Aparecido
Raimundo de Souza
ESTAMOS
TODOS, INDISTINTAMENTE, embarcados num avião de grande porte, nos moldes de um
Airbus A-380, sem os pilotos na cabine de comando. O destino desse voo é
duvidoso, ambíguo, confuso e enigmaticamente tenebroso.
Ventos desfavoráveis vindos de todos os
quadrantes fazem com que a aeronave sofra, de través, uns baques estranhos,
como se estivéssemos num imenso elevador de um prédio muito alto que, de
repente, se soltasse lá de cima.
Que despencasse vertiginosamente sem
amarras, sem correntes, sem algemas e freios e, no minuto seguinte, se
estabilizasse como num passe de mágica e deixasse de se degringolar espatifando
a carcaça de setenta e três metros de comprimento num chão duro de terra
batida.
Assim, é o Brazzil. Uma espécie de
superjumbo. O mesmo que até algum tempo podíamos, sem receio algum, chamar de
lar. Nosso cantinho de amor. O Brazzil que nossos pais nos legaram tantos anos
passados. O mesmo que agora nos tira o sossego, a esperança, a tranquilidade e
a paz.
Aqueles a quem chamamos vergonhosamente
de governantes (ou nossos mandatários...) são figuras irreais, fictícias e
ilusórias. Indivíduos com semblantes distorcidos, alterados, falseados.
Cafajestes e ladrões, pilantras e salafrários que lembram um acúmulo de
monstros malignos e espiritados que nos querem devorar as carnes e os ossos a
qualquer custo.
Para esses crápulas do poder, não passamos
de um bando de palhaços e bufões, de arrelias e girafales correndo como bois
soltos nos pastos do acaso, ao descaso dos imprevistos, a procura de empregos
idôneos, de hospitais que nos recebam com dignidade, de uma segurança pública
que nos permita andar pelas ruas e praças sem medo de molestações e
acabrunhamentos.
Passamos a vida inteira em busca
constante de um horizonte mais patriótico, de uma amplidão que não seja
artificial, postiça, dissimulada. Queremos um destino que não se esconda que não
se misture que não se deteriore ou que se envergonhe de nós.
No mesmo norte da bussola violentada,
temos um pintor estrangeiro, desconhecido, sádico, esboçando nosso futuro num
imenso painel de proporções gigantescas. Um preparador de superfícies sem a
magia e a fascinação dos efeitos decorativos que nos arregalem os corações
frangalhados.
Um ser pervertido, usuário de tintas
escuras, com drogadas colorações enevoadas e sombrias que decididamente não
refletirão, jamais, a luz maviosa de um céu de brigadeiro. E o avião segue navegando à deriva, diretrizado,
conduzido sem um plano afinado, sonante a harmonia de um itinerário que
almejamos alcançar sem mais delongas.
Se olharmos pelas janelas dessa
aeronave, reparem, veremos voando, lado a lado, as manchas infames da
corrupção, da degenerescência, da desmoralização da sociedade. Tomaremos
conhecimento que as agremiações de seres viventes, tanto do norte, como do sul,
caminham, a passos largos, para um futuro devastador e aniquilado.
De igual modo, de mãos dadas com as
depravações e subornos, tomaremos conhecimento das falcatruas e das perversões
se multiplicando como vermes peçonhentos, ratos de esgotos e outros filos de
portes semelhantes. É a desgraça de um povo, de uma raça, em sua melhor forma
de expressão.
Veremos mais: os pobres e fodidos cada
vez em maior número se congestionando pelas artérias desse mundão perenal e,
sobretudo, se decompondo pelas esquinas e becos além do que as linhas
imaginárias de nossos olhos conseguem alcançar.
Depararemos, igualmente, com montanhas
intransponíveis cobertas de promiscuidades e sujeiras as mais diversas e o mais
estranho e esquisito, estaremos vendo essas mazelas sendo empurradas para
debaixo de tapetes luxuosos e caríssimos vindos de fora dos controles de quem
deveria ter as rédeas da nação. É a propina disfarçada com nome pomposo e
bonito. Presidência da República.
Veremos, de contrapeso, um passado
lindo, todavia, contagiado perdido, esquecido, abandonado, amordaçado entre
grutas e desfiladeiros, gargantas e vales que jamais sairão de nossas
lembranças.
O nosso bem-estar feneceu à beira de um
abismo horrendo. Vestimos, a cada novo raiar de um dia que nos contempla as
mesmas caras de sempre. Nossos rostos (como os deles) não mudam nem por reza
braba. Os deles, por ambições supremas, os nossos por embaraços e desonras. O
país segue vexado, cabisbaixo, derreado, metido até o pescoço em sendas
tortuosas.
Uma plêiade de vigaristas travestidos
de deputados e senadores, ai incluído a máfia da Suprema Corte de larápios e
velhacos os mais espertalhões, cuida para que a gerência malcuidada nunca se
acabe, ao contrario, a cada novo minuto, se propague, se engrandeça, se
expanda, crie raízes, se agigante, se enraíze, num lamaçal infecto e
pestilencial. Esse, senhoras e senhores, é o nosso Brazzil.
O avião segue impassível a sua vereda
sem futuro. Nós vamos sobrepesados, sobrecarregando o que dentro de pouco nos
fará explodir em mil fragmentos. Apertemos sem mais demora os cintos. Ajeitemos
os bancos para recebermos os infaustos e os agourentos minutos que nos levarão
à morte. As aeromoças se preparam e, em instantes, nos virão servir os cálices
com a bebida fatal.
Viva, pois, a transparência de nossos
bandidos e criminosos, viva a nosso atrofiamento de comunicação. Viva a
floresta em fósforos, viva, o genocídio ambiental. E viva, claro, nossos
corsários e safardanas, nossos ratoneiros e flibusteiros.
Afinal, esse é o Brazzil que queremos
que desejamos que almejamos do fundo da alma, deixar para nossos consanguíneos
a curto período de tempo. Todavia, não estaremos aqui para assistirmos ao
matadouro, a carnificina. A derradeira
hecatombe.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De Vila Velha no Espírito
Santo, ES. 27-7-2018
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Texto impecável Aparecido! Parabéns.
ResponderExcluirMas no andar da Carruagem infelizmente o Brasil que queremos, como você especificou não veremos.Mas penso eu que nem nossos herdeiros e nem os herdeiros deles, vão conseguir verem esse Brasil que sonhamos,a corrupção vai continuar sempre, porque a maioria gosta de colocar esses bandidos no poder, e os menos favorecidos que se fodam.Ninguem tá preocupado se o Brasil está na merda o que querem é os bolsos cheios, tantos deles como de quem estão juntos com eles.talvez esse sonho de cada brasileiro que tem dignidade e está sofrendo,esteja longe muito longe de acontecer. Carla