Cesar Maia
1. Se olharmos com lupa, as crises políticas de âmbito nacional,
desde a proclamação da República, a atual de 2015 é uma das seis mais graves,
(Revolta da Marinha, Tenentismo, Revolução de 30, Suicídio de Getúlio, Ruptura
de 64, Crise de 2015). A gravidade dessas crises destaca a diluição da
autoridade e a imprevisibilidade, E quase todas ocorreram num ambiente
econômico em deterioração, seja como causa ou como efeito.
2. Numa nota na semana passada, ressaltei a dinâmica
da crise europeia atual, com as razões econômicas se transformando em políticas
e estas deixando de ser efeito e passando a ser causas dos desdobramentos
econômicos. E novas forças políticas heterodoxas pela esquerda e pela direita
emergiram em países como França, Itália, Espanha, Grécia, Reino Unido…
3. A implosão do núcleo de poder tem sido uma constante nesses
casos. Semana passada Lula – abertamente – disse que Dilma deveria vetar in limine a lei das terceirizações se
aprovada. Situações como essa são tratadas e decididas nos bastidores, quando
se trata dos principais líderes políticos do e no governo. A declaração de Lula
produziu dois efeitos: um, colocar Dilma numa sinuca de bico; outra, de estimular ainda mais o confronto entre
Dilma e o Congresso. Lula entre a superação da crise e a CUT optou pela CUT,
uma regressão ao momentum autoritário e a origem de sua ascensão, sinal que
sabe de seu desgaste e quer jogar Dilma aos leões. O colunista Noblat, num
vazamento da reunião de Lula, Dilma e outros de confiança, afirmou entre aspas
que Lula teria dito que seu maior erro foi eleger Dilma.
4. O ajuste fiscal que estava caminhando para um acordo entre o
ministro Levy e os blocos de Eduardo Cunha e Renan voltou a estaca zero. Com um
feriadão pela frente, vai entrar em maio sem solução. E Eduardo Cunha –
defensor da lei das terceirizações – saberá jogar com isso.
5. As manifestações de ruas – 15 de março e 12 de abril – mostraram
indignação com a situação atual. Os líderes políticos e sociais, não se
arriscaram a mostrar a cara, pois eles são parte da indignação. E dessa vez, os
caras-pintadas, tem mais de 50 anos como mostrou o Data-Folha.
6. O PT vibrou com o depoimento de João Vaccari na CPI. Fez
projeções professorais, distribuiu responsabilidades com o PSDB, e saiu
convencido do sucesso. Dias depois Vaccari foi preso. Conclusão: mentiu e
prestou falso testemunho. Dilma que voltava serelepe da reunião dos presidentes
das Américas no Panamá, sequer reagiu, isolando-se, numa demonstração de
perplexidade.
7. A decisão do TCU – que considerou as manobras fiscais realizadas
pelo Tesouro com o dinheiro dos bancos públicos federais como crime de
responsabilidade – radicalizou setores da oposição. Na sexta-feira, (17), o
ministro da Justiça, o advogado geral da União e o procurador do Banco central,
convocaram uma coletiva de imprensa, onde afirmaram que isso se faz desde 2001.
Com isso Lula foi chamado para o ring, além de FHC. Argumento, como se o crime
atual fosse perdoado pelos crimes anteriores. E sequer levaram um documento
para demonstrar. Aliás, esse jogo de descumprir a lei de orçamento em alguns
meses e corrigir nos meses seguintes, quase custou o mandato à prefeita Luiza
Erundina.
8. E o Lava-Jato avança.
9. É um impasse geral, onde não se vê luz no fim do túnel, onde não
há lideranças com autoridade negociadora, onde a oposição inverteu a estratégia
em relação ao mensalão, onde o governo não tem mais base parlamentar, onde seu
partido sai do governo para os sindicatos, onde a oposição só tem expressão
retórica, onde não há uma República do Galeão, onde as redes sociais não têm
foco. Aliás há um foco unificador das ruas e das oposições: Fora PT e Fora
Dilma, que agrava e não supera a crise política.
Título e Texto: Cesar Maia, 22-4-2015
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