Carina Bratt
Mamãe costumava dizer e o
fazia com muita propriedade, que “uma mão lava a outra e, as duas, o
rosto”. Confesso, na verdade, nunca vi
um “mamão” lavando a outra. Pior, nunca soube distinguir quem era essa outra.
Apesar disso, ambas as mãos segundo apurei com o passar dos janeiros (e lá se
vão quase trinta), jamais se largaram, nem se separaram. São até hoje, unha e
carne. Corda e caçamba. Vieram da mesma bolsa escrotal.
Nasceram do mesmo parto.
Pertencem à mesma laia, se tornaram farinha do mesmo saco. Ossos do orifício.
Meus amigos costumam dizer que a propaganda é a alma do negócio. Corre mais que
notícia ruim. Propaganda nesse mundo globalizado vem com alma. Alma que tem
olhos, pensa, fala move as mãos os braços, os quadris, as pernas e quando
necessário, corre mais que pobre morro acima, ainda que em seus costados não
esteja à polícia.
No mesmo solavanco do trem
desembestado, sofre mais que guarda chuva em temporal. Propaganda, com ou sem
alma, não importa. Hoje em dia, com essa tecnologia de conta, desculpem de
ponta, nada se cria tudo se copia. O resto é mentira, invencionice. Por falar
em mentira, mentira lembra embuste, embuste lembra patranha, patranha me remete
a cascata. Grosso modo, lorota.
Lorota traz à baila inverdades
e contos da carochinha. Para mantermos em evidência um saboroso logro, desses
de deixar o sujeito com um olho na missa, outro no padre e o terceiro na freira
com o sacristão, nada mais prático que uma melancia na frente, outra atrás, um
pé lá, outro aquém, enfim, para um engano perfeito, ou uma gostosa maxambeta
onde ninguém se atreva a voltar e reclamar se faz necessário contar uma série
enorme de boatos e torcer para que virem Fake News.
Afinal de contas, “quando não
se pode dizer a verdade, mas a gente diz algo semelhante a ela, não se está
traindo a verdade, apenas diversificando a maneira de passar a conversa fiada
nos menos desavisados”. Por favor, não me interrompam. Quando uma égua fala, a
outra deve abaixar as orelhas. Ainda que essa outra seja uma simples eguinha pocotó.
Nessa conversa fiada e fora de esquadro à coisa parte para um estado
literalmente mais estranho e esquisito.
Quando o cavalo (aquele animal
que veio de graça e a cavalo dado os amigos sabem de cor e salteado não se deve
olhar os dentes) reponde ao bom dia acenando com o rabo e relinchando, pode ter
certeza que vai dar furdunço. Mudando novamente de pau para cavaco. Marília,
uma amiga e moradora aqui perto de casa, brigou feio com um vizinho comum, o
Sugoso, quase porta com porta às nossas.
Ao invés dela “maneirar”, deixar pra lá, pirou o cabeção.
Deu uma de louca desvairada.
Soltou os bichos no sujeito. Virou assim do nada, madeira de dar em doido
reganhou o escutador de novelas e botou a boca no trombone. Liberou cobras e
lagartos papagaios e curiós, sapos e rãs. Meteu o dedo na ferida. Deu nome aos
bois. Aliás, pegou as vacas que conseguiu reunir à unha. Por seu turno, a
criatura ofendida, o Sugoso (depois dessa lengalenga, furioso e encapetado)
achou melhor colocar em prática aquela antiga sabedoria do quem entra na chuva
é para se molhar.
Virou, desvirou, se olhou no
espelho. Quase um anão. Todavia, embora a Marília se assemelhasse a uma vara de
lavar tripa, concluiu que tamanho não era documento. Disponibilizando uma
manada inteira revidou. Partiu para a agressão. A bruxa estava realmente solta.
Mais firme nos seus propósitos que prego em angu. A jiripoca, apesar de ser um
peixe, piou. Quem procura, acha. Pelo menos, para o cantor Daniel, o peixe
piou. Imaginem se cantasse!
Igual ventilador enguiçado que
não faz vento, nem lâmpada queimada acende, a galinha foi para o galinheiro,
bicou o galo no pescoço, à cuíca roncou e destoou dos outros instrumentos, os
tambores rufaram, os sinos tocaram, os cachorros latiram, os pássaros
gorjearam, os bêbados se seguraram em suas garrafas e o dono do bar chorou de
tristeza, derramando lágrimas de crocodilo no tamanho das contas que eles
deixaram dependuradas para pagamento no mês subsequente. A calma saiu de cena.
Como é do saber geral, a calma
não acolhe os que dormem. A cama é que dá guarida aos que roncam e fazem
biquinho. A meu entendimento, como
nenhum dos dois deu o braço a torcer, nem fugiram da raia, concluí que ambos,
Sugoso e Marília, não necessariamente nessa ordem, foram com muita sede ao pote. Achei melhor me manter de fora de toda essa
confusão. Comungo a surrada teoria de que é preferível uma covarde viva, que
uma heroína morta.
Em certas ocasiões, reza a
lenda, mais prático se passar por boba, sendo sabida, que passar por sabida
sendo boba. Decidi sair pela tangente que atrás vinha tempestade das brabas.
Não deu outra. Antes das trovoadas afastei o meu traseiro da reta e das curvas
também. Ao bom senso se deve saudar com
chapéu enterrado no cocuruto. Evita queimar os chifres. Tenho em mente, sempre,
seja em que situação me encontrar: a oportunidade é careca e deve ser agarrada
pelos cabelos. Fim de papo.
Título e Texto: Carina
Bratt, de Fortaleza, no Ceará. 1-9-2019
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