Cesar Maia
1. A crise econômica na Europa e seus inevitáveis desdobramentos
alteraram o quadro político e partidário nas democracias mais tradicionais e
mais sólidas. A Alemanha é uma exceção, pois nela a crise econômica apenas
tangenciou. A dialética da crise inverteu causa e efeito. As causas econômicas
produziram a crise política que, uma vez estabelecida, passou a ser causa num
segundo momento.
2. Nesse vácuo surgiram novos partidos estimulados pelo
nacionalismo lastreado na imigração e no desemprego, e outros, com forte
conotação de antipolítica, ou antipartidos políticos tradicionais, lastreados
nas redes sociais. Os exemplos de nacionalismos estão aí: UKIP, no Reino Unido,
o relançamento da FN na França, a ultradireita grega...
Os exemplos de novos partidos
criados a partir das redes sociais, da mesma forma: o MV5 na Itália, o Podemos
e Cidadãos na Espanha, a nova esquerda na Grécia (agora no governo)...
3. No Brasil, a tendência seria essa. A base da atual legislação,
construída anos atrás, tinha o bom propósito de evitar a pulverização
partidária e a inorganicidade. Partiu de cinco partidos na eleição de 1982 –
PDS (base do governo militar), PMDB (produto da fusão com o PP de Tancredo
Neves e Miro Teixeira, criado na época e que teve vida curta), PDT, PTB
(produtos de uma desfusão no PTB com a criação do PDT por Brizola) e o PT (com
base sindical e da esquerda ideológica) e chegou agora a vinte e oito partidos
no parlamento.
4. Com isso, a legislação foi sendo corrigida na mesma direção e
acentuada com a criação do PSD para ser linha auxiliar do governo no desmonte
da oposição e, agora, com a criação do PL, pelo mesmo motivo. Os partidos
reagiram e ampliaram os obstáculos à criação de novos partidos, tendo em vista
o uso daquele mecanismo para esvaziar os partidos existentes por indução
governamental.
5. Mas por sobre isso, as crises (econômica e política) e a opinião
pública estimulada por elas, estão criando no Brasil um ambiente semelhante ao
europeu, na busca de alternativas aos partidos atuais e de uma enorme força da
antipolítica que se expressa nas redes sociais e nas ruas – reais e virtuais.
6. A REDE, de Marina Silva, vai ser criada contra todos estes
obstáculos criados e terá como desafio construir um partido como alternativa de
poder sem contar com fundo partidário, tempo de TV e mobilidade de deputados.
As pesquisas divulgadas recentemente – em especial o Datafolha da semana
passada – mostram Aécio no mesmo patamar que teve no primeiro turno, mas Marina
despencando para 13%. Ocorreram focos de decepção que afetaram as expectativas
da REDE. A começar por seu secretário geral-coordenador que aceitou emprego na
CBF. E pelo PSB que se afirma descolado dela.
7. As fusões que se discutem (como a do DEM-PTB mais adiantada) são
caminhos para recriar expectativas e sinalizar alternativas. Pela experiência
europeia e alguns casos na América Latina, o ideal seria essa fusão com novo
nome. Mas aí entram as idiossincrasias e a tradição, que os deputados e
senadores atribuem a origem de seus mandatos. Não é simples aceitar mudar
nomes. Mas não resta dúvida que a fusão de partidos construindo um “novo”
parlamentarmente fortalecido é certamente um caminho.
8. Resta lembrar que no quadro atual e com a legislação restritiva,
abriu-se um caminho de crescimento para o PSOL com maior sintonia pela
antipolítica, pelo menos assim é percebido. O problema que enfrenta é que a
maioria parlamentar e de opinião pública atualmente no Brasil está mais para a
direita europeia (aí incluindo a antipolítica das redes sociais) e para a
esquerda.
9. Aguardemos a reforma política que poderá acentuar ou mitigar
tendências.
Título e Texto: Cesar Maia, 14-4-2015
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