Numa análise mordaz e sem
papas na língua, Rodrigo Constantino, conhecido economista e colunista
brasileiro, aborda as incongruências e hipocrisias da chamada esquerda caviar.
Não só expõe o fenômeno em si, como realça vários casos particulares de figuras
públicas – Chico Buarque, Bill Clinton, Michael Moore, Al Gore e Angelina Jolie
são apenas alguns exemplos.
“A austeridade tornou-se num
palavrão para muitos europeus. Entenda-se: ela exige um aperto de contas para
chamar o povo à realidade após anos ou décadas de euforia insustentável, de
prosperidade ilusória, sustentada à base de crédito farto. A Grécia foi o país
que mais sofreu essa onda. O seu grau de endividamento público é absurdo.”
Rodrigo Constantino
Prefácio de “Esquerda
Caviar”, edição portuguesa, por João Pereira Coutinho:
O Iluminismo continental
ofereceu ao mundo a figura do intelectual secular: o sábio racionalista que não
apenas interpreta o mundo como deseja, na célebre formulação marxista,
transformá-lo! Dito assim, a ambição não tem nada de especial: é legítimo
transformar o que não funciona; como é legítimo preservar o que mostrou a sua
utilidade ao longo do tempo. O problema só acontece quando as premissas são
invertidas: arrasar o que funciona em nome de uma «filosofia da vaidade».
A expressão pertence a Edmund
Burke nas suas Reflexões sobre a Revolução em França e lida,
em especial, com Jean-Jacques Rousseau. Seria possível respeitar alguém que
declarava um amor «abstracto» pela Humanidade – mas que tinha uma conduta
privada (e parental) simplesmente deplorável?
A pergunta de Burke, que
provoca um certo prurido em certos espíritos sofisticados, tocava num ponto fundamental
da reflexão ética: os homens devem ser julgados pelos seus exemplos – ou pelas
suas belas palavras?
Optar pelas palavras é sempre
uma decisão arriscada. Até porque não existe ditador ou sanguinário que, nos
seus discursos, não faça grandes apologias da liberdade, da igualdade e da
fraternidade – enquanto escraviza, empobrece e executa o seu povo tão amado.
Antes de nos deixarmos embriagar pela «tirania das boas intenções», talvez não
fosse inútil indagar o carácter do «profeta» que as vende.
Rodrigo Constantino, um dos
mais lidos e influentes liberais brasileiros, com presença regular na grande
imprensa do outro lado do Atlântico (as suas colunas na revista Veja e
no jornal O Globo são amadas e odiadas em partes iguais, como
convém a qualquer ser pensante), regressa a todos estes temas para escrever,
com pena afiada, sobre os novos «filósofos da vaidade». E essa tribo, em
sociedades mediáticas, está hoje confinada a artistas e «intelectuais» que
escolhem os temas politicamente correctos do momento para erguerem os seus
púlpitos e as suas carreiras.
Claro que, para sermos
rigorosos, existe uma questão prévia a todo esse circo: por que motivo devemos
levar a sério roqueiros ou actores mentecaptos quando eles desatam a criticar
as exactas sociedades «burguesas» e «capitalistas» que os alimentam
faustosamente?
Rodrigo Constantino ocupa-se
da questão para responder da forma mais certeira: o facto de alguém ter talento
para cantar ou representar não significa que essa competência seja extensível a
assuntos políticos e económicos. Se seria ridículo imaginar Milton Friedman ou
Friedrich Hayek a cantar rock’n’roll, não será igualmente ridículo,
para não dizer grotesco, ouvir com seriedade Bono ou Bob Geldof nas suas
divagações ideológicas?
Mas Rodrigo Constantino vai
mais longe e procura explicar as causas profundas que alimentam a «filosofia da
vaidade». A ignorância pode ser a explicação mais benigna – e, claro, mais
tratável. Mas não é de excluir que o ressentimento, o niilismo e aquele
«nojo-de-nós-próprios», feito de culpa e masoquismo, contribuam também para que
artistas e «intelectuais» persistam na nobre missão de «serem filhos de Marx» e
«transarem com a Coca-Cola», para usar as palavras de Robert Campos aqui
citadas com cirúrgica precisão.
Sem falar do óbvio: a
militância nas causas politicamente correctas – o antiamericanismo demencial; o
ódio visceral a Israel, a única democracia de todo o Médio Oriente; a defesa de
um multiculturalismo relativista que tudo aceita porque nada condena – é um precioso
oxigénio para qualquer conta bancária.
O livro de Rodrigo Constantino
é uma pièce de résistance contra o caldo mendaz em que vive o
progressismo radical. Mas é também um convite para que se escreva em Portugal
uma denúncia tão inteligente, corajosa e por vezes hilariante sobre os nossos
próprios «filósofos da vaidade». Exemplos não faltam.
João Pereira Coutinho, Lisboa, março de 2015
Relacionado:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-