O que entendemos por juízo? Grosso modo, significa julgar, avaliar,
opinar sobre algo... Nossa lide com o mundo nos impõe que tenhamos juízos sobre
fatos e coisas para viabilizar nossa vida prática.
É natural que façamos juízos da realidade a nossa volta. Mas, nem sempre
nossos julgamentos são definições corretas das coisas. Incorremos em erro
porque, as mais das vezes, julgamos segundo nossos interesses e não
vislumbramos a essência do fenômeno que se nos apresenta.
Daí a proposta husserliana (Husserl) de suspender o juízo do mundo real,
de tudo que nos cerca como realidade. Não que duvidemos da existência das
coisas, mas que façamos de conta como se não houvesse o mundo concreto; não
emitir, portanto, juízo ou julgamento sobre o que nos cerca – suspensão de
juízo.
Então, o que acontece com essa atitude? Chegamos a um ponto em que algo
se apresenta incontestável: nossa consciência, nosso eu irrefutável do qual não
podemos duvidar. Sabemos que o mundo concreto existe, mas dele podemos duvidar
como se fosse uma ilusão, mas não há como duvidar do meu eu, pois o vivo e não
o observo como se fosse uma exterioridade da qual poderia duvidar.
Assim, descubro uma realidade essencial em mim da qual não posso fugir ou
duvidar: minha consciência, meu eu. E as coisas fora de mim são fenômenos (do
grego phainestai = aparecer) que aparecem para mim ou se apresentam a minha
consciência. Nossa consciência é sempre consciência de algo.
Com a suspensão do juízo, todo fenômeno que aparecer na consciência é
considerado desinteressadamente para que sua essência se revele, o que
realmente é em si e não o que faz sentido para nossa vida prática. É ter,
portanto, um conhecimento da coisa em si. Exemplo: da minha janela eu vejo um
coqueiro. Mais adiante, uma jabuticabeira. São coisas que se apresentam a minha
consciência como fenômenos. Qual a essência desses dois fenômenos diferentes?
São árvores - essa é sua essência: ser árvore, ter a “arvoridade” ou,
latinizando, a “arboridade” como pano de fundo, como substância fundante, sua
essência.... Vejo que são belas e que podem me fornecer frutos, mas isso é
secundário, acidental; o primordial é saber o que são árvores que, por sinal
dão frutos e são belas... É claro, na
vida prática o que me interessa são os frutos que posso comer ou mesmo
contemplar sua beleza, mas não dá para comer a “arboridade”....
O filósofo Husserl chamou isso de método fenomenológico que procura descobrir
as essências das coisas ou, como dizia, “voltar às coisas mesmas” e
vivenciá-las como são em sua essência, à parte de juízos ou julgamentos
convenientes que possamos delas fazer. É fazer uma redução eidética (de ideia),
isto é, chegar à ideia primordial da coisa. Reduzir a coisa até chegar ao seu
cerne, à ideia fundamental que permanece absoluta sem mudança. O coqueiro e a
jabuticabeira podem apresentar mudanças ao longo do tempo em suas aparências
externas, mas sua essência, a ideia “arboridade” é perene, sem mudança.