segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O milagre econômico de Javier Milei que a comunicação social portuguesa insiste em omitir

Ignorar o sucesso econômico da Argentina de Milei não é jornalismo, é militância ideológica.  Portugal teria muito a aprender

Gianluca Ubrano

Em dezembro de 2023, o economista e professor catedrático Javier Milei assumia a presidência da Argentina. Riram-se dele. Apelidaram-no de “inexperiente”, “anarcopitalista louco”, “fascista” e até de “antissemita”, mesmo Milei sendo assumidamente pró-Israel. Hoje, muitos desses críticos estão em silêncio.

A dois meses das eleições legislativas na Argentina, nas quais o partido de Milei, La Libertad Avanza, estava isolado nas sondagens, a comunicação social voltou a publicar notícias sobre a Argentina, atinentes às acusações que envolvem Karina Milei, a irmã do Presidente da Argentina, no contexto de alegadas propinas na Agência Nacional de Deficiência.

Enquanto os media portugueses insistem em enfatizar este ruído político, permanecem em silêncio perante o milagre econômico levado a cabo pelo governo chefiado por Milei. A compreensão do fenômeno econômico argentino sob a presidência de Javier Milei exige mais do que uma análise superficial centrada em escândalos e nas polémicas mediáticas.

Sob a liderança do economista libertário, a República da Argentina transformou-se num verdadeiro laboratório de políticas liberais com resultados concretos, cuja compreensão requer disciplina analítica e atenção aos indicadores econômicos, e não apenas aos escândalos que facilmente dominam as manchetes dos jornais em Portugal.

Diagnóstico inicial da Argentina em 2023, marcada pelo caos macroeconómico e um Estado asfixiador 

Quando Milei assumiu a presidência, herdou um país mergulhado numa crise estrutural profunda. A inflação anual situava-se em 211,4%, corroendo salários, poupanças e poder de compra. A pobreza atingia quase os 58% da população, e a indigência registava uma percentagem de 18,1%, evidenciando a vulnerabilidade de milhões de argentinos.

O Estado, caracterizado pela sua ineficiência e por uma burocracia excessiva, funcionava como um instrumento de drenagem de riqueza, com despesas públicas elevadas e recurso à impressão monetária para financiar o défice público, perpetuando as pressões inflacionárias e dificultando a acumulação de reservas internacionais.

A dívida pública e os défices fiscais limitavam consideravelmente a margem de manobra política, ao passo que o setor externo enfrentava défices persistentes e uma moeda desvalorizada, com o peso argentino a perder mais de metade do seu valor face ao dólar.

Internamente, o mercado de trabalho apresentava distorções significativas, com salários reais em declínio e crescimento da informalidade. Durante anos, muitos argentinos guardaram dólares em casa como proteção contra a inflação e a desvalorização do peso. Era comum encontrar notas escondidas em colchões, gavetas ou frascos de biscoitos, enquanto famílias e comerciantes improvisavam cofres caseiros para preservar o pouco que tinham.

A gravidade da situação exigia medidas disruptivas para estabilizar a macroeconomia, para restaurar a confiança doméstica e externa, equilibrar as contas públicas marcadas por décadas de desequilíbrios fiscais e para criar condições para um crescimento sustentável.

As reformas centrais do plano Milei: consolidação tributária, reformas pró-mercado e reestruturação do Estado 

Desde o primeiro dia do seu mandato, Milei definiu como prioridades a redução da dimensão do Estado, a disciplina fiscal e monetária, a liberalização cambial e financeira, bem como a desregulação económica e tributária — medidas que constituem o núcleo do seu denominado “plano motosserra”.

O Estado argentino que outrora apresentava uma dimensão excessiva, com dezoito ministérios e centenas de secretarias e subsecretarias que drenavam recursos públicos sem gerar ganhos significativos em eficiência ou qualidade dos serviços, foi alvo de uma reestruturação. Ministérios como o do Género foram extintos, passando para apenas nove ministérios, e aproximadamente 38 mil postos de trabalho no setor público foram suprimidos, representando cerca de 5% do PIB em despesas públicas.

Esta redução massiva não teve como objetivo apenas a poupança de recursos, mas também o de sinalizar ao mercado e à sociedade que o Estado deixaria de atuar como um agente predador, tornando-se disciplinado e sustentável.

A disciplina fiscal e monetária constituiu outro eixo central da reforma. Ao eliminar o financiamento monetário do défice pelo Banco Central, Milei rompeu com décadas da monetização da dívida pública, uma das principais causas da hiperinflação crónica.

Paralelamente, instituiu-se uma flexibilidade monetária controlada, permitindo à economia ajustar-se sem recorrer a intervenções artificiais que distorcessem os preços. A supressão de subsídios generalizados obrigou os consumidores e empresas a adaptarem-se a preços mais realistas, criando incentivos para uma utilização mais eficiente dos recursos.

O resultado destas medidas foi o primeiro excedente primário em catorze anos. Um sinal claro de recuperação da saúde fiscal, estabelecendo alicerces para o crescimento futuro.

A liberalização cambial e financeira teve impactos igualmente significativos. Com a eliminação do cepo cambial, Milei permitiu que indivíduos e empresas tivessem livre acesso a divisas, incentivando o investimento externo e reforçando as reservas internacionais, que atingiram cerca de 36,8 mil milhões de dólares em abril de 2025.

Importa frisar que em abril de 2025, a administração argentina renovou o acordo de swap cambial com a China no valor de 5 mil milhões de dólares. Apesar das fortes críticas ao governo de Pequim, este mecanismo permitia ao Banco Central aceder a liquidez em yuan para reforçar as reservas internacionais e assegurar compromissos de pagamento externo.

O peso argentino valorizou aproximadamente 44% faces ao dólar, tornando-se uma das moedas com melhor desempenho global em 2024. Esta valorização não restaurou apenas a confiança na moeda nacional, mas também beneficiou exportações agrícolas e energéticas, resultando num superavit comercial recorde de quase 19 mil milhões de dólares em 2024.

Este fortalecimento da moeda e da balança externa incrementou a confiança dos investidores estrangeiros. Adicionalmente, estas reformas conferiram margem de manobra ao governo para implementar políticas estruturais sem recorrer a endividamento externo.

Ademais, o governo promoveu uma desregulação fiscal e tributária significativa. Foram eliminados impostos como o Impuesto PAIS, tributações sobre cartões no estrangeiro e retenções agropecuárias, enquanto as tarifas sobre eletrônicos e bens de consumo foram reduzidas ou abolidas. Estas medidas aliviaram a carga fiscal sobre as famílias e as empresas, mas também dinamizaram o comércio e estimularam o investimento privado.

A abertura económica e o Regime de Incentivos para Grandes Investimentos incentivaram empresas como a Decathlon e a Stellantis a investir na Argentina. A Shell investiu no setor energético em Vaca Muerta e a Ganfeng Lithium comprou projetos de exploração do lítio.

Este rol de reformas gerou uma reorientação estrutural do modelo económico argentino, capaz de criar condições para a deflação, valorização da moeda, recuperação do PIB e aumento do poder de compra real.

Resultados visíveis (2024–2025): inflação, PIB, pobreza e moeda 

As reformas implementadas por Milei começaram a traduzir-se rapidamente em resultados macroeconómicos tangíveis, oferecendo um contraste notório face ao caos deixado pelo Kirchnerismo. A inflação, que no início do seu mandato se situava em níveis astronómicos — 211,4% ao ano —, registou uma trajetória de queda sustentada. Em 2024, a taxa anual caiu para cerca de 117,8%. Enquanto a inflação mensal atingiu, em maio de 2025, o nível mais baixo desde 2020, com apenas 1,5%, estabilizando em 1,6% em junho.

É tempo de reconhecer que Milei foi eleito sob a promessa de baixar a inflação, e em meados de 2026, quase sem falhas, essa inflação já não será tema.

É legítimo apontar que o aumento do desemprego formal se traduziu num crescimento expressivo do trabalho informal. Contudo, esse fator não se traduz, por si só, a um retrocesso no padrão de vida das pessoas. A estabilização monetária e o controlo da inflação eliminaram a incerteza quotidiana sobre os preços dos alimentos, enquanto a desregulação, com a consequente eliminação dos controlos de preços, permitiu corrigir distorções no mercado habitacional.

A liberalização das rendas atraiu nova oferta e contribuiu para reverter a crise imobiliária, traduzindo-se, em última instância, numa melhoria concreta das condições de vida dos contribuintes argentinos.

O impacto sobre a pobreza e a indigência foi igualmente notório. Apesar de um aumento temporário no primeiro semestre de 2024, quando a taxa de pobreza atingiu 52,9%, no início de 2025 apresentou uma redução significativa para 31,6%.

Estes números refletem a recuperação do poder de compra e da capacidade económica das famílias, mas também os efeitos de políticas sociais complementares, como a expansão da Asignación Universal por Hijo (AUH), que permitiu reduzir a pobreza infantil em mais de um milhão de crianças de acordo com os dados divulgados pela UNICEF.

No plano da produção e crescimento económico, a economia argentina mostrou sinais claros de recuperação após o choque inicial das reformas. Embora o PIB tenha registado uma contração de 1,7% ao longo de 2024, o quarto trimestre apresentou um crescimento de 5,5% em relação ao mesmo período de 2023, enquanto o primeiro trimestre de 2025 já apontava para uma expansão anualizada de 5,8%.

Isto deve-se à diversificação do tecido económico argentino. Além da aposta no setor agroexportador que é o tradicional motor da economia argentina, o governo de Milei tem igualmente sinalizado a intenção de diversificar os vetores estratégicos de desenvolvimento.  Neste sentido, destaca-se a re-aposta em energia nuclear, área na qual a Argentina possui uma tradição tecnológica relevante, e que poderá constituir um pilar de soberania energética e de competitividade industrial.

Adicionalmente, o executivo delineou medidas de desregulação orientadas para atrair capital e talento em inteligência artificial. O objetivo passa por posicionar a Argentina como um polo regional de inovação tecnológica, capaz de captar investimento externo, e integrar-se nas cadeias globais de valor associadas à economia digital.

Estes resultados demonstram que, ao contrário do que frequentemente destacam os media em Portugal, o governo de Milei não se limita a uma narrativa de escândalos políticos.

Política externa e diplomacia pragmática 

A gestão de Javier Milei não se limita à esfera económica. A sua política externa demonstra uma postura pragmática e estratégica, especialmente no contexto das Malvinas, onde a Argentina historicamente enfrentou impasses diplomáticos com o Reino Unido.

Contrariamente a abordagens confrontacionais no passado, Milei optou pela diplomacia pragmática, mantendo intacta a reivindicação de soberania argentina, mas criando canais de cooperação tangíveis que geram benefícios imediatos para a população e a economia.

Um exemplo notório foi o acordo para restabelecer um serviço aéreo entre São Paulo, Córdoba e as ilhas Malvinas, incluindo escalas mensais e a facilitação de visitas humanitárias de familiares de soldados argentinos caídos. Estas iniciativas, embora aparentemente técnicas, possuem elevado valor económico, pois permitem uma aproximação gradual com o Reino Unido, promovendo um intercâmbio económico e turístico sem comprometer a reivindicação soberana, que permanece constitucionalmente protegida.

Além do caso Malvinas, Milei demonstrou capacidade de articulação em fóruns internacionais de alto nível. A sua presença no Fórum Econômico Mundial em Davos, onde se reuniu com figuras como David Cameron, revelou uma estratégia baseada em realismo diplomático, em que a Argentina procura maximizar oportunidades de investimento, cooperação tecnológica e integração nas cadeias de valor globais.

Lições para Portugal 

O percurso econômico da Argentina sob a presidência de Javier Milei demonstra, de forma inequívoca, que reformas estruturais podem gerar resultados concretos, mesmo em contextos de desequilíbrios históricos severos. Até março de 2025 o governo registou treze superavits fiscais nominais mensais em catorze meses de mandato.

Ignorar o sucesso económico da Argentina de Milei não é jornalismo, é militância ideológica. Portugal teria muito a aprender com quem, contra todas as probabilidades, devolveu esperança a um país condenado ao fracasso. Mas a cobertura mediática portuguesa prefere noticiar escândalos como o colapso da criptomoeda $LIBRA, promovida por Javier Milei.

O caso argentino oferece lições valiosas a Portugal. A experiência de Milei demonstra que políticas fiscais rigorosas e a racionalização do Estado podem gerar resultados benéficos. O governo tem evidenciado uma notável resiliência institucional face a um Congresso que, de forma reiterada, procura obstruir e inviabilizar as reformas estruturais em curso.

O próprio Estado argentino foi mobilizado para difundir uma visão económica alternativa, como demonstra o canal público Paka Paka ao exibir a série animada Tuttle Twins, que visa introduzir às crianças os princípios do livre mercado, e a promoção do uso de criptoativos.  Este contraste torna ainda mais gritante o silêncio que reina no seio da média em Portugal.

Milei é elogiado por instituições internacionais como o FMI, e foi inclusivamente distinguido como Economista do Ano pela Ordem dos Economistas do Brasil. Quem, então, se arroga o direito de lhe apontar o dedo?

A erosão democrática começa quando órgãos de comunicação social, financiados com capitais públicos ano após ano, passam a ocultar factos, a manipular narrativas e a divulgar apenas aquilo que lhes convém. Numa democracia, a comunicação social deve pautar-se pela imparcialidade e transparência, servindo a informação e não a desinformação.

Título e Texto: Gianluca Lubrano, Observador, 31-1-2025 

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