Aparecido
Raimundo de Souza
LIGUEI
PARA O SAC,
Serviço de Assistência ao Consumidor, em face de uma caixinha de cotonetes que
comprei na farmácia.
No segundo toque, uma jovem de voz
agradável me atendeu:
- Bom dia, senhor. Meu nome é Márcia.
Em que posso ajudá-lo?
Falei:
- Bom dia. Estou com um problema com um
cotonete que adquiri de vocês agora pela manhã, na farmácia aqui perto de casa.
- Que problema, senhor?
- Assim que abri a caixinha e me dispus
a usar uma unidade, o algodãozinho que fica na ponta, se soltou...
- Não entendi, senhor. Pode, por favor,
repetir?
- O algodãozinho da ponta se soltou...
- Entendi. Senhor, o algodãozinho da
haste se soltou. De qual das pontas, o senhor saberia precisar?
- Não.
- As nossas “cotonelas” são flexíveis e
inquebráveis...
- Eu sei, filha. Quanto a isso, não
tenho a menor dúvida. O que estou tentando lhe dizer é que a que pretendia
usar, soltou o algodãozinho da ponta.
- Perfeito, senhor. Entenda. As nossas “cotonelas” são flexíveis
e inquebráveis. Os algodões que revestem as cabecinhas das hastes são macios e
absorventes...
Comecei a ficar nervoso.
- Senhorita, me ouça com atenção. De
tudo isso eu sei. Não precisa repetir. Liguei para vocês, para informar que ao
abrir a caixa de cotonetes o algodãozinho que fica na ponta...
- Ok, senhor. Entendi!
- Então, o que eu faço?
- O senhor não respondeu a uma
indagação que fiz. De qual ponta da haste o algodãozinho saiu?
- Como vou saber?
- Senhor, nossas “cotonelas...”.
- Pelo amor de Deus... de novo não.
- Calma, senhor. Deixa terminar. Se
formos por esse caminho não chegaremos a um acordo.
- Tudo bem, prossiga.
- De qual lado da haste, insisto... de
qual lado da haste, o algodãozinho se soltou?
- Filha, não sei. Não existe nada que
demarque os lados.
- O senhor concorda que elas têm duas
bandas distintas?
- Concordo plenamente.
- E quando o senhor introduziu – devo
imaginar que para fazer a limpeza de um dos ouvidos, o algodãozinho se soltou.
Correto?
- Correto...
- Pois então, repare. Na embalagem vem
escrito que não se deve introduzir as hastes no canal dos ouvidos externos.
Digo internos. Está seguindo meu raciocínio?
- Estou. Continue...
- O senhor deve manter o conteúdo fora
do alcance de crianças. O senhor tem filhos?
- Querida, como é mesmo seu nome?
- Márcia, senhor. Em que posso ajudá-lo?
- Princesa, preste atenção. Agora cedo
fui usar um dos seus cotonetes e o algodãozinho de uma das pontas...
- O senhor já relatou esse fato. Ponto
pacífico. Gerei um protocolo de atendimento. Por favor, queira anotar... 8...
5... 2...
Meu lado animal, de repente, aflorou:
- Senhorita, por tudo quanto é mais
sagrado, me ouça. Não quero saber de número de protocolo.
- Tudo bem. Esqueçamos o protocolo.
Voltando às “cotonelas”, devo lembrá-lo que as nossas hastes são de
polipropileno, algodão embebido em hydoxyethyl celuloseado com solução
antimicrobiana (ou cloreto de benzalcônio). As nossas “cotonelas”, como um
todo, têm validade de três anos, a partir da data da fabricação. O senhor olhou
no recipiente em que vieram se a data de validade está dentro do período
pré-estabelecido pela embaladora, perdão, pelo fabricante? Outra coisa...
Interrompi colérico, completamente fora
de mim:
- Minha fofa e elegante Marcinha...
gatinha linda... posso dizer uma coisa que está entalada na minha garganta para
terminar nosso papo?
- Sinta-se à vontade, senhor...
Quando ensaiei um baita palavrão bem
cabeludo para dizer a ela, e, de roldão, mandar enfiar as informações das tais
“cotonelas” com protocolo e tudo naquele lugar, meu telefone desligou. A
bateria havia acabado.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, jornalista. Do Hospital Meridional, Serra, Espírito
Santo, ES. 24-7-2018
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