segunda-feira, 18 de junho de 2012

Brasil, o que é e o que deveria ser

Francisco Vianna
Navio de Emigrantes, de Lasar Segall
Conheço pessoas que costumam falar ativamente de seus 'planos de retirada' - de como planejam dar o fora deste país antes que as cortinas desse espetáculo de 'Mergulho no Atraso Socialista' desçam no final da peça. Isso enquanto ainda for tempo para tal. Conheço umas poucas que já se mandaram para outras plagas de mala e cuia.
Elas acreditam que a situação ainda vai piorar muito. Não creem na ressurgência da mentalidade libertária e acham que uma ampla maioria de brasileiros não está nem aí para a liberdade. Estão convictas de que os brasileiros, dezenas de milhões deles, são imbecis, analfabetos funcionais, mesquinhos, irracionais, submissos à mentalidade autoritária e poltrões; pessoas que anseiam em controlar os outros... E que toleram ser controladas.

Com certa relutância, sou obrigado a reconhecer esse fato como verdadeiro. Tenho conversado muito com um sem número de pessoas – algumas das quais provavelmente muito mais espertas do que eu em termos de QI – que simplesmente não conseguem ligar os pontos para ter uma ideia da figura do Brasil de hoje e de amanhã. E pior, não ligam a mínima para isso.

Tenho dito a elas que aqueles que dizem não gostar da política, serão governados por aqueles que gostam. O problema delas é em grande parte tanto psicológico quanto intelectual. Esses indiferentes parecem constituir uma subespécie defeituosa do ser humano, quem poderíamos com alguma propriedade chamar de homo servilis, que – tanto como uma abelha numa colmeia – estão "programados" para agir febrilmente de modo coletivo e, portanto, aceitar o corolário de tal ideia – a coerção – como a ordem correta e natural das coisas.

É fácil fazer com que essas "abelhas" revelem sua verdadeira natureza. Elas nutrem uma forte antipatia ao individualismo – e ao seu corolário, a liberdade. Por exemplo, deixem-nas saber que você considera a adoração à celebridade nos esportes como algo sem valor ou mera curiosidade. Ou que você não subscreve ou participa de nenhuma religião – ou se importa muito menos com quais religiões as outras pessoas seguem, desde que elas respeitem sua maneira de ser. Permitam que elas descubram que você se sente revoltado em pagar mais impostos para um governo que não oferece a contrapartida de serviços públicos pelo menos decentes – uma obrigação apenas escrita na Constituição como ‘letra morta’ que não parecem respeitar. Critique a situação de genocídio iminente que hoje o estado pratica contra o aposentado, tornando-o muitas vezes incapaz de adquirir os remédios para que possa viver um pouco mais com dignidade. Faça comentários negativos com relação à polícia e a segurança pública que praticamente não existe, assim como à justiça morosa e muito mal servida...

Destarte, não discordo do fato de que fazer uma baldeação de país seja provavelmente uma providência atilada. Nas atuais circunstâncias, sou forçado a concordar que os emigrantes não estão errados. Todavia, reluto em deixar minha pátria, por muitas razões – principalmente por teimosia. Este é o meu país, cáspite! Odeio a ideia de simplesmente ir embora, deixando-o para... Essas pessoas.

Dito isto, começo a desejar que eu tivesse "ido mais fundo" quando escolhi permanecer em meu reduto. Conscientemente, me mudei com mulher e filhos para o então Estado do Mato Grosso, próximo à fronteira com o de São Paulo, em 1971, deixando para trás um Rio de Janeiro – onde tinha nascido e crescido – que se deteriorava rapidamente, econômica e politicamente e, à noite, dormia ao som das metralhadoras pipocando nos morros e favelas próximas. Não me sentia disposto a criar meus dois filhos naquele ambiente de ruína social e fui embora, principalmente, para evitar que se expusessem a toda a barbárie que se avolumava no horizonte da cidade.

Mas fico pensando que se, ao invés disso, eu tivesse ido de armas e bagagens para, digamos, o Canadá, a Austrália, ou a Nova Zelândia. Ou mesmo para a Islândia ou até para Dubai... Como estaríamos vivendo hoje, mais de 40 anos depois?

Há coisas que me incomodam e me preocupam. Por exemplo, apesar da nossa descomunal carga tributária que, todavia, não se traduz em serviços públicos pelo menos decentes para os contribuintes, vira e mexe, vê-se o estado paquidérmico brasileiro insistir em aumentar impostos e manter as inexistentes contribuições que seriam necessárias existir para que todos os serviços públicos relacionados na Constituição como "deveres do estado", pudessem ser oferecidos de modo aceitável. Como, por exemplo, termos escolas e universidades de padrão de "primeiro mundo", ou hospitais modernos, limpos e em funcionamento plenos, com médicos suficientes e outros profissionais de saúde necessários para uma assistência médico-hospitalar que pudesse dar aos nacionais a sensação de que toda a imensa carga de tributos e contribuições, afinal de contas, se justificaria?

Ao discurso "coletivista" dos políticos socialistóides dos últimos governos, se contrapõe exatamente a situação em que se encontram as escolas, hospitais, o transporte público (que inexiste) e praticamente tudo aquilo que deveria trazer benefício à coletividade. Mas seus próceres se isolam numa reduzida 'burguesia' de politiburo onde vivem em uma espécie de ilha da fantasia, como nababos do dinheiro público, amplamente desconexos da realidade daqueles a quem de dois em dois anos procuram para tentar obter seus votos.

 
Tudo é dito em termos de coletividade, de 'nós', e não de 'eu' e de 'você’, ou 'ele', a não ser na hora em que eles precisam engabelar o eleitor, na busca pelo voto. Aí o discurso ganha um tom personalista e tudo é dito de maneira individualista. Fora isso, quem ousar falar em termos individualistas é logo criticado e pode se tornar uma pária dentro da sua comunidade.

No entanto, o que as pessoas parecem esquecer é que o coletivismo nada mais é do que o conjunto dos individualismos e, desrespeite-se um indivíduo apenas e toda a coletividade estará desrespeitada. É isso o que significa a liberdade individual... Sem ela não há liberdade coletiva, ou seja, comunitária, regional e nacional... Nessa ordem.

Às vezes, eu gostaria de ser linchado por uma turba furiosa. Pelo menos, eu seria um pária social de fato, se não viesse a morrer da surra. Não seria taxado de "egoísta" ou "antissocial"... Sinto-me perturbado com a bandidagem armada ameaçando me matar, por um lado, e pelo governo tirando grande parte do fruto do meu trabalho para alimentar toda a corrupção e ações que visam a minar as instituições democráticas com a finalidade já pouco disfarçada de implantar um sistema autoritário coletivista que, em última análise, venha a massacrar a minha, a tua, e a nossa individualidade. 

As bases para isso já estão estabelecidas, pela precariedade desumana dos serviços públicos que a nossa Constituição "manda" que sejam deveres e obrigações do estado.

Parece não sensibilizar mais os brasileiros, esse "amor à liberdade" de outrora. Aprovar ou desaprovar algo deixou de ser uma atitude de foro íntimo e resolvida em função de princípios civilizacionais e culturais das pessoas. Tais princípios vêm sendo corroídos e desmoralizados pela escoriocracia que está há duas décadas no poder nesse país.

Pudera muita gente – principalmente os que conseguiram se educar melhor e se prepararam para exercer profissões de valor social indiscutível – não estar pensando em ir embora do país, em busca de lugares onde seus valores sejam mais respeitados e onde haja segurança jurídica para as suas iniciativas e para o emprego de seu capital. 

Cada vez mais, o único pecado capital a ser cometido pelo brasileiro é o antiautoritarismo. Para o estado brasileiro, o fato de eu não querer nada dos outros, a não ser que respeitem meus direitos desde que minhas obrigações correspondentes sejam cumpridas, cada vez mais é tido como uma espécie de delito subjacente contrário a um coletivismo que não gera nada de positivo para a coletividade. E nem pode gerar, pelo simples fato de que não produz nenhum benefício individual.

O que são todas essas deteriorações sociais? O que se traduz de toda a corrupção praticamente institucionalizada no país e de toda a impunidade que a garante? Sinais do apocalipse? O fim dos tempos?

Pode até ser, mas sou levado a crer que tudo não passa da vida barata e fácil que o brasileiro sempre levou para ter uma enorme nação como a nossa. Agora que o mundo presta um pouco mais atenção a esta terra (mais às suas riquezas do que ao seu povo) não sabemos como agir, quais atitudes tomar, para ocuparmos um lugar de destaque na humanidade atual; não estamos acostumados a grandes decisões e a passar por maiores dificuldades.

Há mais de quarenta anos, tomei uma decisão importante que afetou minha vida e de minha família para sempre. Fiz o que a maioria dos brasileiros não está capacitada a fazer. E não me arrependo em nada do que fiz, pois tenho dois filhos que se tornaram cidadãos exemplares, incapazes de corromper ou de ser corrompidos, com suas profissões altamente necessárias à sociedade, o que me traz a paz e a sensação de dever cumprido fundamentais para uma despedida tranquila deste planeta.

Tal conjunto de coisas e razões traz-me, também, a certeza de que o progresso de um povo se baseia em grande parte na educação e no ensino e de que não teremos jamais um governo melhor sem uma cidadania de melhor qualidade, para que gere políticos melhores, mais probos e competentes. 

Muita gente fala em mudar... Mas poucos têm sequer uma noção para o que mudar. Mesmo os que alegam ter tal noção, são iludidos por quimeras que nunca deram certo em lugar nenhum no mundo onde foram postas em prática. Muitos falam em reformas, mas não são capazes de traçar sequer esboços sobre o que e como reformar.

Alguns desistem, pegam suas tralhas, amealham seus capitais, e simplesmente emigram para outras plagas, em busca de melhores condições de vida e de segurança jurídica para seus negócios.

Outros, como eu e provavelmente você, são teimosos - ou estúpidos - o suficiente para permanecer e lutar por dias melhores. Lutar – eis aqui uma palavrinha tão mágica quanto perigosa. Será que não teremos mesmo a menor chance de termos um país decente sem que, a guisa do que ocorreu com as principais nações de hoje, ensopemos o solo pátrio com o nosso sangue? Será que falta a nós, apenas, o supremo sacrifício de defender o que queremos pela força das armas e da guerra civil? Não haveria um meio, pacífico, razoável, de se progredir moral, cultural e civilizacionalmente sem o morticínio fratricida?

Uns garantem que não! Mas eu, e provavelmente você, como bons teimosos que somos, acreditamos que sim e tal crença fica mais consolidada quando tomamos conhecimento do que é o verdadeiro FEDERALISMO.

Se o leitor acha que há um caminho, pode encontrá-lo no ideário do federalismo real. O Brasil se chama "República Federativa do Brasil" e, na verdade, não precisa mudar de nome. O que precisa é apenas fazer jus ao nome que tem e reformar a nação dentro do ideário positivista do verdadeiro federalismo.
Para tal, inteirem-se do que digo, dedicando um pouco do seu precioso tempo a ler o conteúdo dos 'websites' seguintes: http://www.federalista.org.br (do Partido Federalista), http://if.org.br (do Instituto Federalista) e comecem a fazer algo mais do que apenas reclamar e se indignar com os rumos decadentes que o nosso país começa a trilhar.
Título e Texto: Francisco Vianna

Também publicado no blog de João Bosco Leal

Leia também:
Brasil, o que é e o que deveria ser (2)

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