sábado, 24 de agosto de 2013

A incompetência e possivelmente a má-fé são as principais travas do Brasil


Francisco Vianna
A AP (Associated Press) por esses dias distribuiu um artigo de Melvin Backman para o jornal americano The Wall Street Journal em que o articulista tenta explicar por que “os mercados do Brasil são os que mais têm sofrido nos últimos dois anos”.
O analista alega uma combinação de turbulência interna e a preocupação de Brasília com as decisões do Federal Reserve (FED), o banco central americano, que vem castigando um dos maiores mercados emergentes do mundo, muito mais do que os seus similares.
Para constatar se ele tem ou não razão, basta observar que o índice IBOVESPA, referência do mercado acionário brasileiro, em quatro anos, atingiu o nível mais baixo de sua história recente com o mesmo acontecendo com o real em relação ao dólar.

O país tem assistido diversas e contínuas manifestantes sob a forma de passeatas intencionalmente pacíficas, mas que recebem um contingente de arruaceiros pagos pela esquerda no poder para aproveitar tais manifestações e promover quebra-quebras e episódios lamentáveis de vandalismo contra propriedades públicas e privadas, gerando incertezas sobre os caminhos que o Brasil irá trilhar no futuro próximo. Tal falta de regras claras para a política e a economia costuma gerar fuga de capitais e é isso que está ocorrendo no Brasil de hoje como um reflexo de seus problemas estruturais, que vão muito além dos protestos de rua.
Mas esses problemas, até pouco tempo atrás não impediam a criação de oportunidades de negócio tanto para os capitais brasileiros como para os que aportavam ao país, atraídos pelo vigor aparente dos seus mercados.

Mas, com a gestão pálida e ineficiente do atual governo, progressivamente, os investidores, primeiro os de fora e agora os autóctones, parecem estar diversificando os locais de aplicação de seus capitais em países que oferecem mais estabilidade jurídica e eficiência governamental, aliadas à economia de livre mercado, e resolveram “dar um tempo” ao Brasil, até que a poeira baixe de modo a visualizarem com maior nitidez para onde vai a, ainda, maior economia da América Latina.

Ben Bernanke, diretor do Federal Reserve, prestando depoimento no congresso americano em 2012.

A verdade é que os ventos de progresso financeiros – muito mal geridos e mal aproveitados pelos governos petistas – sopraram nos últimos anos no Brasil em função do afrouxamento monetário do FED que começou a imprimir dólares sem lastro para acudir a fase aguda da crise do subprime e subsequentes e ainda poder continuar arcando com as despesas milionárias de suas ações militares globais. Ocorre que os investidores, tanto externos como internos, começaram a se preocupar e a se tornar muito mais cautelosos a partir do momento em que o gerente do FED, Ben Bernanke, começou a tomar medidas que sinalizam o possível fim desse afrouxamento monetário.

Isso, entre outras coisas, fez o IBOVESPA cair 17,1%, de longe a maior queda em relação aos índices de referência, por exemplo, de Peru e Índia – dois mercados emergentes com elevados déficits em conta corrente e com classificação de crédito situada acima do nível de “alto risco” – que tiveram quedas respectivas de 8,3 e de 7,1% nos seus índices.
Todavia, outra verdade é a de que os problemas brasileiros na área econômica vêm de bem antes dessas medidas do FED. Nos últimos três semestres, os fundos de ações de mercados emergentes com sede nos EUA receberam, em média, 3,5 bilhões de dólares mensais em aplicações (dados da Thomson Reuters). No sentido contrário, os fundos de ações brasileiros lá sediados sofreram uma sangria 179 milhões de dólares/mês, em média, no mesmo período. Enquanto o IBOVESPA despencava 19%, o índice MSCI de ações de mercados emergentes ganhava meio ponto percentual desde o réveillon de 2011, com tal queda preocupando mesmo os maiores fãs dos mercados emergentes.

É claro que esse quadro exibe uma migração de capital que só pode ser creditada ao FED por néscios que nada entendem de capitalismo atual.
Até Win Thin, diretor global de mercados emergentes da Brown Brothers Harriman & Co., que se considera um otimista em relação aos mercados emergentes, disse que está alertando seus clientes para que mantenham seus capitais longe do Brasil, pelo menos por um semestre, até vislumbrarem para onde o atual governo petista irá caminhar, se vai subir a ladeira da segurança jurídica e dos investimentos em infraestrutura ou se vai descer a ladeira das estatizações e do distributivismo, como ocorre na Argentina e na Venezuela.

“O próprio Brasil precisa decidir para onde quer ir, pois a política de afrouxamento monetário dos EUA (e, aliás, também de outros países do G10) – e que foi o grande fator que alavancou os mercados emergentes – não tem previsão para ser novamente posta em prática. Agora, que o dinheiro fácil já não está tão fácil, as fugas de capital da maioria dos mercados ativos emergentes nos próximos dois trimestres ocorrerão muito mais por fatores internos do que por externos", disse o articulista no blog do jornal.

A queda das ações brasileiras nos mercados mundiais e na BOVESPA fizeram murchar as esperanças de recuperação de um 2012 fraco, com relação a novas aberturas de capital no país, não importando, é claro, de onde ele provenha. O blog a que me refiro acima é o MoneyBeat do jornal WSJ de Nova Iorque, onde se pode ter acesso às matérias desse articulista e de outros.
No último mês, a Votorantim Cimentos, por exemplo, suspendeu suas operações de captação em bolsas de valores alegando “más condições de mercado” e o blog MoneyBeat informou que a empresa aérea Azul também congelou seus planos de venda de ações.

Para alguns entendidos, não há sinais de recuperações visíveis no horizonte econômico brasileiro, pessimamente influenciado por uma equipe ministerial reconhecida como amplamente incompetente – e até mal-intencionada – como a chefiada por Mantega.
O Brasil está sendo vítima da fuga dos capitais que costumam fluir para os mercados emergentes graças a sua falta de fundamentos capitalistas modernos, que também contribui de forma marcante para as quedas de seus mercados. Graças a isso, a indefectível agência Standard & Poor's está a considerar um rebaixamento na sua classificação de crédito.

Rafael Dix-Carneiro, um brasileiro professor assistente de economia da Universidade de Maryland, disse que “o país tem problemas que vão mais fundo do que os muito alardeados protestos contra a corrupção e o aumento das tarifas de ônibus”. Os erros crassos de sucessivos governos intervencionistas, criando gatilhos econômicos que não se sustentam à luz da ciência econômica, começam a gerar inflação crescente – que esta semana fez Brasília comprar 60 bilhões de dólares numa tentativa desesperada de decadente de conter a alta do dólar – com preços das mercadorias em baixa, num aparente contracenso econômico.

O pior é que os sinais de Brasília apontam no sentido de caminhos políticos resultantes do alinhamento com o socialismo “bolivariano” que têm lançado a Argentina e a Venezuela no fundo poço do retrocesso social, gerado dúvidas sobre o seu desempenho econômico no curto e no médio prazo.
Em vista do que aqui exponho, a conclusão a que chego é a de que, apesar dos recentes desdobramentos da política econômica dos EUA – cuja economia já dá sinais de franca recuperação – a combinação sinistra da inflação, já situada acima do nível de comodidade do Banco Central, com as previsões realistas de crescimento econômico sendo revisadas para baixo, mostra com crescente nitidez a enorme incompetência – se não má-fé – dos atuais dirigentes do país.

Tivesse o Brasil uma Constituição parecida com a do Paraguai e os poderes Judiciário e Legislativo do país teriam tudo para votarem o “julgamento político” de Dilma Roussef e destituí-la da presidência, caso, é claro, tais poderes não estivessem tão cooptados pelo executivo quanto estão atualmente.
Título e Texto: Francisco Vianna, (com base em matéria do jornal americano The Wall Street Journal), sábado, 24 de agosto de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-