Em palestra ministro defende projeto
anticrime
Alex Rodrigues
Com 22 anos de experiência na
magistratura federal, onde atuou em casos de destaque como os julgamentos do
Banestado e da Lava Jato, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio
Moro, disse, hoje (13), que as falhas do sistema processual penal permitiam a
réus influentes contratar advogados que, “com alguma influência perante as
cortes de Justiça”, conseguiam retardar ao máximo a condenação definitiva de
seus clientes.
“Havia um mecanismo de
recursos processuais tão generoso que, quem lograsse manipular esse sistema
nunca era punido. Um sistema processual absurdamente desigual”, disse o
ministro. “Geralmente, quem tinha condições de manipular o sistema eram pessoas
com amplos recursos financeiros para contratar excelentes advogados com alguma
influência perante as cortes de Justiça”, acrescentou o ministro, sugerindo
que, graças a isso, os réus conseguiam adiar o início do cumprimento da pena,
“obtendo imunidade em um processo que nunca acabava”.
Durante uma palestra em
Curitiba, Moro disse que, até 2016, quando o Supremo Tribunal Federal (STF)
admitiu a execução da pena após a condenação em segunda instância, o sistema
processual brasileiro estava “baseado em uma dualidade” que beneficiava quem
tinha dinheiro.
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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil |
Segundo Moro, a defesa da
execução da sentença penal em segunda instância é um dos pontos fundamentais do
projeto anticrime que o governo federal enviou ao Congresso Nacional e que espera
ver aprovado em ao menos uma das Casas (Câmara dos Deputados ou Senado) ainda
neste semestre.
“Não adianta nada mexer na
legislação penal; não adianta nada melhorar as leis; aumentar o número de
policiais, se o processo não tem capacidade de chegar a efetiva
responsabilização [do acusado]”, argumentou Moro ao abrir o Congresso Nacional
sobre Macrocriminalidade e Combate à Corrupção, realizado pela Escola da
Magistratura do Paraná (Esmafe) e Associação Paranaense dos Juízes Federais
(Apajufe).
Ao defender que a execução em
segunda instância representa um avanço em direção ao fim da “impunidade dos
poderosos”, o ministro disse que, embora o STF tenha, repetidamente,
reconhecido a validade da decisão de 2016, há ainda a possibilidade de o
entendimento quanto à validade do início do cumprimento da pena antes mesmo de
todos os recursos terem sido esgotados ser revertida.
“Não acredito que ocorra, mas
como há essa possibilidade, o governo federal apresentou um projeto de lei para
demonstrar claramente como ele se posiciona nessa questão”, explicou Moro,
voltando a defender a aprovação do projeto de lei anticrime. “O processo deve
garantir o direito de defesa a todas as pessoas, mas deve chegar ao fim em um
tempo razoável”, concluiu o ministro, assegurando que o Ministério da Justiça e
Segurança Pública desenvolve uma série de outras iniciativas, mas que o projeto
anticrime é das mais importantes por, segundo ele, “resolver problemas sérios
do nosso sistema de Justiça criminal e tem a aptidão de resgatar um pouco da
credibilidade das pessoas em relação ao que os governantes devem fazer,
liderando o processo de mudanças”.
Título e Texto: Alex Rodrigues; Edição: Fernando Fraga, Agência Brasil,
13-5-2019
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