Sérgio Barreto Costa
Não sei ao certo qual é o
tamanho da ambição política de Nuno Melo [foto]. Contudo, ao escutar os seus
críticos na semana passada, estou certo de que poderá chegar, caso tenha
vontade, aos mais altos cargos do país. Poucos minutos depois das primeiras
notícias sobre o lançamento da campanha do CDS às eleições europeias, já a
esquerda aguerrida tratava o eurodeputado centrista como um perigoso nacionalista,
racista e xenófobo. É certo que o embaixador Francisco Seixas da Costa, mais
moderado, se limitou a caracterizá-lo como populista e anti-imigrantes; e que o
deputado João Galamba, mais espirituoso, apenas lhe chamou, com sotaque
italiano, Nuno Melvini. No entanto, salvo honrosas excepções, o tom andou à
volta do “Viktor Orbán minhoto”, o que constitui, além de uma boa base de
trabalho para uma eventual geminação entre o goulash húngaro e as papas de
sarrabulho, um excelente prognóstico eleitoral para Nuno Melo.
A primeira coisa que salta à
vista nestes exageros retóricos é a típica modéstia portuguesa. “Trump de
Famalicão”, por exemplo, é uma expressão que menoriza o político luso e a terra
que Camilo Castelo Branco escolheu para enfiar uma bala na cabeça. Uma esquerda
com autoestima patriótica diria que Donald Trump é o Nuno Melo da Quinta
Avenida; como diz o inverso, colocando o presidente dos EUA no distrito de
Braga e não o vice-presidente do CDS em Nova Iorque, continuamos a alimentar
hipérboles com a síndrome da pequenez, o que representa a desajustada
intromissão do oximoro num contexto em que uma figura de estilo seria
suficiente.
Mas o que disse, afinal, Nuno
Melo para ser presenteado com tais considerações? Apenas isto: “o espaço europeu
pode ser um destino de acolhimento para outros povos, mas estes devem respeitar
as nossas leis, valores e costumes, de forma a não nos sentirmos sequestrados
na nossa casa”. Ou seja, parece que Nuno Melo não defende a atribuição
automática da cidadania europeia a todos os seres humanos que habitam a
superfície terrestre. É, de facto, um horror. Qualquer dia, se lhe derem poder,
ainda o vamos ver a sugerir a criação de passaportes e de um Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras.
E esse dia talvez esteja próximo.
Agora que aqueles que se dedicaram até há bem pouco tempo a comparar Angela
Merkel com Adolf Hitler se viraram para o candidato do CDS, este pode sentir-se
abençoado pelo quase infalível toque de Midas eleitoral. Para já, que ainda
vamos no aquecimento do absurdo, nada está garantido, mas assim que Salazar for
chamado ao barulho, Nuno Melo pode tratar de encomendar os foguetes.
Título e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias,
25-7-2018
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