terça-feira, 19 de julho de 2016

A ambição "esperta" será estimulada nas circunstâncias das eleições de 2016

Cesar Maia
1. Em fins de 1995, o ex-ministro do trabalho do presidente João Goulart, João Pinheiro Neto (falecido em 2006), dizia numa conversa política que o grande erro de JK foi não ter candidato à presidente na eleição presidencial de 1960. Lembrava, no Brasil, apenas nas eleições o eleitor se interessa pela política, e que um governante se ocultar no processo eleitoral para sua sucessão é apagar a memória mesmo dos melhores feitos.

2. Uma prática que vem crescendo no país é um governante bem avaliado não participar da eleição de sua sucessão, com candidato de seu partido com expectativa de derrota, de forma a que volte a ser candidato na eleição seguinte sem ter que levar a marca de derrotado na eleição anterior.

3. Um vetor desta prática é um governante em final de mandato olhando para uma eleição subsequente, num quadro de dificuldades para a eleição do candidato de hoje de seu partido, simular sua participação mas na verdade jogar para a derrota de "seu" candidato.

4. Uma versão mais radical disso é quando o governante escolhe um candidato seu para perder e conta com a incapacidade do governante que o sucederá para ser exaltado depois por comparação. E então ser candidato na eleição seguinte.

5. Outra versão disso, essa mais, digamos, esperta, é quando o governante, aspirando um posto de governo mais alto em que seu partido governa hoje em situação de grande desgaste, jogar para perder na eleição atual e já definir um projeto novo.

6. Ou seja, após a eleição perdida para sua sucessão, troca de partido, de forma a que não carregue o desgaste de seu partido na gestão de hoje, do governo que pretende disputar amanhã. Muitas vezes a negociação – discreta - com o partido para o qual se mudará após a atual eleição já ocorre durante esta.

7. Na eleição para prefeito em 2016 isso já está ocorrendo. O desgaste do PT nacionalmente e de outros partidos em gestões estaduais em estados falidos levarão a prefeitos de hoje, com pretensão a governador em 2018, a optar por uma destas alternativas espertas.

8. Na primeira hipótese, o caso JK, a omissão afetou a memória política da opinião pública. JK não contava com isso. E na eleição indireta do general Castelo Branco votou a favor deste como senador.

9. As demais hipóteses citadas acima dependem das circunstâncias. E as circunstâncias de hoje em nível nacional e de vários estados estimularão a omissão, a participação simulada ou a troca de partido a seguir. 
Título e Texto: Cesar Maia, 19-7-2016

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