULGADOS, E MANTÉM EM AÇÕES JÁ SENTENCIADAS, OS PROPRIETÁRIOS DA FOFY'S ALEM DE
CREDORES MAS TAMBÉM REFÉNS DE RECEBÍVEIS NO VALOR DE APROXIMADAMENTE MAIS R$
1.000.000,00 (UM MILHÃO DE REAIS)
PELOS MOTIVOS ACIMA DESCRITOS,
COMPLETAMENTE ALHEIOS À SUA VONTADE, A FOFY'S, EMPRESA DETENTORA DE MARCA
PRÓPRIA JUNTO AO INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL, ESTÁ OFERECENDO
O EXCELENTE PONTO COMERCIAL DE SUA LOJA SITUADA EM SANTA ROSA/NITERÓI, OU MESMO
A VENDA DA EMPRESA A INTERESSADOS.
FOFY'S PRESENTES, 30-06-2014
FOFY'S PRESENTES, 30-06-2014
Como estamos em plena copa do
mundo de futebol, podemos apenas dizer que no momento estamos perdendo por dois
a zero.
Mas o jogo ainda não terminou
e o mundo tem de saber o que ocorre dentro e fora do campo.
Título e Texto: José Manuel e Maria Irene, ex-tripulantes VARIG, 30-06-2014
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Bravo, Manuel! O mundo tem de saber o que está acontecendo conosco....
ResponderExcluirJonathas Filho
ResponderExcluirKirido José Manuel, sei muito bem o que está sentindo mas, com certeza, vc sente muito mais do que qualquer um, pois está sendo penalizado duplamente. Muitos de nós, ex tripulantes da Varig, desde 2006 estamos perdendo patrimônio acumulado HONESTAMENTE por via laboral e eu me incluo nesse sofrimento. Sem querer comentar mas, já comentando, a minha sogra (russa, letona de nascimento), fugiu da Revolução Bolchevique com os pais e vieram viver aqui em Pindorama. Se ela estivesse viva, veria pela segunda vez o início de situação igual como a que viveu em Stalingrado, hoje S.Petersburgo. Apesar de lá ter sido bem violenta a transição, aqui faz-se de maneira gradual mas, causando também um sofrimento que inclui perdas como as suas e as minhas. Caso não seja dado um BASTA, teremos um período cinzento de longos anos, com desabastecimento e conflitos sociais, que na análise de alguns estudiosos, são como uma tragédia anunciada. Que esse BASTA venha o mais rápido possível, senão...
Jonathas Filho
Caros Manuel e Irene, trata-se de mais um capítulo desta história escrita e dirigida pelo PT. Quando saí da RG, e 2006, demitido sem meus direitos trabalhistas, com "uma mão na frente outra atrás", passei maus momentos e se instalou na minha vida familiar verdadeiro caos. Depois de longos anos lutando em minha nova profissão foi que consegui pequeno espaço no mercado de trabalho onde estou hoje, mas sempre aos trancos e barrancos. Passei sim necessidades alimentares e totalmente endividado , com nome nos órgãos cadastrais, como SPC e Serasa.Fica sempre a esperança de, um dia, eles vão nos pagar o que é nosso. Abraços, André Santa Rosa.
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