Henrique Pereira dos Santos
A flotilha que resolveu ir a
Gaza levar ajuda humanitária tem um problema de fundo: nunca dá informação sobre que
ajuda humanitária transporta, e como tenciona entregá-la em Gaza e a quem.
Tenho visto comentários de
pessoas que consideram indignas as críticas, as observações ou as piadas sobre
esta flotilha, porque nem que fosse apenas uma mão cheia de couscous, era ajuda
humanitária e é preciso ter um coração de pedra ou estar subordinado a
interesses inconfessáveis para pôr em causa ajuda humanitária.
Não sou eu (ou melhor, não sou
apenas eu) que digo que a flotilha não tem nenhuma relação com ajuda
humanitária, é um ato político (legítimo, reforço eu para que não haja
dúvidas), é a organização que é clarinha, clarinha a esse respeito: "The
Global Sumud Flotilla is a coordinated, nonviolent fleet of mostly small
vessels sailing from ports across the Mediterranean to break the Israeli
occupation's illegal siege on Gaza. It brings together a diverse coalition of
international participants, including those involved in previous land and sea
efforts like the Maghreb Sumud Flotilla, Freedom Flotilla Coalition*, and Global
Movement to Gaza. Each boat represents a community and a refusal to stay silent
in the face of genocide. ... These boats don't just carry aid; they carry a
message: the siege must end."
A ajuda humanitária é aqui apenas um pretexto para tornar moral e midiaticamente aceitável uma ação política hostil a um dos beligerantes em Gaza, o que explica por que razão a organização nunca perde um segundo a explicar que ajuda humanitária transporta e qual é o modelo logístico que garante que essa ajuda chega a quem precisa.
Ao contrário do que dizem os
organizadores, não existe nenhum bloqueio a Gaza que impeça a ajuda humanitária
de entrar em Gaza, o que existe é um sistema de verificação dessa ajuda
humanitária por parte de um dos beligerantes (Israel), que entende que os
modelos que estavam a ser usados antes da guerra estavam ao serviço (voluntária
ou involuntariamente, é irrelevante) do outro beligerante (o Hamas).
Embora o modelo de ajuda
humanitária que estava a ser usado pela ONU em Gaza para fazer chegar às
pessoas cerca de metade da ajuda humanitária do mundo seja o modelo universal
(a ONU trabalha com os poderes de facto em cada região), o facto é que Israel (justa
ou injustamente) considera que o facto do Hamas (o poder de facto reconhecido
pela ONU) recusar o cumprimento de qualquer regra comum em qualquer conflito,
faz com que a ajuda humanitária gerida pela ONU tenha estado a ser usada, há
muitos anos, pelo Hamas para garantir o controlo sobre os palestinos de Gaza (é
a própria ONU que, nos seus relatórios, refere a quantidade de camiões que são
sequestrados antes de chegar ao destino, em percentagens que vão variando, mas
são muito altas e, frequentemente, andam pelos 90% da ajuda sequestrada por
terceiros, dando alguma credibilidade à alegação de Israel).
Por essa razão, Israel e os
Estados Unidos deram apoio a um modelo alternativo de ajuda humanitária que a
ONU e a generalidade das organizações internacionais operando em Gaza recusam,
em absoluto, por ser um modelo militarizado, assente em segurança armada e
operado sob a proteção de um dos beligerantes, Israel.
O modelo tem dificuldades, em
especial a hostilidade ativa do Hamas, mas não teve, até agora, qualquer desvio
dos seus camiões de ajuda humanitária, e distribui, diariamente, mais de um milhão e quinhentas mil refeições, sem que o Hamas
consiga controlar essa distribuição.
Muitas pessoas e organizações
que acham inaceitáveis as críticas a uma flotilha que diz que transporta ajuda
humanitária, sem nunca especificar nada que permita o escrutínio do que anda a
fazer, criticam fortemente o modelo da Gaza Humanitarian Foundation que
distribui, de uma forma que pode ser escrutinada, um milhão e meio de
refeições, diariamente, o que sugere que a sua repulsa em relação a Israel seja
bastante maior que o seu amor aos palestinianos comuns.
Em particular, todos os
jornais que conheço deram um grande destaque a um testemunho de um anterior
funcionário que dizia da GHF o que Maomé não disse do toucinho, incluindo o
testemunho do assassinato de uma criança às mãos das IDF, mas não só omitiram os
desmentidos, documentados das IDF, como é normal que atirem para um esconso
qualquer do jornal qualquer informação sobre o facto da dita criança ter sido encontrada viva e estar hoje emsegurança, desmentindo cabalmente o testemunho que se considerou de
absoluta credibilidade anteriormente, sem qualquer verificação dos factos.
A extraordinária história da identificação do miúdo, através das redes de confiança
estabelecidas pela GHF, não tem qualquer interesse para a comunicação social,
já o facto de um conjunto de privilegiados resolverem dar uma volta de barco
para fingir que se alistam na resistência popular contra o regime opressivo de
Israel, usando a ajuda humanitária como biombo para as suas ações políticas,
tem sistemática atenção dos jornalistas.
Ide pela sombra.
Título e Texto: Henrique
Pereira dos Santos, Corta-fitas,
5-9-2025
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