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Navio de Emigrantes, de Lasar Segall |
Elas acreditam que a situação
ainda vai piorar muito. Não creem na ressurgência da mentalidade libertária e
acham que uma ampla maioria de brasileiros não está nem aí para a liberdade.
Estão convictas de que os brasileiros, dezenas de milhões deles, são imbecis,
analfabetos funcionais, mesquinhos, irracionais, submissos à mentalidade
autoritária e poltrões; pessoas que anseiam em controlar os outros... E que
toleram ser controladas.
Com certa relutância, sou
obrigado a reconhecer esse fato como verdadeiro. Tenho conversado muito com um
sem número de pessoas – algumas das quais provavelmente muito mais espertas do
que eu em termos de QI – que simplesmente não conseguem ligar os pontos para ter
uma ideia da figura do Brasil de hoje e de amanhã. E pior, não ligam a mínima
para isso.
Tenho dito a elas que aqueles
que dizem não gostar da política, serão governados por aqueles que gostam. O
problema delas é em grande parte tanto psicológico quanto intelectual. Esses
indiferentes parecem constituir uma subespécie defeituosa do ser humano, quem
poderíamos com alguma propriedade chamar de homo servilis, que –
tanto como uma abelha numa colmeia – estão "programados" para agir
febrilmente de modo coletivo e, portanto, aceitar o corolário de tal ideia – a
coerção – como a ordem correta e natural das coisas.
É fácil fazer com que essas
"abelhas" revelem sua verdadeira natureza. Elas nutrem uma forte
antipatia ao individualismo – e ao seu corolário, a liberdade.
Por exemplo, deixem-nas saber que você considera a adoração à celebridade nos
esportes como algo sem valor ou mera curiosidade. Ou que você não subscreve ou
participa de nenhuma religião – ou se importa muito menos com quais religiões
as outras pessoas seguem, desde que elas respeitem sua maneira de ser. Permitam
que elas descubram que você se sente revoltado em pagar mais impostos para um
governo que não oferece a contrapartida de serviços públicos pelo menos
decentes – uma obrigação apenas escrita na Constituição como ‘letra morta’ que
não parecem respeitar. Critique a situação de genocídio iminente que hoje o
estado pratica contra o aposentado, tornando-o muitas vezes incapaz de adquirir
os remédios para que possa viver um pouco mais com dignidade. Faça comentários
negativos com relação à polícia e a segurança pública que praticamente não
existe, assim como à justiça morosa e muito mal servida...
Destarte, não discordo do fato de que fazer uma baldeação de país seja provavelmente uma providência atilada. Nas atuais circunstâncias, sou forçado a concordar que os emigrantes não estão errados. Todavia, reluto em deixar minha pátria, por muitas razões – principalmente por teimosia. Este é o meu país, cáspite! Odeio a ideia de simplesmente ir embora, deixando-o para... Essas pessoas.
Dito isto, começo a desejar
que eu tivesse "ido mais fundo" quando escolhi permanecer em meu
reduto. Conscientemente, me mudei com mulher e filhos para o então Estado do
Mato Grosso, próximo à fronteira com o de São Paulo, em 1971, deixando para
trás um Rio de Janeiro – onde tinha nascido e crescido – que se deteriorava
rapidamente, econômica e politicamente e, à noite, dormia ao som das
metralhadoras pipocando nos morros e favelas próximas. Não me sentia disposto a
criar meus dois filhos naquele ambiente de ruína social e fui embora,
principalmente, para evitar que se expusessem a toda a barbárie que se
avolumava no horizonte da cidade.
Mas fico pensando que se, ao
invés disso, eu tivesse ido de armas e bagagens para, digamos, o Canadá, a
Austrália, ou a Nova Zelândia. Ou mesmo para a Islândia ou até para Dubai...
Como estaríamos vivendo hoje, mais de 40 anos depois?
Há coisas que me incomodam e
me preocupam. Por exemplo, apesar da nossa descomunal carga tributária que,
todavia, não se traduz em serviços públicos pelo menos decentes para os
contribuintes, vira e mexe, vê-se o estado paquidérmico brasileiro insistir em
aumentar impostos e manter as inexistentes contribuições que seriam necessárias
existir para que todos os serviços públicos relacionados na Constituição como
"deveres do estado", pudessem ser oferecidos de modo aceitável. Como,
por exemplo, termos escolas e universidades de padrão de "primeiro
mundo", ou hospitais modernos, limpos e em funcionamento plenos, com
médicos suficientes e outros profissionais de saúde necessários para uma
assistência médico-hospitalar que pudesse dar aos nacionais a sensação de que
toda a imensa carga de tributos e contribuições, afinal de contas, se
justificaria?
Ao discurso
"coletivista" dos políticos socialistóides dos últimos governos, se
contrapõe exatamente a situação em que se encontram as escolas, hospitais, o
transporte público (que inexiste) e praticamente tudo aquilo que deveria trazer
benefício à coletividade. Mas seus próceres se isolam numa reduzida 'burguesia'
de politiburo onde vivem em uma espécie de ilha da fantasia, como nababos do
dinheiro público, amplamente desconexos da realidade daqueles a quem de dois em
dois anos procuram para tentar obter seus votos.
Tudo é dito em termos de
coletividade, de 'nós', e não de 'eu' e de 'você’, ou 'ele', a não ser na hora
em que eles precisam engabelar o eleitor, na busca pelo voto. Aí o discurso
ganha um tom personalista e tudo é dito de maneira individualista. Fora isso,
quem ousar falar em termos individualistas é logo criticado e pode se tornar
uma pária dentro da sua comunidade.
No entanto, o que as pessoas
parecem esquecer é que o coletivismo nada mais é do que o conjunto dos
individualismos e, desrespeite-se um indivíduo apenas e toda a coletividade
estará desrespeitada. É isso o que significa a liberdade individual...
Sem ela não há liberdade coletiva, ou seja, comunitária, regional e nacional...
Nessa ordem.
Às vezes, eu gostaria de ser
linchado por uma turba furiosa. Pelo menos, eu seria um pária social de fato,
se não viesse a morrer da surra. Não seria taxado de "egoísta" ou
"antissocial"... Sinto-me perturbado com a bandidagem armada
ameaçando me matar, por um lado, e pelo governo tirando grande parte do fruto
do meu trabalho para alimentar toda a corrupção e ações que visam a minar as
instituições democráticas com a finalidade já pouco disfarçada de implantar um
sistema autoritário coletivista que, em última análise, venha a massacrar a
minha, a tua, e a nossa individualidade.
As bases para isso já estão
estabelecidas, pela precariedade desumana dos serviços públicos que a nossa
Constituição "manda" que sejam deveres e obrigações do estado.
Parece não sensibilizar mais
os brasileiros, esse "amor à liberdade" de outrora. Aprovar ou
desaprovar algo deixou de ser uma atitude de foro íntimo e resolvida em função
de princípios civilizacionais e culturais das pessoas. Tais princípios vêm
sendo corroídos e desmoralizados pela escoriocracia que está há duas décadas no
poder nesse país.
Pudera muita gente –
principalmente os que conseguiram se educar melhor e se prepararam para exercer
profissões de valor social indiscutível – não estar pensando em ir embora do
país, em busca de lugares onde seus valores sejam mais respeitados e onde haja
segurança jurídica para as suas iniciativas e para o emprego de seu
capital.
Cada vez mais, o único pecado
capital a ser cometido pelo brasileiro é o antiautoritarismo. Para o
estado brasileiro, o fato de eu não querer nada dos outros, a não ser que
respeitem meus direitos desde que minhas obrigações correspondentes sejam
cumpridas, cada vez mais é tido como uma espécie de delito subjacente contrário
a um coletivismo que não gera nada de positivo para a coletividade. E nem pode
gerar, pelo simples fato de que não produz nenhum benefício individual.
O que são todas essas
deteriorações sociais? O que se traduz de toda a corrupção praticamente
institucionalizada no país e de toda a impunidade que a garante? Sinais do
apocalipse? O fim dos tempos?
Pode até ser, mas sou levado a
crer que tudo não passa da vida barata e fácil que o brasileiro sempre levou
para ter uma enorme nação como a nossa. Agora que o mundo presta um pouco mais
atenção a esta terra (mais às suas riquezas do que ao seu povo) não sabemos
como agir, quais atitudes tomar, para ocuparmos um lugar de destaque na
humanidade atual; não estamos acostumados a grandes decisões e a passar por
maiores dificuldades.
Há mais de quarenta anos,
tomei uma decisão importante que afetou minha vida e de minha família para
sempre. Fiz o que a maioria dos brasileiros não está capacitada a fazer. E não
me arrependo em nada do que fiz, pois tenho dois filhos que se tornaram
cidadãos exemplares, incapazes de corromper ou de ser corrompidos, com suas
profissões altamente necessárias à sociedade, o que me traz a paz e a sensação
de dever cumprido fundamentais para uma despedida tranquila deste planeta.
Tal conjunto de coisas e
razões traz-me, também, a certeza de que o progresso de um povo se baseia em
grande parte na educação e no ensino e de que não teremos jamais um governo
melhor sem uma cidadania de melhor qualidade, para que gere políticos melhores,
mais probos e competentes.
Muita gente fala em mudar...
Mas poucos têm sequer uma noção para o que mudar. Mesmo os que alegam ter tal
noção, são iludidos por quimeras que nunca deram certo em lugar nenhum no mundo
onde foram postas em prática. Muitos falam em reformas, mas não são capazes de
traçar sequer esboços sobre o que e como reformar.
Alguns desistem, pegam suas
tralhas, amealham seus capitais, e simplesmente emigram para outras plagas, em
busca de melhores condições de vida e de segurança jurídica para seus negócios.
Outros, como eu e
provavelmente você, são teimosos - ou estúpidos - o suficiente para permanecer
e lutar por dias melhores. Lutar – eis aqui uma palavrinha tão mágica quanto
perigosa. Será que não teremos mesmo a menor chance de termos um país decente
sem que, a guisa do que ocorreu com as principais nações de hoje, ensopemos o
solo pátrio com o nosso sangue? Será que falta a nós, apenas, o supremo
sacrifício de defender o que queremos pela força das armas e da guerra civil?
Não haveria um meio, pacífico, razoável, de se progredir moral, cultural e
civilizacionalmente sem o morticínio fratricida?
Uns garantem que não! Mas eu,
e provavelmente você, como bons teimosos que somos, acreditamos que sim e tal
crença fica mais consolidada quando tomamos conhecimento do que é o verdadeiro FEDERALISMO.
Se o leitor acha que há um caminho, pode encontrá-lo no ideário do federalismo real. O Brasil se chama "República Federativa do Brasil" e, na verdade, não precisa mudar de nome. O que precisa é apenas fazer jus ao nome que tem e reformar a nação dentro do ideário positivista do verdadeiro federalismo.
Para tal, inteirem-se do que
digo, dedicando um pouco do seu precioso tempo a ler o conteúdo dos 'websites'
seguintes: http://www.federalista.org.br
(do Partido Federalista), http://if.org.br (do Instituto Federalista) e comecem a fazer algo mais do que apenas
reclamar e se indignar com os rumos decadentes que o nosso país começa a
trilhar.
Título e Texto: Francisco Vianna
Também publicado no blog de João Bosco Leal
Leia também:
Brasil, o que é e o que deveria ser (2)
Também publicado no blog de João Bosco Leal
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Gostei .
ResponderExcluirTatty :*