Pimenta de Cochim, canela do
Ceilão ou cravinho das Molucas não foram os únicos tesouros cobiçados pelos
Portugueses na Ásia. Gemas preciosas e jóias cativaram, desde logo, os
primeiros aventureiros que desembarcaram das naus da Carreira da Índia. A
grande aventura do Oriente, feita por comerciantes, sacerdotes, aventureiros e
militares, foi alimentada pelo apelo das preciosidades orientais, “pelo amor do
dinheiro e afeição da pedraria”, no dizer de Fernão Mendes Pinto. Essa “vã
cobiça” que cabia num bolso de viajante, fosse agente, perito ou comerciante de
ocasião, todos confiantes no retorno lucrativo de um tráfico não controlado
pela coroa. Expansão e conquista territorial, foi também uma jornada
missionária que, longe do reino, tornou necessária a criação de instrumentos de
doutrina e novas alfaias para maravilhamento dos recém-convertidos.
Esse império de objectos
lavrados em prata e ouro nasceu da confluência artística de mundos diferentes,
estranhos e afastados, cada qual imprimindo uma marca própria, tornando-se
variação de modelos trazidos na bagagem de nobres e missionários. Circulação
dos modelos que se faz de Ormuz a Goa, descendo pelo Malabar, de Cochim a
Bengala pela costa do Coromandel, passando a Taprobana, mas também por esse
“Mediterrâneo” do mar da China, desde os estreitos de Malaca aos mares de Java
e que entra pelos rios da Ásia ao compasso das monções.
Dá-se a conhecer nesta exposição um impressionante conjunto de várias dezenas de peças de ouro e
prata, delicadamente trabalhadas e enriquecidas com preciosas gemas e esmaltes
de cores vibrantes. Objectos preciosos que não surgem isolados, para serem
fruídos apenas pelos seus méritos artísticos ou valor material, mas
contextualizados e enquadrados nas dinâmicas dos tempos que os viram nascer. Um
conjunto de obras que nos surpreende e que, como Mendes Pinto, nos levam a
dizer: que em meus dias nunca vi cousa tão maravilhosa.
Comissário da Exposição: Hugo
Miguel Crespo
Até 26 de abril de 2015
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