quinta-feira, 8 de maio de 2025

O Governo das imagens e das mentiras de Eduardo Paes

Rogério Amorim

O prefeito Eduardo Paes promoveu seu segundo megashow em dois anos do atual mandato. Até o fim do governo atual, certamente o morador de Copacabana já terá abandonado ou bairro ou entrado com merecido processo judicial pedindo a redução de seu IPTU – pois o prefeito se compraz em ocupar o bairro com suas idiossincrasias. A notícia ruim que eu tenho para esses moradores é: o prefeito governa por imagens, e para o restante do Estado e do País (quiçá do Mundo) a imagem de Copacabana é sempre persuasiva. 

Foto: Marcelo Piu

Para o prefeito, ter 500 mil pessoas aos gritos em Copacabana rende mais votos do que um mediador em sala de aula para crianças com deficiência. Ter uma cantora lacrando (Madonna) com bailarinos gays vale muito mais do que médicos especialistas atendendo nas UPAs em vez de médicos generalistas. Ter os holofotes das áreas VIPs mostrando a comida dos chefs de cozinha vale mais do que incentivar os projetos para pacientes de fibromialgia – doença que, curiosamente, traz sofrimento à cantora Lady Gaga.

Mas o pior do governo por imagens é saber que a maior parte das imagens é mentirosa. Não falo aqui do absurdo que é colocar 200 metros de área VIP separando do palco os fãs que chegam de manhã à praia para o show. Me refiro ao inacreditável anúncio de que o evento reuniu 2,1 milhões de pessoas, uma contagem que só existe na cabeça do prefeito e que foi devidamente desconstruída nas redes sociais pelo engenheiro têxtil Franklin Weise. Vou reproduzir abaixo o que ele ponderou, com muita propriedade.

O primeiro questionamento é: qual a área necessária para acomodar 2,1 milhões de pessoas? Com efeito, depende da densidade. Nas partes mais próximas do palco – perdão, da área VIP, dá para estimar algo como 5 pessoas por metro quadrado, um cenário no qual é impossível um ser humano. Podemos até tentar três pessoas por metro quadrado – com mobilidade bem reduzida.

Weiser então resolve ser generoso com o prefeito Eduardo Paes: “vamos supor que metade do espaço ocupado tenha cinco pessoas por metro quadrado e, outra metade, três pessoas. Sendo assim, os 2,1 milhões de pessoas precisariam de uma área de 525 mil metros quadrados.

O checador de dados vai mais longe na generosidade: considera então a largura média de 150 metros entre os prédios e o ponto médio do fim da faixa de areia (na água). E multiplica pela extensão toda da praia, do Leme ao Forte de Copacabana. E sabemos que o show não ocupou tudo isso. Ele então calcula 600 mil metros quadrados e desconta 10 por cento de espaço para mobiliário urbano e equipamentos do show. Ainda assim, chega-se ao número de 540 mil metros quadrados, 15 mil metros quadrados a mais do que o necessário.

Mas este cálculo está considerando toda a área útil entre Leme e o Posto Seis, mais de quatro quilômetros. E o que vemos nas imagens com as quais o prefeito pretende governar? Público concentrado entre o Copacabana Palace e a pequena Rua Antonio Vieira, já no Leme. Uma grande faixa de público, sem dúvida. Mas a conta não fecha: uns 700 metros multiplicados por uma largura média de 180 metros, ou seja, cerca de 126 mil metros quadrados no total, descontando o mobiliário urbano e os equipamentos chegaríamos a 113 mil metros quadrados.

Para caber 2,1 milhões de pessoas neste espaço, a densidade seria de 19 pessoas por metro quadrado. Algo que é humanamente impossível.

Claro que o prefeito, ao abordar a Folha de S.Paulo nas redes sociais (sem nenhuma réplica do jornal, algo incrível), usa o argumento do “público em movimento”. Para aceitarmos isso e concordar com 2,1 milhões, seria necessário que todo o público no local fosse substituído quatro vezes ao longo do show. “Uma vez a cada 30 minutos”, diz Weiser, que calculou 453 mil presentes, um público grande, realmente. É quase o público que em 1981 lotou o concerto no Central Park da dupla americana Simon & Garfunkel.

O que é verdadeiramente incrível é a cumplicidade de toda a mídia – com exceção deste DIÁRIO DO RIO – que em vez de buscar os números reais aceita de forma passiva o que o prefeito diz. Ele governa por imagens, mas não exibe as pessoas com dificuldades de assistir ao show, obstruídas pelo muro de sua área VIP (mais de 10 milhões em dinheiro público).

Governa por imagens, mas não exibe em suas redes os seguranças truculentos impedindo os fãs de alcançarem as proximidades das muretas. Por conta disto, protocolei PL proibindo que sejam instaladas áreas VIPs em espaços de uso do povo, públicos, como praias e praças – projeto também protocolado na Alerj pelo meu irmão deputado estadual Rodrigo Amorim (União)

É muito fácil governar quando o compromisso é só com a lacração e o ufanismo cego. Difícil é ser desgovernado por eles. Difícil é morar em Copacabana sabendo que o único interesse do prefeito é transformar o bairro em playground de subserviência a cultura estrangeira e de lascívia. Tenho feito esforços para melhorar a situação, como o PL recente em que proponho a transferência da passeata gay para o Sambódromo. Mas seria apenas mais um evento – e convenhamos, com as artistas convidadas pelo prefeito até agora, não é nem necessário que haja passeata gay.

No governo das imagens, a mentira é a campeã de audiência.

Título e Texto: Rogério Amorim, Diário do Rio, 7-5-2025

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