sexta-feira, 27 de julho de 2018

[Aparecido rasga o verbo] Em rota de colisão

Aparecido Raimundo de Souza

ESTAMOS TODOS, INDISTINTAMENTE, embarcados num avião de grande porte, nos moldes de um Airbus A-380, sem os pilotos na cabine de comando. O destino desse voo é duvidoso, ambíguo, confuso e enigmaticamente tenebroso.

Ventos desfavoráveis vindos de todos os quadrantes fazem com que a aeronave sofra, de través, uns baques estranhos, como se estivéssemos num imenso elevador de um prédio muito alto que, de repente, se soltasse lá de cima.

Que despencasse vertiginosamente sem amarras, sem correntes, sem algemas e freios e, no minuto seguinte, se estabilizasse como num passe de mágica e deixasse de se degringolar espatifando a carcaça de setenta e três metros de comprimento num chão duro de terra batida.

Assim, é o Brazzil. Uma espécie de superjumbo. O mesmo que até algum tempo podíamos, sem receio algum, chamar de lar. Nosso cantinho de amor. O Brazzil que nossos pais nos legaram tantos anos passados. O mesmo que agora nos tira o sossego, a esperança, a tranquilidade e a paz.

Aqueles a quem chamamos vergonhosamente de governantes (ou nossos mandatários...) são figuras irreais, fictícias e ilusórias. Indivíduos com semblantes distorcidos, alterados, falseados. Cafajestes e ladrões, pilantras e salafrários que lembram um acúmulo de monstros malignos e espiritados que nos querem devorar as carnes e os ossos a qualquer custo.

Para esses crápulas do poder, não passamos de um bando de palhaços e bufões, de arrelias e girafales correndo como bois soltos nos pastos do acaso, ao descaso dos imprevistos, a procura de empregos idôneos, de hospitais que nos recebam com dignidade, de uma segurança pública que nos permita andar pelas ruas e praças sem medo de molestações e acabrunhamentos.

Passamos a vida inteira em busca constante de um horizonte mais patriótico, de uma amplidão que não seja artificial, postiça, dissimulada. Queremos um destino que não se esconda que não se misture que não se deteriore ou que se envergonhe de nós.

No mesmo norte da bussola violentada, temos um pintor estrangeiro, desconhecido, sádico, esboçando nosso futuro num imenso painel de proporções gigantescas. Um preparador de superfícies sem a magia e a fascinação dos efeitos decorativos que nos arregalem os corações frangalhados.

Um ser pervertido, usuário de tintas escuras, com drogadas colorações enevoadas e sombrias que decididamente não refletirão, jamais, a luz maviosa de um céu de brigadeiro.  E o avião segue navegando à deriva, diretrizado, conduzido sem um plano afinado, sonante a harmonia de um itinerário que almejamos alcançar sem mais delongas. 

Se olharmos pelas janelas dessa aeronave, reparem, veremos voando, lado a lado, as manchas infames da corrupção, da degenerescência, da desmoralização da sociedade. Tomaremos conhecimento que as agremiações de seres viventes, tanto do norte, como do sul, caminham, a passos largos, para um futuro devastador e aniquilado.

De igual modo, de mãos dadas com as depravações e subornos, tomaremos conhecimento das falcatruas e das perversões se multiplicando como vermes peçonhentos, ratos de esgotos e outros filos de portes semelhantes. É a desgraça de um povo, de uma raça, em sua melhor forma de expressão.

Veremos mais: os pobres e fodidos cada vez em maior número se congestionando pelas artérias desse mundão perenal e, sobretudo, se decompondo pelas esquinas e becos além do que as linhas imaginárias de nossos olhos conseguem alcançar.

Depararemos, igualmente, com montanhas intransponíveis cobertas de promiscuidades e sujeiras as mais diversas e o mais estranho e esquisito, estaremos vendo essas mazelas sendo empurradas para debaixo de tapetes luxuosos e caríssimos vindos de fora dos controles de quem deveria ter as rédeas da nação. É a propina disfarçada com nome pomposo e bonito. Presidência da República.

Veremos, de contrapeso, um passado lindo, todavia, contagiado perdido, esquecido, abandonado, amordaçado entre grutas e desfiladeiros, gargantas e vales que jamais sairão de nossas lembranças.

O nosso bem-estar feneceu à beira de um abismo horrendo. Vestimos, a cada novo raiar de um dia que nos contempla as mesmas caras de sempre. Nossos rostos (como os deles) não mudam nem por reza braba. Os deles, por ambições supremas, os nossos por embaraços e desonras. O país segue vexado, cabisbaixo, derreado, metido até o pescoço em sendas tortuosas.

Uma plêiade de vigaristas travestidos de deputados e senadores, ai incluído a máfia da Suprema Corte de larápios e velhacos os mais espertalhões, cuida para que a gerência malcuidada nunca se acabe, ao contrario, a cada novo minuto, se propague, se engrandeça, se expanda, crie raízes, se agigante, se enraíze, num lamaçal infecto e pestilencial. Esse, senhoras e senhores, é o nosso Brazzil.

O avião segue impassível a sua vereda sem futuro. Nós vamos sobrepesados, sobrecarregando o que dentro de pouco nos fará explodir em mil fragmentos. Apertemos sem mais demora os cintos. Ajeitemos os bancos para recebermos os infaustos e os agourentos minutos que nos levarão à morte. As aeromoças se preparam e, em instantes, nos virão servir os cálices com a bebida fatal.

Viva, pois, a transparência de nossos bandidos e criminosos, viva a nosso atrofiamento de comunicação. Viva a floresta em fósforos, viva, o genocídio ambiental. E viva, claro, nossos corsários e safardanas, nossos ratoneiros e flibusteiros.

Afinal, esse é o Brazzil que queremos que desejamos que almejamos do fundo da alma, deixar para nossos consanguíneos a curto período de tempo. Todavia, não estaremos aqui para assistirmos ao matadouro, a carnificina.  A derradeira hecatombe.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De Vila Velha no Espírito Santo, ES. 27-7-2018

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Um comentário:

  1. Texto impecável Aparecido! Parabéns.
    Mas no andar da Carruagem infelizmente o Brasil que queremos, como você especificou não veremos.Mas penso eu que nem nossos herdeiros e nem os herdeiros deles, vão conseguir verem esse Brasil que sonhamos,a corrupção vai continuar sempre, porque a maioria gosta de colocar esses bandidos no poder, e os menos favorecidos que se fodam.Ninguem tá preocupado se o Brasil está na merda o que querem é os bolsos cheios, tantos deles como de quem estão juntos com eles.talvez esse sonho de cada brasileiro que tem dignidade e está sofrendo,esteja longe muito longe de acontecer. Carla

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