Augusto Nunes
O PT julga que está em guerra.
É o que está escrito, com todas as letras, nas “teses” apresentadas pelas
diversas facções que compõem o partido e que serão debatidas no 5º Congresso
Nacional petista, em junho.
De que guerra falam os
petistas? Contra quem eles acreditam travar batalhas de vida ou morte, em plena
democracia? Qual seria o terrível casus
belli a invocar, posto que todos os direitos políticos estão em vigor e as
instituições funcionam perfeitamente?
As respostas a essas perguntas
vêm sendo dadas quase todos os dias por dirigentes do PT interessados, antes de
tudo, em confundir uma opinião pública crescentemente hostil ao “jeito petista”
de administrar o País. O que as “teses” belicosas do partido fazem é revelar,
em termos cristalinos, o tamanho da disposição petista em não largar o osso.
“Precisamos de um partido para
os tempos de guerra”, conclama a Articulação
de Esquerda em sua contribuição para o congresso do partido. Pode-se
argumentar que essa facção está entre as mais radicais do PT, mas o mesmo tom,
inclusive com terminologia própria dos campos de batalha, é usado em todas as
outras “teses”. Tida como “moderada”, a chapa majoritária O Partido que Muda o Brasil avisa que “é chegado o momento de
desencadear uma contraofensiva política e ideológica que nos permita retomar a
iniciativa”.
A tendência Diálogo e Ação Petista conclama os
petistas a fazer a “defesa dos
trabalhadores e da nação”, como se o Brasil estivesse sob ameaça de invasão, e
diz que as “trincheiras” estão definidas: de um lado, a “direita reacionária”;
de outro, os “oprimidos”. A chapa Mensagem
ao Partido quer nada menos que “refundar o Estado brasileiro”, por meio de
uma “revolução democrática” – pois o “modelo formal de democracia”, este que
vigora hoje no Brasil, com plena liberdade política e de organização, “não
enfrenta radicalmente as desigualdades de renda e de poder”.
Da leitura das “teses”
conclui-se que o principal inimigo dos petistas é o Congresso, pois é lá que,
segundo eles dizem, se aglutinam as tais forças reacionárias. O problema –
convenhamos – é que o Congresso representa a Nação, o povo. Se o Congresso
resiste a aceitar a agenda do PT, então a solução é uma “Constituinte soberana
e exclusiva”, cuja tarefa é atropelar a vontade popular manifestada pelo voto e
mudar as regras do jogo para consolidar o poder das “forças progressistas” –
isto é, o próprio PT.
Uma vez tendo decidido que
vivem um estado de guerra e estabelecidos quem são os inimigos, os petistas
criam a justificativa para apelar a recursos de exceção – o chamado
“vale-tudo”. O principal armamento do arsenal petista, como já ficou claro, é o
embuste. O partido que apenas nos últimos dez anos teve dois tesoureiros presos
sob acusação de corrupção, que teve importantes dirigentes condenados em razão
do escândalo da compra de apoio político no Congresso e que é apontado como um
dos principais beneficiários da pilhagem da Petrobrás é o mesmo que diz ter
dado ao País “instrumentos inéditos” para punir corruptos. Há alguns dias, o
ex-presidente Lula chegou ao cúmulo de afirmar que os brasileiros deveriam
“agradecer” ao PT por “ter tirado o tapete que escondia a corrupção”.
É essa impostura que
transforma criminosos em “guerreiros do povo brasileiro”, como foram tratados
os mensaleiros encarcerados. Foi essa inversão moral que levou o governador
petista de Minas, Fernando Pimentel, a condecorar o líder do MST, João Pedro
Stédile, um notório fora da lei, com a Medalha da Inconfidência, que celebra a
saga libertária de Tiradentes. A ofensiva dos petistas é também contra a
memória nacional.
Ao explorar a imagem da guerra para impor sua vontade aos adversários –
inclusive o povo –, o PT reafirma seu espírito totalitário. A democracia,
segundo essa visão, só é válida enquanto o partido não vê seu poder ameaçado.
No momento em que forças de oposição conseguem um mínimo de organização e em
que a maioria dos eleitores condena seu modo de governar, então é hora de
“aperfeiçoar” a democracia – senha para a substituição do regime
representativo, com alternância no poder, por um sistema de governo que possa
ser totalmente controlado pelo PT, agora e sempre.
Grifos: JP
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