Aparecido Raimundo de Souza
SE OS NOSSOS ILUSTRES e poderosos representantes de Brasília tivessem vergonha na cara, brio,
senso prático, visão, sobretudo visão, visão de futuro, visão de amanhã, mesmo
lado da moeda, se tivessem noção de como fazer para melhorar o país, tirá-lo da
merda, da forca, do buraco negro em que se encontra, certamente veriam, como
alguns brasileiros com “B” maiúsculo, enxergam a pandemia da Covid-19, que ora
nos assola, com bons olhos, relevância acima de qualquer suspeita e
perspicacidade inefável.
Alto lá! Com bons olhos, seria o mesmo que alimentar um sonho inexistente
e prestigiar a esperança de uma espécie de urbanidade refinada? Por certo, que
sim! Perguntarão os senhores atarantados e incrédulos: como os nossos eternos
ratos de esgoto, os nossos perpétuos filhos da puta que estão no PODER
vislumbrariam, dentro de uma tragédia nacional anunciada, dentro de algo infame
que nos está dizimando... Como os salafrários veriam algo com olhos
proeminentes, ou seja, com elevado carinho e benevolência, ou com apurado
agrado e amabilidade?
Pode isto, Arnaldo? Sim! E é simples! A pandemia, caríssimos, veio para
mostrar, de forma clara e concisa, não só a nós, os fodidos, os pobretões e os
pés-rapados da raia muida, o seu lado funesto e aterrador, mas notadamente a
todos aqueles seres humanos dígnos e leais que alimentam, em seus corações, o
espírito elevado da prática do bem em prol da humanidade, ou a banda prodigiosa
que têm o ânimo vigoroso no sentido de perceber o lado agradável e sociável das
coisas, principalmente dos amiudados que estão ou que ficaram fora dos
conformes.
Vamos dar alguns exemplos práticos e os senhores haverão de concordar.
Raciocinem. Pensem. Se houvesse boa vontade, lisura, decoro, consciência,
honradez, integridade, por parte daqueles que fazem da capital do país uma
capital de merda, uma cidade que vive enlameada em seu próprio excremento... Se
no galinheiro os galos e as galinhas se unissem num só propósito, bem ainda, ao
lado, no chiqueiro, os porcos e os suinos objetivassem um caminho decente
e garboso, tenham certeza, tiraríamos o Brasil
do sumudouro por onde se escoa numa morte de passagem lenta, e o faríamos, de
uma vez por todas, sair dos braços frios da UTI em que se subjugou derreado,
sem o oxigênio necessário para continuar vivo e respirando.
Não há aqui nenhuma mágica no melhor estilo de David Copperfield. O
truque está no que a Covid-19 vem nos legando e pasmem —, vamos repetir para
deixar bem sintetizado —, vem nos transferindo de util e de aproveitável.
Sobretudo, de aproveitável. Com a chegada da Covid-19, passamos a usar
máscaras, o que antes se fazia exclusividade só dos palhaços e bandidos. Os
manda-chuvas do Epicentro, com a nova
personagem vinda dos cafundós da China, a Covid-19, nos prenderam em
casa em nome e uma outra doença-paralela, a qual arranjaram um nome bonito e
agradável de se pronunciar: ISOLAMENTO SOCIAL, OU DISTANCIAMENTO SOCIAL. Grosso
modo, RECLUSÃO FAMILIAR em face de um estado de saúde considerado
emergentemente incerto e desconhecido.
Ato contínuo, por ordens expressas dos deuses do Olimpo e os almofadinhas
do Osujo, fomos proibidos dos passeios pelas ruas, de irmos aos supermercados,
de tomarmos café nas padarias. Nos tiraram até o direito da frequência aos
calçadões e das praias. Nos
desautorizaram, em idêntico esquema, sem mais nem menos, de nos
reunirmos com os amigos em barzinhos, restaurantes, bem ainda nos impediram de
circularmos LIVREMENTE dentro de uma, entre aspas, “liberdade fajuta, na
verdade, uma independência mal parida que nunca se mostrou real e justa”.
Na mesma paulada em nossas moleiras, fecharam os comércios, os salões, as
pizzarias, os botequins, os shoppings, as praças de alimentações. Uma caralhada
de empresas lacrou as portas, outras tantas ainda persistiram com um número
reduzido de funcionários, todavia, dias depois, saíram definitivamente de cena.
No geral, os pequenos empresários que ainda tentaram levar o barco à frente,
vivem, hoje, aos peidos, aliás, nem aos bufos, menos ainda desfrutam do cheiro
acre que deles restou como lembranças. O povo, como sempre, tomou no cu com
todas as letras.
Não, senhoras e senhores. Desta feita, o povo não tomou na tarraqueta.
Ele conseguiu livrar a bundinha magra da fatídica espetada da agulha
perturbadora. A porra do governo, ou melhor, os nossos ladrões de colarinhos
brancos, os nossos veados e as nossas quengas das mais altas esferas, usque os
nossos deputados, os nossos senadores, enfim, generalizando, todos esses
cânceres malígnos que mamam em nossos colhões, a bem do que é certo, nos
fizeram um favor. Favor? Que favor?! O de nos mandar e de nos manter enfurnados em nossas casas. Todo mundo,
hoje, se vira nos trinta, dando uma de
Faustão, seja aquartelado, seja encafuado em seu respectivo quadrado.
De repente, esses famigerados do Poder,
se igualaram a nós. Percebam, amadas e amados. Todo o enorme amontoado
de sujidades, de restos de imundícies que mantemos no imenso Avião pousado
(Brasília), num estalar de dedos da Covid-19, se moldaram, se ajustaram, se
harmonizaram às nossas necessidades mais prementes. Esses patifes se
conciliaram aos nossos pés. Vieram literalmente cheirar, com seus narizes
empinados, nossos fedorentos e
malcheirosos chulés. Entenderam onde queremos chegar, ou será preciso que façamos
uma série de desenhos?
Procuraremos ser mais explícitos. Resumindo a canção: ministros,
deputados, governadores, vereadores, presidentes disso, presidentes daquilo,
médicos, generais, putas, lésbicas,
pretos e brancos, enfim, todas as camadas da sociedade, dos granfinos e dos
intocáveis, reis e rainhas, lacraias e lombrigas como se irmanados num único
bolo preparado às pressas, se CONTEMPORIZARAM,
SE APROPOSITARAM AO NOSSO MUNDINHO. Passamos a ficar no aconchego de
nossos tetos, a trabalhar de dentro de nossas casas. Botaram, em prática, um
tal do HOME OFFICE. Se a Covid-19 não pintasse no pedaço, o Home Office jamais
afloraria com força total, ou com a pujança descomedida que estamos assistindo
de camarote.
Levem em conta que os artistas famosos deixaram de fazer shows
presenciais. Dos mais graúdos aos mais humildes, se viram na contingência de
abandonarem os palcos. Com isto, os
estúdios das maiores emissoras de televisão mandaram seus apresentadores para
os aconchegos e abraços de seus consanguíneos.
As platéias se agarraram às
moscas e baratas. Surgiu, vindo das coxias, um trocinho novo, igualmente
desconhecido da plebe sofrida: a LIVE. Até antes da pandemia temos certeza
absoluta, ninguém sabia que a tal da Live existia. Levando em conta, obviamente, toda a tecnologia existente.
No momento em que o país, de canto a canto, comemora quase 4.788.314
casos confirmados, 3.901.654 recuperados e 208 mil mortes, se dermos uma rápida
de visu no panorama atual, observaremos
que houve um transformação gigantesca, entretanto, para melhor. Apesar
de todos os infortúnios e estorvos, enfadamentos e amofinaçõee, que estamos
enfrentando. Os senhores deverão se perguntar: onde foi que vimos a famosa luz
no final do tunel escuro? Cadê o lado mavioso da coisa? Existe, de fato, o
escape espetaculoso da doença, ou a rota de fuga desta flagelação molestosa
e generalizada que ora nos enoja e nos
leva, sem piedade para a cidade dos pés
juntos nos deixou sem alternativas?
Explicaremos sem mais delongas. TODO MUNDO EM CASA, ponto pacífico.
Os pobres, os ricos, os famosos, os não
famosos, os poderosos e os não poderosos. Juízes despachando de suas salas
assistindo as novelas da Globo, presos sendo ouvidos por vídeos conferências,
sem precisarem sair dos presídios. Que coisa maravilhosa! Parece até filme de
ficção científica. Será que voltamos, sem querer, ou propositalmente, ao
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, ou retrogradamos aos tempos do fabuloso
Júlio Verne?!
Não importa isto agora. Apenas pasmem. Até nossos impolutos e confiáveis
representantes, nossos miSinistros com suas fuças de babacas, todos em seus
banheiros vomitando de suas privadas de alto luxo palavras bonitas, em
despachos romanceados, longos e sem fim, pareceres e decisões monocráticas respingadas
com galinhas e velas de sete dias, numa demonstração de sabedoria
ultrapassada e tino, perspicácia e
conhecimento das leis criaram vida. Em paralelo, os deputa, os senadores,
assombrem, senhoras e senhores, contemplem, todos escondidos debaixo das
calcinhas e saias de suas patroas baixaram a cabeça, sairam de seus pedestais.
Este é, pois, o lado excelente da coisa. A ilharga imaculada da pandemia.
A Covid-19 veio mostrar a nós, sem exceção, sem distinção de raça e credo, que
podemos, do conforto de nossas cozinhas, dos refrigérios de nossas varandas, das proteções de nossos palácios,
dos consolos de nossas choupanas,
progredirmos de cabeças erguidas, nos agigantarmos para um mundo sem
roubalheiras, sem a ganância de certos “cavaleiros e seus animais” carecerem se
masturbarem nos órgãos sexuais dos oprimidos, dos entristecidos e amofinados.
Quanto dinheiro, senhoras e senhores poderia ser usado para melhorar cem por
cento a saúde, a educação, a segurança e outras enfermidades básicas que padecem
de certa urgência?
Quanta grana gasta em vão sobraria para reconstruir os hospitais já
existentes, edificar outros e outros e outros mais, para a população carente e
sem porto seguro? De seus sofás retráteis, de suas camas redondas, os
vagabundos do Poder não precisariam usar seus carros do ano, com motoristas
particulares, tampouco dependerem de seguranças dependurados nas cuecas;
profissionais armados até os dentes acoitados em meio de lingeries caríssimas.
Em igual bote, as poposudas que se acham donas das cocadas pretas e outros
doces que engordam, não precisariam se deslocarem para as suas pocilgas onde
fingem exercer as suas funções no
senado, na câmara no STF, entre outros enxurdeiros e budegas que sabemos existirem
apenas para engordarem as folhas de pagamentos da União.
Não haveria necessidade de tantos assessores, de um punhado de gente
ociosa trabalhando nos “gabinetes ou cabides de empregos”, chupando nas tetas
do governo. Todos em casa, numa boa, pela Internet, usando tão somente o milagre do ISOLAMENTO
SOCIAL; se beneficiando das vídeos conferências... das lives... Imaginem
senhoras e senhores. Façam as contas, quanta grana, quanto faz me rir, quanta
bufunfa poderia ser revertida para
melhorar o país, a nação; dar melhores assistências aos desvalidos e
desprotegidos da sorte!
Utopia? De forma alguma! Todos esses vermes que sentam seus rabos nos
tronos do Poder não estão de quarentena usando os benfazejos trazidos com a
revolução da modernidade? Não tem dado certo? Ou dito de forma mais precisa:
não está trazendo resultados a olhos vistos? Pensem na logística de um preso
considerado de “alta periculosidade” sendo “ouvido” em audiência na
tranquilidade de sua cela? Com todo conforto, fumando um baseado ou cagando,
sem precisar fazer a barba, tomar banho, pentear os cabelos, vestir um terno de
corte antigo.
O Estado economizaria de várias maneiras diferentes, não precisando
deslocar um monte de policiais tipos aqueles machões da S.W.A.T para servirem
de babás de marmanjos. Evitaríamos surpresas desagradáveis nas rodovias, sem
mencionarmos o fato de que não seria necessário uma dezena de agentes
envolvidos. Sequer vital uma carreata a
se perder de vista, com viaturas fazendo um estardalhaço dos diabos,
objetivando apresentar um facínora para uma troca de beijinhos com o capa
preta. O capa preta, por seu turno,
estaria em casa, tomando cafezinho com a sua cara metade, coçando o
saco... Jogando paciência com seus rebentos e o mais importante: TRABALHANDO.
Estes são pequenos exemplos que trouxemos
à baila, para demonstrarmos que a pandemia da Covid-19 nos fez ver o planeta e
as coisas que nos cercam, por outra ótica. A mais importante delas, não que as
demais não sejam, a ótica voltada para a
economia. Fecharíamos, de pronto, as
torneiras escancaradas dos gastos públicos, os chuveiros dos desmazelos
desnecessários. Os numerários dos cofres públicos se avolumariam
consideravelmente e poderiam trazer melhoras consideráveis para uma federação
que, bem sabemos, trafega hoje, agora, neste momento, nos trilhos sem fim da
imoralidade lasciva. Sem falarmos que, a passos largos, logo adiante, a nossa
querida e amada terrinha Santa baterá com os costados às PORTAS DE TODAS AS
FALÊNCIAS MORAIS EXISTENTES.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de Vila
Velha, Espírito Santo, 4-7-2020
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