As pessoas costumam estar
divididas em dois grupos básicos de ideias: os conservadores e os revolucionários.
Mesmo assim tais denominações podem se intercambiar. Explico.
Quando os revolucionários
conseguem implantar um sistema inventado por um filósofo qualquer, que não
represente uma evolução social natural, para criarem um novo regime social – leia-se:
político e econômico – se transformam imediatamente em conservadores, assim
chamados por passarem a se dedicar, então, em conservar aquilo que conquistaram.
Por sua vez, os que eram chamados, por estes, de conservadores, porque queriam
conservar a ideologia que foi mudada, passarão a ser imediatamente considerados
como revolucionários, na medida em que passam a atuar no sentido de
restaurá-la.
As sociedades mais evoluídas e
de maior índice de desenvolvimento humano mantêm um bipartidarismo com base
nessa diferenciação do comportamento político e que, nem sempre, circunscreve
um comportamento econômico correspondente.
Como não existe economia fora
do capitalismo, a diferença consiste em se ter esse capitalismo basicamente
funcionando na esfera privada ou na esfera estatal. Os que defendem a primeira
situação são os privatistas e os que defendem a segunda são os estatistas.
Assim, o comportamento social
das pessoas vai desde a defesa de um poder político absoluto e autoritário
oriundo da mudança de uma ordem pré-estabelecida com uma estatização completa
da atividade econômica, a que se dá o nome de “socialismo” para reunir os
autoritaristas e estatistas – havendo aí uma série de doutrinas que gravitam em
torno desse mesmo objetivo – até a defesa de um estado mínimo, apenas prestador
de serviços públicos e de defesa nacional, democrático e de preferência com
base no mérito e na manutenção dos valores culturais e civilizacionais
formadores do povo e com a atividade econômica desenvolvida em sua grande parte
pelo setor privado, a que se dá o nome de “liberalismo” para reunir os
privatistas e meritocratas – havendo aí também algumas doutrinas que visam
obter uma gradação desse resultado social.
No primeiro grupo, o dos
estatistas – situados historicamente à esquerda do espectro social – estão os
que se fascinam pelo populismo histriônico, messiânico, carismático de líderes
que no mais das vezes são amplamente demagógicos e se destacam na sua atividade
política por defender utopias nunca antes bem-sucedidas como fórmulas mágicas
para conseguirem criar o que chamam de uma “sociedade mais justa e
equilibrada”, raramente dissociados de seus interesses de enriquecimento
pessoal e de liderar apenas uma pequena burguesia criada em seu entorno pra lhe
dar sustentação de hegemonia de seu ‘partido único’. Para isso começam agindo
dentro de uma ideologia “trabalhista”, pela qual o único capital real é o
humano e o financeiro deve estar sob o controle exclusivo do estado ou
simplesmente não existir de modo visível.
No segundo grupo estão os que
não querem trocar o certo pelo duvidoso, o que já funciona, mesmo com algumas
deficiências, pelo desconhecido e que nunca funcionou em lugar algum.
Aprenderam com as aulas práticas ministradas pela história do século XX que o
capital financeiro tem o mesmo valor do capital humano, ou seja, que o dinheiro
e o trabalho têm valores equivalentes dentro do processo produtivo e que as
pessoas trabalham para ganhar dinheiro e se capitalizarem e, assim que o
conseguem, investem esse capital para gerar mais trabalho e riqueza e que,
quanto maior for o estado-maior será seu peso e o obstáculo à realização desse
processo.
O fato de serem chamados de
revolucionários ou conservadores é, pois, amplamente circunstancial e depende
de estarem ou não no poder. Ambos os lados poderão, como visto, ser
considerados como ‘reacionários’, pois reagirão sempre no sentido de impedir
que suas convicções percam terreno em relação às do outro grupo.
O exposto até agora
corresponde ao argumento básico do bipartidarismo, ou a defesa dicotomizada do
comportamento social dos indivíduos. As nuances ideológicas de ambos os
lados não devem se transformar em partidos políticos, mas apenas em correntes
dentro desses dois grandes partidos, ou seja, de um lado, à esquerda, uma
espécie de PAE, ou Partido do Autoritarismo Estatista, e, do outro lado, à
direita, uma espécie de PPDR, ou Partido Privatista da Democracia
Representativa.
Assim, dentro do primeiro,
teríamos correntes no sentido de diminuir o autoritarismo em direção ao que
chamam os esquerdistas de “democracia direta” e de permitir uma controlada
atividade capitalista privada em luta ideológica com as correntes defensoras da
radicalização de suas ideias.
Da mesma forma, dentro do
segundo partido, haveria desde correntes defensoras de certa atividade
capitalista do estado e certa concentração de poderes nas mãos de uma elite
dirigente, a outras que lutariam pelo fundamentalismo de suas ideias
privatistas e representativas.
Isso pode parecer, a alguns,
certo maniqueísmo, que além de falso – uma vez que as variações surgiriam por
atividade intrapartidária – é amplamente preferível à situação absurda de um
pluripartidarismo onde os partidos políticos são criados apenas para abrir
espaços a políticos geralmente vinculados apenas aos seus próprios interesses
pessoais.
À cidadania, caberia o bom
senso e a eficácia de praticar uma estrita alternância de poder entre ambos os
partidos, para evitar que qualquer um dos dois lados acabasse por construir
sociedades desequilibradas, política e economicamente, nos dois sentidos.
O que ambos os lados não
podem, impunemente, desconsiderar é a defesa prévia e preeminente dos valores
culturais e civilizacionais formadores do povo e do fato de não se poder exigir
que uma pessoa assuma responsabilidades para as quais não está minimamente
educada ou instruída para tal, criando falsos direitos e obrigações incapazes
de serem satisfeitos e cumpridas.
Dessa noção, surge o próprio
conceito de “cidadania capaz”, ou seja, da pessoa que tem condições mínimas de
educação, de urbanidade, de instrução – leia-se: escolaridade – e de formação
profissional para que permitam que contribua e participe, quer com sua bolsa
quer com sua atividade pessoal, para representar e se fazer representar na
condução dos governos em suas variadas instâncias bem como na manutenção e
defesa dos interesses legítimos do seu país.
Assim, há pessoas que ainda,
ou não mais, reúnem essas condições essenciais ao exercício da cidadania capaz
e, pois, considerá-las como cidadãos, além se ser uma aleivosia irresponsável,
fatalmente levaria à formação de situações sociais absurdas, decadentes e
retrógradas.
Assim, caberia às duas
correntes partidárias majoritárias, o estabelecimento dessas condições mínimas
de atribuições às pessoas para qualificá-las como aptas ao exercício da
cidadania capaz dentro do contexto social, ou seja, político e econômico.
O erro do esclarecido é sempre
mais aproveitável como lição para a correção de rumos e de atitudes do que o
erro do ignorante e do deseducado, que nem sequer é jamais admitido por este
como erro.
Por mais que se possa titular
tal abordagem como “elitista”, o que se tem como certo é que, sendo a
verdadeira elite o que há de melhor e mais desenvolvido numa sociedade, são os
integrantes dessa elite que devem conduzir a sociedade, pois nela estarão
fatalmente os seus verdadeiros líderes. Afora essas pessoas, não restará
alternativa a não ser a sociedade vir a ser dirigida por falsa elite,
constituída pela escória social.
A instituição da “cidadania
capaz” levaria naturalmente à satisfação da exigência de políticos mais probos
e capacitados, bem como legisladores e administradores (e reais estadistas)
muito mais preparados para se desincumbirem de seus misteres em benefício das
pessoas e, por via de consequência, da nação.
Já ouvi amigos dizerem, com
uma razão aparente, que a democracia meritocrática não é um regime para “povos
atrasados” e que estes têm que ser controlados por ditaduras e terem suas
economias dirigidas pelo estado e agirem em conformidade estrita deste. E que
as democracias meritocráticas e o capitalismo privado e de livre mercado são
apanágios apenas dos países mais desenvolvidos e que, por isso mesmo, garantem
a sua hegemonia continuada no mundo.
A diferença, no entanto,
parece estar confinada apenas a existência ou não de uma “cidadania capaz”.
Quanto mais desenvolvido um país, maior será o número de “cidadãos capazes” e vice-versa.
Quando todas as pessoas de um país são pretensamente consideradas como
cidadãos, o resultado social obtido está longe de ser o melhor ou, pelo menos,
o mais adequado à felicidade e ao progresso coletivo, inclusive e
principalmente ao dos menos preparados. Assim, povos atrasados podem prosperar
rapidamente quando estabelecem uma ''cidadania capaz'', ou seja, onde apenas as
pessoas minimamente educadas e instruidas podem participar do processo
decisório.
Ainda não se inventou ou se
praticou qualquer regime em que uma minoria não mande ou lidere uma enorme
maioria. Mandar é uma coisa, mas liderar é bem outra coisa e, daí, ser
absolutamente indispensável que essa minoria seja composta das pessoas mais
capazes e probas da sociedade, com maior preparo educacional e de maior
escolaridade, o que lhes dá a capacidade de melhor gerir o bem comum, e até de
promover a capacitação das pessoas ainda não preparadas para exercitar uma
“cidadania capaz”.
Título e Texto: Francisco Vianna, 12-06-2014
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