Adeus, Copacabana: Mural raríssimo de Di Cavalcanti deixa hall de prédio na orla e é vendido por R$ 8 milhões

A venda aconteceu após uma longa negociação com o condomínio do Edifício Machado de Assis, já que a obra era praticamente um tesouro do prédio 

Victor Serra

Um dos segredos mais bem guardados da orla de Copacabana acaba de ganhar novos ares — e um novo dono. O mural sobre tela exclusivíssimo de Di Cavalcanti que decorava o hall da portaria do Edifício Machado de Assis, prédio nobre da Avenida Atlântica, foi vendido neste final de semana durante a SP-Arte, principal feira de arte da América Latina, realizada anualmente no Pavilhão da Bienal, em São Paulo.

O quadro de grandes dimensões — e de valor histórico e estético incalculável — pode ter sido vendido por nada menos que R$ 8 milhões. A transação foi conduzida pelo marchand Tomás Toledo, sócio da Galatea, galeria de arte que vem se firmando como uma das mais atuantes no circuito de arte moderno e contemporâneo do país. 

A venda aconteceu após uma longa negociação com o condomínio, já que a obra era praticamente um tesouro do prédio, que tem apartamentos de cerca de 600 m² — e valores médios de venda na casa dos R$ 12 milhões. Era comum, mesmo depois dos tempos áureos de Copacabana, que os elegantes halls dos edifícios de alto luxo exibissem obras de destaque — uma época em que o bairro era mais conhecido pelo seu glamour e charme do que pelo apelo turístico. O prédio, com fachada modernista em mármore branco e varandas, é da década de 70, e tem suntuosos jardins de Burle Marx nos fundos, ocupando um lote que vai deste a Avenida Atlântica até a rua Domingos Ferreira.

Segundo informações obtidas com exclusividade pelo DIÁRIO, a obra já se encontrava à venda há alguns meses, e, agora que foi vendida, o condomínio utilizará o dinheiro arrecadado com a venda para a construção de uma moderna área de lazer na cobertura comum. O edifício teve moradores ilustres, como os falecidos empresários Julio Bogoricin e Ivan Botelho, e é conhecido pela extrema discrição dos vizinhos, bem na contramão do que ocorre com outro famoso edifício da Avenida Atlântica, o Chopin.

Título e Texto: Victor Serra, Diário do Rio, 8-4-2025