quarta-feira, 15 de abril de 2015

O social-democrata

António Costa tenta introduzir há semanas um discurso em que se quer afirmar como social-democrata. Alucinante.
Sandra Clemente

O homem que há dois meses afirmou que " A vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha" tenta desesperadamente fazer uma reviravolta na sua estratégia, para ver se inverte os resultados. É natural. A economia grega começava a crescer quando Tsipras chegou ao Governo com o seu discurso radical. Hoje a Grécia prepara-se para viver de uma mesada da Europa, num regime que fará do país um Walking Dead. Costa percebeu tardiamente que, como ele próprio agora afirma, "Não é possível construir soluções nacionais de forma unilateral nem em conflito com a Europa e com as instituições Europeias". Agora diz-se da família política social-democrata europeia. Antes de chegar a esta conclusão pôs Ferro Rodrigues, subscritor de um manifesto que defendia a reestruturação da dívida, a líder parlamentar e afirmou vezes sem conta que o Governo não batia o pé à Europa. Lançou Sampaio da Nóvoa à Presidência, e agora a contragosto é obrigado a mantê-lo, e rodeia-se de Soaristas. O último, Vítor Ramalho, da velha esquerda que propôs para o CES.

Apesar da inflexão teórica Costa continua sem dar respostas e "dá uma no cravo outra na ferradura" diariamente. Não basta a experiência, ter sido presidente de câmara, ministro duas vezes, deputado e dirigente socialista. O País mudou, a Europa mudou. O que é que Costa defende hoje, como governaria o País? Os seus discursos são sempre iguais: "O Governo não aprendeu com os erros" e "os portugueses precisam de um novo governo em quem confiem". Apresenta-se ao lado de Manuel Valls, o primeiro-ministro francês conhecido como o socialista liberal, que aprovou reformas para aumentar a competitividade do tecido empresarial francês através de privatizações, da flexibilização dos despedimentos e da liberalização do acesso a profissões reguladas e acaba de propor uma diminuição do IRC para as empresas. O mesmo primeiro-ministro que disse, na semana passada, que em Portugal o desemprego baixou, as exportações aumentaram, as finanças públicas melhoraram. Que Portugal beneficia da confiança dos investidores que advém das reformas e são claramente fruto dos sacrifícios dos portugueses. Tudo isto, Valls assegurou a este jornal que fala regularmente com o seu amigo António Costa, o mesmo que no dia seguinte desfere um ataque ao Governo acusando-o de violar o consenso relativo ao SNS por utilizar mais hospitais privados e critica a baixa da TSU, fazendo alguns dos discursos mais radicais de esquerda de que há memória no PS contemporâneo.

António Costa não sabe ler o futuro. Apresentará o cenário macro económico para a legislatura para dizer que já tem Economia. E, neste discurso, começa a ir buscar pontas da filosofia económica do PSD. O quadro macro económico do PS terá por base o da Comissão Europeia traçado em cima dos benefícios da condução económica de Passos Coelho. Costa está num labirinto. Se apresenta um PIB a crescer terá como fundamento a política económica do Governo. Se o apresenta a descer é porque não tem ambição, nem soluções.

E se a Economia está a crescer porque escolheriam os portugueses uma fotocópia para os governar? 
Título e Texto: Sandra Clemente, Diário Económico, 15-4-2015

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