domingo, 29 de junho de 2014

Reflexões ativas


José Carlos Bolognese
Diz um ditado:
“Não é a experiência que nos torna sábios, mas a reflexão que fazemos sobre ela”.

Reflexão é o que não me faltou nos últimos oito anos. Não me tornei sábio, mas aprendi a fazer perguntas significativas.

Como não escrevo sozinho… pouquíssimas pessoas servem-se apenas dos próprios pensamentos para fazer um texto... lanço meu olhar sobre o que há de bom ao meu alcance para tentar dar consistência a essas perguntas. Uma delas seria baseada numa frase do livro A Era da Turbulência, de Alan Greenspan:

“Raramente examinamos com cuidado a principal unidade operacional de uma atividade econômica: o ser humano.”

Eis a pergunta: 
Por que essa “unidade operacional”, homem ou mulher trabalhador não é tratado com o respeito que merece quando ocorrem rupturas no processo produtivo, como na crise que destruiu a Varig? Por que tem de aceitar que decisões tomadas em seu nome sejam sempre para ratificar seus prejuízos e colocá-lo numa situação humilhante, especialmente quando são idosos excluídos de qualquer recomeço?

Esse governo vagabundo que aí está (movido a eleição 24 horas por dia) quer nos convencer que o ser humano, por suas políticas compensatórias, como as bolsas, cotas etc., é sim, a medida de todas as coisas e o país tem as mais avançadas formas de proteção aos direitos individuais e coletivos. Não percebe – ou não lhe interessa – que o senhor Greenspan tenha dito “Raramente examinamos com cuidado...”  porque se examinarmos com cuidado... sempre!, é preciso começar a levar a gestão do país mais a sério. Isto implica em respeitar decisões da justiça, como as que reconhecem o nosso direito à nossa aposentadoria, incluindo o que não foi pago desde abril de 2006.

Por sua vez, a justiça do país – que não é cega, mas caolha – funciona de modo seletivo. Embora remunere nababescamente magistrados e pessoal que se aconchegam em palácios suntuosos, essa “justiça” é incerta para quem dela precisa.

Gastam – os poderes que nos governam – oceanos de dinheiro em marketing para vender ao povo o que não existe, não foi feito e nem vai ser, enquanto os tempos em que vivemos neste país são de profunda incerteza. Ou então de outra infeliz certeza caso essa gente continue no poder… Quem pensa um pouco, sabe a que certeza me refiro. As pessoas nesse estado de coisas temem naturalmente a eliminação de suas fontes de identidade e segurança. Desempregado se identifica com o quê? Aposentado sem uma renda está seguro de quê?

Não se identifica nem está seguro porque só é a principal unidade operacional quando está produzindo e não incomodando o poder. Não ter em conta o custo humano envolvido na produção das riquezas do país transforma o trabalhador no primeiro ativo descartável quando ocorrem as crises, revogando seus direitos fundamentais da existência, que o passar do tempo – sem resolução – só faz piorar. A partir daí, o custo humano não considerado, a “unidade operacional” vira um morto vivo que não precisa comer, morar e cuidar da saúde além de se aposentar, para dizer o mínimo.

As autoridades, executivo e judiciário, sabem tudo o que precisam saber para restabelecer os direitos dos trabalhadores e aposentados da Varig. Não o fazem porque não estão preocupadas coisa nenhuma com esse “exotismo” de custo humano.

Se refletir sobre experiências amargas da vida é o caminho para se chegar a alguma, embora residual sabedoria, as minhas reflexões me levam a concluir que não fosse esse maldito PT no governo, a Varig não teria simplesmente acabado. Nossos oito anos de sofrimento são parte de seus 12 anos de poder. Outras crises ocorreram antes e a empresa, malgrado os erros administrativos, não parou. Outra conclusão, se me permitem, é que, como disse acima, eles têm todos os fatos – mais a decisão do STF – nas mãos e só não restabelecem nossos pagamentos porque não querem, pois dinheiro (vide os estádios da Copa) tem.

E se eles sabem, não precisamos todos dias ficar falando em oito anos de calote, terceira fonte, defasagem tarifária mas… começar a contar nossa luta pela sobrevivência. Contar que não temos mais planos de saúde (sou um destes com quase 67 anos); que perdemos casa, carro, etc., que vivemos em muitas situações... de favor. Nesses oito anos já passei diversas vezes por isto e sou um devedor crônico  de várias pessoas, estas sim, cientes do que significa o “custo humano”.

Nós, trabalhadores e aposentados da Varig, fomos a principal unidade operacional não somente dessa empresa, mas de um ativo econômico de alto valor que era o nosso serviço ao país, assim como outros trabalhadores de fato sempre foram e continuam marginalizados pela falsa opção preferencial do desgoverno por classes que ele mesmo inventou para servir de massa de manobra de seu projeto de poder.

O PT é formiga saúva do século XXI
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 29-06-2014
Grifos: JP

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