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Altar tradicional do Dia dos Mortos em Milpa Alta, México DF. Foto: Eneas de Troya |
Moro numa cidade americana que
já pertenceu ao México. A região que inclui a “cidade dos anjos”, fundada pelos
colonizadores espanhóis em 1781, só foi incorporada aos EUA em 1848. Temos aqui
laços históricos, culturais, sociais e políticos com os mexicanos e é triste
ver o passo que estão seguindo ao optarem por um presidente de inspiração
chavista depois de quase duas décadas de desastrosas experiências semelhantes
em quase todo continente.
A derrota para o Brasil na
Copa do Mundo ontem vai passar, mas López Obrador fica. Por mais otimistas que
fossem, os mexicanos sabem da própria “maldição do quinto jogo”, repetida pela
sexta vez seguida na Rússia. O México nunca levantou uma taça de campeão do
mundo e com certeza saberá superar a decepção de segunda-feira, mas o caminho
chavista que saiu das urnas no domingo promete agravar ainda mais os problemas
de um país já dominado por cartéis de drogas, violência e miséria.
Tudo isso acontece num momento
em que os EUA resolveram, depois de oito anos de importação em massa de
eleitores para o Partido Democrata, levar a sério suas fronteiras. Continuamos
tendo aqui o país mais atrativo e receptivo para imigrantes do mundo, sou
testemunha viva disso, mas o plano de mudança radical do perfil demográfico
daqui, patrocinado por corporações ávidas por mão-de-obra barata, celebridades
de miolo mole e políticos oportunistas, finalmente parou. A América voltou a
ter um governo que, vejam vocês, pensa na América, o que anda chocando o mundo
das redações progressistas.
Um dos fetiches que mais me
incomoda na política é o mantra da tal “renovação”, como se novos nomes fossem
necessariamente melhores. Precisamos de novas ideias, independentemente da
idade do portador, até porque o que não falta é jovem com bandeiras de um certo
velho barbudo alemão que nasceu há duzentos anos. O México precisa
desesperadamente de renovação política, mas não qualquer uma. Requentar o
chavismo num país com tantos problemas, tão grande e complexo, é uma
irresponsabilidade que pode custar muito mais caro que o tal muro.
Imigração é um assunto que
merece um tratamento mais sério do que a gritaria dos últimos tempos,
basicamente de gente mal informada ou mal-intencionada. Um país que não cuida
das suas fronteiras, que não tem fronteiras, por definição não é um país. E
quanto mais atrativo o país for, mais cuidado tem que ter para não cometer
suicídio. Imigração sem assimilação é invasão, frase que você já deve ter
ouvido por aí e sequer deveria ser polêmica.
López Obrador não esconde a
que veio: fim das privatizações, “recuperação” da PEMEX, a Petrobras de lá,
perdão para traficantes e todo pacote assistencialista que você pode imaginar.
Estatismo, demagogia e assistencialismo, aquelas idéias tão populares em
redações e mansões mas tão danosas para população. Obrador é um Ciro Gomes com
anabolizantes, um Guilherme Boulos com mandato, um Lula livre.
Garanto que o resultado dessa
eleição deu um frio na espinha de qualquer americano que esteja prestando
atenção nos últimos acontecimentos e não na histeria de grande parte do atual
jornalismo, ou assessoria de imprensa do Partido Democrata, como preferir. Não
tenho dúvida que mesmo as viúvas de Obama, personagem mais que comum aqui na
Califórnia, estão secretamente agradecendo a Deus por algumas medidas que a
Casa Branca anda tomando. Obrador é um cabo eleitoral involuntário de Trump e o
Partido Democrata sabe disso.
Desejo sinceramente que os
mexicanos não sofram nas mãos do chavista que resolveram chamar de seu, mas as
chances de desastre não são pequenas. Como não sou candidata a santa, em minhas
orações não vou incluir Miguel Layún, o lateral que pisou em Neymar fora de
campo, ou o deselegante técnico Juan Carlos Osório, que os deuses do futebol
sabiamente mandaram de volta para casa mais cedo. Derrota e atitudes
vergonhosas em campo, mas a goleada contra o México virá desse olé das urnas.
O Dia dos Mortos, a famosa
festa nacional mexicana, faz uma linda homenagem aos antepassados, mas o que se
viu no domingo no México foi uma comemoração de ideias que já deveriam estar
mortas, enterradas e exorcizadas. Em vez de acender velas para os entes
queridos que partiram, os mexicanos resolveram evocar o fantasma de Hugo
Chávez. O que pode dar errado? Infelizmente, nós estamos cansados de saber.
Título e Texto: Ana Paula Henkel, Estado de S. Paulo, 4-7-2018
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