quarta-feira, 7 de março de 2018

Um Oscar chato e “lacrador”; ou melhor: chato porque “lacrador”!

Rodrigo Constantino

Ninguém aguenta mais as celebridades milionárias com suas vidas disfuncionais e tantas vezes regadas a drogas bancando as vítimas e pregando moralismo barato para milhões de pessoas, como se todos fossem uns alienados que necessitassem das lições incríveis de “diversidade” e “tolerância” desses “ungidos”. Em português claro: já encheu o saco!

E o Oscar, claro, é o ápice dessa postura politicamente correta, “progressista”, arrogante e pentelha da esquerda. A reação tem sido na audiência: menor a cada ano. Nesse ano de 2018, numa cerimônia pra lá de chata e “lacradora”, foi simplesmente a pior audiência da história! E olha que o Oscar é nonagenário. Estava, portanto, assistindo a Fox News, como alfinetou o apresentador e humorista Jimmy Kimmel.

Os “progressistas” acham mesmo que representam a vanguarda, o futuro, o que há de mais moderninho. O Segundo Caderno do GLOBO, por exemplo, deu destaque positivo a essa cerimônia insuportável, justamente apontando para o “futuro”, segundo o jornal:


Rumo ao século XXI? Hollywood se “moderniza”? Eis a interpretação de quem acha que modernidade deve ser sinônimo de “lacração” politicamente correta. Por um lado, sem dúvida o Oscar esteve em sintonia com o Zeitgeist, com o “espírito do tempo”, mas não com o povo. É a mentalidade das elites “progressistas”, aprisionadas em suas bolhas.

João Pereira Coutinho, em sua coluna de hoje na Folha, falou justamente disso, concordando que Hollywood tem sido “escrava do tempo”, mas que isso não é algo positivo, e sim negativo, que mata a arte pela arte, que substitui a estética pela ideologia. Diz ele:

Semanas atrás, o historiador português Rui Ramos escreveu no site Observador que, nos prêmios das diferentes indústrias, ninguém discutia a “qualidade” dos produtos. O que interessava era saber se os filmes ou as músicas obedeciam a critérios de “representatividade”.

Por outras palavras: mais importante do que saber se o filme X valia como obra cinematográfica era saber qual o sexo do diretor Y ou a etnia do ator Z. Concordo com o meu ilustre compatriota. Basta olhar em volta para perceber que as preocupações estéticas deram lugar à retórica repugnante da ideologia.

[…]

Grande parte da cultura popular é uma forma tosca de propaganda. O livro, o filme ou a peça de teatro já não obedecem a critérios estéticos ou intelectuais do criador. As obras ajustam-se a uma cartilha tão autoritária, atrasada e brega como as propagandas do passado.

Sim, não temos denúncias de “negritude”, “bolchevismo cultural” ou “decadência burguesa”. Mas, no seu lugar, surgem os pecados do “machismo”, da “heteronormatividade” ou da “misoginia”. O fim é o mesmo: a abolição da liberdade individual pelo fanatismo da tribo. Perante isto, a pergunta leninista: o que fazer?

Pessoalmente, tentar remar contra os novos bárbaros – ou, inversamente, pensar e criar como se eles não existissem. É a única forma de proteger a integridade da arte.

Até porque há uma lição consoladora na história da propaganda: os bárbaros acreditam que têm o “espírito do tempo” do seu lado. Fatalmente, quando lemos os seus nomes em livros esquecidos, nenhum deles legou uma obra que mereça dois segundos de atenção. Faz sentido: quem é escravo do tempo morre com o tempo.

No mesmo jornal [Folha de São Paulo], Joel Pinheiro, que tem simpatia por várias ideias “progressistas”, também reclamou da cerimônia:

Fui envenenado pelo politicamente correto. A cada indivíduo que não era homem, branco e heterossexual a subir no palco do Oscar neste último domingo, uma vozinha malvada objetava dentro de mim: só foi colocado ali para cumprir a agenda política da gente fina, elegante e sincera de Hollywood. Em outras palavras, para “lacrar”.

Meu cinismo teve mesa farta. Política sempre esteve presente no Oscar, mas agora ocupa o primeiro plano. Foi um verdadeiro festival de diversidade, inclusão e discursos engajados.

Homossexuais, negros, transexuais, mulheres, mexicanos; recebendo e entregando prêmios. Se for o resultado de uma sociedade com mais oportunidades para todos, ótimo. Se for só a Academia preenchendo cota, não significa nada.

[…]

Vencedor de melhor filme e melhor diretor, “A Forma da Água” é a vitrine perfeita da cerimônia: diversidade, machismo, imigração, preconceito, vítimas de opressão: está tudo lá, da produção à moral da história. 

[…]

Ao colocar o aspecto político no centro, o Oscar perde sua razão de ser. Fica mais chato, menos arriscado, com mais cartas marcadas e tapinhas nas costas. Será o espectador comum um monstro por não desejar quatro horas de edificação moral vinda das bocas mais privilegiadas e paparicadas do planeta? Podemos condená-lo ou não, mas uma coisa ninguém poderá tirar dele: o direito inalienável de mudar de canal.

Sobre o filme vencedor, comentei em minha página do Facebook:


E olha que ainda deixei de fora várias coisas! Como, por exemplo, o vilão ser homem, branco, cristão, ícone de uma típica família de classe média americana que sonha com mais conforto material e status (compra um Cadillac), e que oprime sua mulher durante o sexo. Ou a “forma” do amor se referir, claro, ao aspecto do gênero, transmitindo a mensagem “subliminar” de que qualquer forma vale (inclusive a animal?). Clichês “progressistas” do começo ao fim, nada mais.

O desejo de “lacrar” tem afundado Hollywood. Não se faz arte decente, tampouco se reconhece uma, quando se tem em mente apenas o foco político-ideológico, deixando em segundo ou último plano os aspectos estéticos, técnicos, dramáticos, e a própria busca do transcendental, contra o efêmero do cotidiano. Ao se enquadrar só no efêmero dos “tempos modernos”, esses “artistas” serão esquecidos já “amanhã”. É o prêmio de consolação para quem não suporta mais tanto “lacre”…
Título, Imagens e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 6-3-2018

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