“Agora são
poucos os que concordam com a greve”
Fernando Santos, trabalhador
do grupo e autor de uma carta (abaixo) contra a greve enviada ao sindicato dos pilotos,
diz que não é apenas uma opinião pessoal, mas "a voz da maioria".
Foto: Mário Cruz/Lusa |
Vera Novais
Há cada vez mais sinais de
que nem todos os trabalhadores da TAP – nem sequer dos pilotos – estão de
acordo com a greve anunciada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC)
e prevista para 1 a 10 de maio. “São poucos os que, entre os mais de dez mil
trabalhadores, concordam com a greve”, disse mesmo Fernando Santos, trabalhador
do grupo, citado pelo Diário de Notícias.
Indignado com a atitude dos pilotos,
Fernando Santos enviou uma carta ao SPAC dizendo que: “Como trabalhador da
TAP, quero dizer-vos: basta. Chega
de olhar para o vosso pequeno mundo. Existe empresa para lá de vós.” Ao Diário
de Notícias o trabalhador da TAP explicou que não é uma opinião sua, “é a
voz da maioria”.
O SPAC acusa o Governo e a TAP não honrarem
“sistematicamente os compromissos a que se vinculam perante os pilotos”,
referindo-se em concreto a um acordo de junho de 1999 já considerado “ilegal e
inconstitucional pela Procuradoria-Geral da República, pelo que há
outros sindicatos que dizem que “não faz sentido falar em incumprimento de
acordo quando este só tem efeitos depois da privatização”.
O acordo a que estes
sindicatos se referem é o que saiu das negociações de dezembro
passado e que juntaram os sindicatos que ameaçavam fazer paralisações, o
Governo e a empresa.
Oito sindicatos de
trabalhadores da empresa vão reunir-se segunda-feira para analisar a greve. Há
até trabalhadores que, segundo o DN estão a ponderar formas de protestos contra
a greve.
O ministro da Economia, Pires
de Lima, já afirmou que não vai haver requisição civil porque não se reúnem as
mesmas motivações que foram encontradas em dezembro. O ministro apela a
que o sindicato tenha em consideração o prejuízo para a economia e para o
turismo. Segundo o DN, os sindicatos dizem que a TAP está a perder um milhão de
euros por dia desde que a greve foi anunciada e que as perdas podem chegar aos
70 milhões se a greve se realizar.
A carta enviada por
Fernando Santos aos colegas da TAP
“A todos os Colegas da TAP: se concordam com este apelo, se acreditam,
como eu, que não é apenas a TAP, é a nossa vida e a das nossas famílias que é
posta em causa por esta atitude insensata e egoísta, divulguem, partilhem esta
mensagem, para que o Sindicato dos Pilotos perceba que temos rosto, temos voz,
e já não nos conseguimos calar perante tamanha insensatez.
Caro Sindicato dos Pilotos,
Como trabalhador da TAP, quero dizer-vos: basta. Chega de só olhar para
o vosso pequeno mundo. Existe empresa para além de vós.
A TAP dá trabalho a mais de 7300 pessoas só na TAP SA, ou 10 800, se
considerarmos todo o Grupo TAP.
Todos contribuímos para a sustentabilidade da empresa, que é de todos e
não apenas de alguns. Todos os dias, milhares de pessoas, de todo o grupo TAP,
se empenham, com dedicação, para que a TAP ultrapasse os seus muitos desafios e
assegure a confiança dos nossos Clientes. Esta confiança não pode ser destruída
porque sem isso não há futuro para a empresa.
Em 2000, com a falência do Grupo Qualiflyer, o destino mais certo da
TAP era também a falência. No entanto, a empresa demonstrou a sua resiliência e
com a mobilização e empenho de todos os trabalhadores assegurou a
sobrevivência, duplicou a dimensão, tem hoje mais do dobro dos aviões, voa para
mais do dobro dos destinos e países, transporta mais do dobro dos passageiros,
duplicou o volume de vendas. Tudo isto pode ser destruído se insistirem em
extremar posições sem pensar no bem de todos mas apenas no de alguns.
Se existem dúvidas ou interpretações distintas relativamente a acordos
assinados em 1999, recorram aos tribunais, sigam as vias judiciais, mas não
hipotequem o futuro da empresa nem dos seus trabalhadores.
Se o setor do turismo ou a economia do país não vos diz nada, pensem
pelo menos nas mais de 10 mil pessoas do Grupo TAP e nas suas famílias.
A TAP não resiste a tudo por muito que insistam em pensar que sim. Nós,
as nossas famílias e tantos outros milhares que dependem da TAP, não queremos
ser apenas danos colaterais da vossa insensata teimosia.
Sindicato dos Pilotos: basta. Parem com isto enquanto é tempo.
A todos os Colegas da TAP: se concordam com este apelo, divulguem,
partilhem esta mensagem. Se esta greve se mantiver, teremos de ir ainda mais longe,
com uma demonstração no aeroporto – para a qual convidaremos todos os
portugueses – que faça com que o Sindicato dos Pilotos perceba que existem
rostos e vozes para além do seu pequeno mundo, que estão em completo desacordo
com tamanha insensatez.”
Texto: Vera Novais, Observador,
24-4-2015
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