Analistas do Standard
Chartered dizem que compras do BCE dão estabilidade. Mas Portugal só sacudirá
pressão com "compromisso político contínuo com a disciplina
orçamental". Novo Governo será decisivo.
Foto: Pedro Nunes/LUSA
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Edgar Caetano
A Grécia parece cada
vez mais próxima de um incumprimento na dívida pública, o que pode
obrigar as autoridades a aplicar controlos de capitais e, se o
BCE cortar o acesso dos bancos gregos ao financiamento, a saída do euro
pode ser uma inevitabilidade. Esta é a visão dos analistas no início
de mais uma semana decisiva para Atenas. Neste contexto, o banco britânico
Standard Chartered publicou uma nota de análise em que se questiona sobre
as consequências que a Grexit teria para Portugal. A conclusão?
Tudo irá depender do “compromisso político contínuo com a disciplina
orçamental e com as reformas“.
“Se a Grécia vier a sair do
euro, os holofotes irão virar-se para Portugal e para a Irlanda, os
outros países que foram resgatados durante a crise de 2010-2012 e,
respetivamente, o terceiro e o quarto países mais endividados da zona euro”
(depois da Grécia e de Itália, em dívida total na proporção do PIB), escrevem
os analistas Sarah Hewin e Achilleas Chrysostomou, em nota de
análise recente a que o Observador teve acesso.
No relatório intitulado “Se a Grécia sair, Portugal pode ficar?“,
o banco britânico nota que “o crescimento económico da Irlanda tem
sido mais robusto, já que o país tem sido capaz de exportar para garantir
crescimento”. “Já Portugal tem tido um crescimento
moderado desde 2013, ainda que o clima atual seja muito
positivo“. Contudo, “o país continua a ter um rating de lixo em
todas as agências menos uma [a canadiana DRBS] e o endividamento
elevado, o crédito malparadoe as tendências
demográficas desfavoráveis continuarão a ser, nos próximos anos, um obstáculo
para o crescimento“. O Standard Chartered assinala, contudo, que “o
saldo primário positivo [diferença positiva entre receita e despesa do Estado,
excluindo juros da dívida] deverá baixar o rácio de dívida pública face ao PIB
para 124% este ano”.
A redução dos níveis
de dívida pública é, para o Standard Chartered, a variável decisiva
para Portugal. Num caso de saída da Grécia da zona euro, “as compras de
dívida pelo BCE [não só ao abrigo dos estímulos agora lançados como,
eventualmente, o programa de socorrolançado em 2012 mas nunca usado
– o OMT) deverão garantir que Portugal não perde o acesso ao mercado“.
“Mas se existir um aumento brusco dos custos de financiamento do Estado, isso
poderá prejudicar a trajetória de redução da dívida”, diz o Standard Chartered.
É por isso que será crucial
que os investidores externos mantenham a “confiança na sustentabilidade da
redução da dívida pública“. Será, por isso, importante continuar a “dar
provas de que as reformas estão a melhorar as perspetivas de
crescimento de médio prazo”e que continua a existir “um compromisso
político contínuo com a disciplina orçamental e as reformas“.
O Standard
Chartered conclui dizendo que “Portugal é visto como estando numa
categoria diferente da Grécia, porque terminou o programa de resgate
correspondendo às exigências”. Além disso, “asreformas estruturais estão a
dar frutos em termos de aumento de competitividade e de redução dos
desequilíbrios”. “Cabe à política não descarrilar os esforços de reformas“,
remata o banco de investimento britânico.
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