Aparecido Raimundo de Souza
O
CASAMENTO É, ACIMA DE TUDO, um ato solene, uma legitimação religiosa que remonta desde
os tempos de Rebeca. Para quem não conhece a Bíblia, Rebeca era filha de Betuel,
irmã de Labão (o lambão) mulher de Isaque e mãe de Jacó e Esaú. Perdão, senhoras e senhores. De Esaú e Jacó,
da linhagem de Machado de Assis. Para completar, sobrinha de Sara, de quem
dizem as bocas ferinas, teria herdado a raridade esfuziante da beleza
inigualável. Aliás, foi ela, Rebeca, quem montou com sua cauda volumosa num
belo e vistoso camelo, o Palocci, para comparecer a uma cerimônia. E quem
estava se enforcando nessa cerimônia? Ela mesma. E por quê?!
A explicação é fácil. Temendo ficar para titia, Rebeca
resolveu pular e se dar em núpcias, com todos os dotes que possuía, nos braços
de Isaque. Esse varão, Isaque, descendia de Abrão e Sara e para tumultuar a
história, pai de Jacó e Esaú. Desculpem. Padrasto de Esaú e Jacó. Só para
lembrar, o pai verdadeiro dos dois, Machado de Assis. Deu até romance. Nesse
balaio de gatos, errou feio quem respondeu Tiradentes. Tiradentes? O que Tiradentes teria a ver com
tudo isso? Nada. Mencionamos alguém estar se enforcando. E registramos que
Rebeca foi a uma cerimônia.
Recapitulando, amados e amadas. Quem se enforcava? Ela
mesma, Rebeca. Rebeca desposou Isaque. Bem da verdade Rebeca jamais soube que
existiu uma cidade chamada Ouro Preto e que essa cidade ficava em Minas Gerais,
ou que alguém chegou a perder o pescoço por aquelas paragens. Menos ainda ouviu
falar, nem por ouvir dizer, na figura de Tiradentes. Pois bem. Também não é de
agora que os varões, antes de se tornarem conjugais de papel passado e
carteirinha de identificação procuram, como agulha no palheiro, as verdadeiras
qualidades de uma esposa perfeita. Se algum curioso tiver a paciência de
pesquisar, verá que a busca do homem pela companheira ideal (a sem nódoas, a
casta e inimitável), vem sendo perseguida desde os primórdios da criação do
macaco do rabo cotó.
Em paralelo, a sacanagem do enlace dos pares para se
harmonizarem como manda o figurino, passou a ser encarado como instituição
falida desde o Édem, passando por Abraão, que depois de minar a paciência de
Sara, cantou para ela aquela música do cearense Belchior (“Saia do meu caminho,
eu prefiro andar sozinho, deixa que eu decida minha vida...”), se encantou e
passou a meter bala em uma tal de Quetura. Isso porque ela, jovem fogosa e
extremamente quente, incendiava os corações de quem dela se aproximava. Daí a
denominação de seu patronímico. Quetura. É bom que se diga, Quetura, apesar de
“chamosa” (de chama), não guardava nenhuma relação direta ou indireta com
aquela que atura. Depois de Quetura (que por sinal não aturou Abraão muito
tempo) levou o mal-amado a desposar a esfuziante Agar.
Agar, coitada, trabalhava como serva egípcia de Sara, esposa
de Abrão. Agar lembrava a Dilma Rouboussett, nos tempos em que a fulaninha
atuava como guerrilheira e anos, anos, muitos anos depois, tomou uma pernada do
anjo decaído do paraíso celestial, Michel Temer. Agar, antes da pernada de Temer,
deu umazinha com Abraão e fez um filho com ele, que veio a se chamar Ismael.
Falemos, agora, um pouquinho de Adão. Essa criatura
aparentemente humilde e pacata, de concreto, um verdadeiro tarado. Taradão, até
dizer chega. Para início de conversa, viveu maritalmente com Eva. Teve uma
penca de filhos, todavia, juridicamente falando, perante a lei de Deus, nunca
chegou a esposar Eva como mandavam (ou como mandam, até hoje), os padrões da
Santa Madre Igreja Romana. Não fosse pouco, Adão cometeu alguns crimes bárbaros
(que hoje seriam punidos pelo Código Penal), entre eles os de manter relações
com as próprias filhas (Incesto).
Depois do nascimento de Caim e Abel (que só ficaram famosos
por causa do primeiro homicídio, onde, nesse evento, Caim Matou Abel com uma
ossada de tromba de elefante) o jovem lavrador fugiu (Meu Deus fugiu de quem?).
Não importa. Por fim, Caim tropeçou, como o pai, em adultério. Nessa fuga levou
uma mulher (uma das irmãs) que ficou sendo, logo em seguida, sua esposa. Eva,
no mesmo caminho, se deitou com um Cobro Macho, cobro descarado, safado, que
apareceu do nada, e fez a pobrezinha comer da fruta da árvore proibida. Dizem as línguas que não cabem nas respetivas
bocas, Adão, após saber da traição da Eva com o Cobro Macho, teve coragem de se
deitar com uma das filhas e, de raiva, palitar os dentes com as pregas da
bundinha de um anjo meio abichado que guardava a porta do paraíso. O nome do
anjo? Luiz Inácio Lula da Silva.
Outro que não ficou por baixo: Jacó, o liso, como era
conhecido entre seu povo. Não contente em mandar brasa na filha mais moça de
Labão, irmão de sua mãe, Rebeca, coabitou, com a maior cara de pau, igualmente
com a mais velha, a Léia. Não satisfeito, por detrás dos olhos de Labão, botou
chifres adoidados nas duas, traindo as sobrinhas com as servas da família Zilpa
(a do nariz pequeno) e Bila (a empregada de Raquel), que se diga de passagem,
não podia ver um bilau dando sopa que dava logo vontade pular em cima. Em
consequência dessa vontade incontida, Raquel, não podendo conceber um rebento,
deu-a de presente a Jacob. Com Jacob, Bila teve dois filhos: Dan e Neftali.
Mais tarde, Dan mudou de nome e virou escritor. Escreveu o “Código da Vince”.
Neftali virou Naftalina e hoje serve para espantar pequenos insetos rasteiros
dentro de guarda-roupas.
No fundo, caros leitores e amigos, Jacó carregava uma mágoa
profunda. Não gostava de seu irmão Esaú porque ele tinha o corpo todo coberto
de pelos. Parecia um orangotango. Virou personagem famoso, num dos livros do
gaúcho Luiz Fernando Veríssimo, “Boris e os orangotangos eternos”. Jacó, ao
inverso, não tinha pelos. Nascera liso de corpo e bolso. Pior, feito minhoca malnutrida.
Essa história esquisita de ter pelos e não ter mexeu muito com a sua cabeça.
Tanto, mas tanto, que planejou uma vingança. E qual foi? Isaque passou a mão na
ferramenta de trabalho e sem pensar nas consequências, extravasou o seu ódio e
a sua raiva futricando intermitentemente a cunhadinha, cujo nome de batismo era
Violinha, irmã da sua ex, Rebeca.
Insatisfeito, esfolou o traseiro de Zilpa, ora enfiando o pé
de mesa no buraco da Bila e enquanto descansava, bolinava Léia e ainda
chacoalhava a caveira com a outra irmã, a Zolpa. Zolpa não é uma figura muito
citada nas Escrituras. Apesar dessa falha, registrou-se que cortou os
pendurados de Isaque e os atirou para os cachorros. Dão conta, ainda, os
escritores da Bíblia, que esses cachorros morreram, mês seguinte,
envenenados.
Não podemos esquecer também de Esdras. Coitada de Esdras.
Chegou a rasgar as vestes, ficar com a bunda de fora, além de arrancar um por
um os fios de cabelos, ao saber que a maioria do seu povo estava casando com os
pagões (não confundir com apagões), ou seja, seu povo estava se aliançando com
aqueles que “pagavam” alguma coisa a alguém. Com certeza, naqueles tempos,
algum parente de Wesley Batista (ainda que em linhagem distante) existia e vivia
de pequenos negócios escusos, como abrir contas fantasmas para lavadores de
dinheiro em ilhas afrodisíacas e bancos suíços.
Finalmente, o mais cara de pau nessa história toda foi, sem
dúvida alguma, Salomão. Chegou a ter setecentas mulheres e trezentas
concubinas, num total de mil “carnes de mijo” a sua disposição, sem
mencionarmos as periquitas das sirigaitas com as quais levou para detrás das
moitas de alfafa, sem que se tenha sido registrado algum flagrante. Em sua
época, só os cavalos e jumentos viviam atrás de um bom punhado de alfafa. Final
do folhetim: Salomão saiu pela tangente, e para encurtar conversa, acabou
pegando um pobre coitado, um Zé Mané da vida, para otário, ou seja, para ser
servido à posteridade, numa bandeja com molho pardo e creme de papaia e recheio
de Sergio Moro como bode expiatório. Nome do babaca: Lameque.
Esse infeliz, em parte, até que se deu bem. Acabou como
machão assumido, comedor inveterado, sujeito forte, bom de cama, um espada,
dono de um facão entre as pernas para vagabunda nenhuma ver defeito e apontar
falhas de fabricação. Veio, pois, à glória, o abestado, como o primeiro trígamo
que se tem notícia. O mais hilariante nessa fofocaiada toda: Lameque embora lhe
sejam atribuídos todas essas qualidades indispensáveis a um homem capaz de
satisfazer uma centena de donzelas de uma só vez, comentavam, tinha um pintinho
de anjo, como o de um garoto de dois anos.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, jornalista. De São Paulo, Capital. 26-6-2018
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Parabéns! Texto maravilhoso, uma mistura de personagens era antiga com os atuais, bela comparação, um pouco doido um pouco maluco mas quem não é um pouco das duas coisas. Muito bom, impecável. Carla
ResponderExcluirNão me contive.
ResponderExcluirEssa historieta é pior que o livro "Marimbondos de Fogo".
Deturpar a história comparando com lixos e vermes de nosso cotidiano, horrível é pouco.
SOU ATEU e não uso "graças a deus".
Quando me dizem:
- Vá com deus.
Respondo:
- Vá você primeiro, não estou com pressa.
Jamais devemos ridicularizar os preceitos religiosos ideológicos de outrem.
Nada há de comparação, apenas lixo prolixo.
fui...
Perdão , mas este texto é como servir "strogonoff" com feijão,em pratinhos plasticos ,acompanhado de suco em pó!
ResponderExcluirPor mais talento que tenha o "chefe" - e tem, além de um português eclético - , ao levar a mesa tal combinação com certeza não agradará aos convivas.
Pão que bate em chico , fere Francisco!
ResponderExcluirComplementando o comentário , acabei me deixando levar pela surpresa do texto e postei o meu com falha ,maior que a criticada.
Sem revisão e com português de boteco. Apanha paizote!
Não pretendi ser grosseiro e sei que o criador do texto cima,é pessoa de qualidades literárias em muito superior a minha , além de revisor/ jornalista respeitado , uma criatividade invejável.
Mas, tem um gosto estranho e peca por ser prolixo , quando devia encurtar alguns textos.
paizote
Viva a liberdade de expressão! Ainda existente nos países de cultura judaico-cristã, onde é possível ridicularizar Deus, a bíblia, o cristianismo... Ao contrário da falta de liberdade em países de outra cultura religiosa...
ResponderExcluirREALMENTE DAMOS VIVAS.
ResponderExcluirA liberdade de expressão é direito fundamental e recebe ampla proteção na Constituição Federal,MAS, ela tem direitos fundamentais definidos previstos no ordenamento jurídico.
A liberdade de expressão deve ser protegida quando as ideias ou opiniões forem desagradáveis, ofensivas, comparativas de escárnio ou que contrariem o senso comum e os interesses de determinados grupos religiosos socialmente conviventes.
Questionar o sagrado ou criticar dogmas de fé, em público ou no ambiente privado, desde que não TENHA POR OBJETIVO propagar ou RIDICULARIZAR a inferioridade de certas pessoas ou grupos, está compreendido no direito à liberdade de opinião e de expressão.
Acho os religiosos idealistas, mas eu os respeito.