terça-feira, 5 de novembro de 2013

Dia de culto ao ódio antiamericano no Irã

Francisco Vianna
Todo ano, no aniversário da tomada da embaixada americana em 1979, o governo islamofascista de Teerã promove passeatas e manifestações de ódio aos EUA, que, no fundo, serve para encobrir o ódio que nutrem ao Ocidente.

Dezenas de milhares de pessoas se reúnem em pontos pré-determinados para queimar bandeiras dos EUA e gritar o refrão "Morte à América", para marcar a tomada da representação diplomática estadunidense e a captura de reféns.

Manifestantes iranianos queimam uma bandeira americana durante uma manifestação antiamericana em Teerã, na segunda-feira, 4 de novembro de 2013.
A multidão de manifestantes convocada pelos religiosos políticos do regime persa encheu as ruas na segunda-feira, aglomerando-se do lado de fora do prédio da antiga embaixada dos EUA em Teerã, na maior manifestação antiamericana no ano, uma demonstração de apoio aos linhas-duras opositores do presidente Hassan Rouhani.

Esta celebração anual de ódio cria um ambiente perigoso na área de maior concentração humana, pois os ânimos beligerantes não raro causam brigas feias e até mortes entre os celebrantes.

A demonstração de hoje foi a maior dos últimos anos, em função da dissidência entre os apoiadores do Presidente Rouhani, que querem uma diminuição do ódio e um aumento do entendimento, e a turba convocada pela poderosa Guarda Revolucionária, que promove uma grande exibição de ódio, incluindo gritos de "morte à América".

A sociedade persa de hoje está profundamente dividida entre esses dois grupos, o pró-ódio e contra a atitude do novo Presidente, e o que quer a negociação com os EUA e um apaziguamento do ódio.

Os que não querem qualquer entendimento com os EUA e com o Ocidente dizem que não vão recuar, abrindo a perspectiva de agravamento das profundas divergências e tensões internas com o outro grupo, as quais podem pressionar Khamenei a reconsiderar o seu apoio de trocas inovadoras de Rouhani com os EUA.

Meninas de escolas iranianas levantam as palmas das mãos onde se lê, em persa, "Morte à América", durante uma manifestação antiamericana em Teerã, no Irã, segunda-feira, 4 de novembro 2013
Em setembro, Rouhani aceitou conversar por telefone com o presidente dos EUA, Barack Obama, após a Assembleia Geral anual da ONU em Nova Iorque, onde o secretário de Estado John Kerry EUA já havia se reunido com o ministro das Relações Exteriores iraniano. Os laços entre os dois países foram cortadas após o cerco da embaixada e a tomada de reféns, que gerou uma crise que só não evoluiu para uso da força militar em respeito aos próprios reféns, ao todo 52 pessoas que permaneceram detidas por 444 dias.

Os radicais, que não querem o diálogo, apresentaram as suas assertivas que foram imediatamente conhecidas, lançando insultos e ovos na comitiva de Rouhani após o seu regresso de Nova Iorque.

No mês passado, enormes banners apareceram em torno de Teerã retratando os EUA como um adversário sinistro e enganoso que visa enfraquecer o Irã. Funcionários de Teerã ordenaram que os cartazes fossem removidos, mas eles tornaram a aparecer na manifestação de segunda-feira do lado de fora da antiga embaixada.

Os manifestantes também pisotearam imagens de Obama e da bandeira dos EUA. Outros carregavam bandeiras onde inscrições conhecidas diziam "nós pisamos na América sob os nossos pés" e "Os EUA são o Grande Satã". Uma imagem mostra Obama em um uniforme de luta com a estrela de David usada como brincos, simbolizando Israel.

No domingo, Khamenei parecia repreender os linhas-duras denunciando qualquer tentativa de minar a ação dos negociadores nucleares iranianos. As conversas com as potências mundiais estão programadas para recomeçar quinta-feira próxima, em Genebra.

Uma manifestante iraniana queima uma representação da bandeira americana com a estrela de David e a suástica nazista sobre ela, durante uma demonstração anual de ódio anti-americano em Teerã, no Irã, ontem, 04-11-2013
A agência de notícias estatal do Irã, a IRNA diz que “os diplomatas estão numa missão difícil e ninguém deve fazer qualquer coisa que possam enfraquecê-los", e citou Khamenei, “que é o manda-chuva e tem palavra final sobre todos os assuntos de Estado”, como diz um grupo de alunos.

Irã pretende conseguir o abrandamento das sanções da ONU em troca de algumas concessões de seu programa nuclear, tal como a de permitir a supervisão irrestrita dos técnicos da AIEA da ONU, que já prometeram que, se isso ocorrer, estariam dispostos a ajudar Teerã a produzir eletricidade a partir dos seus reatores à base de água pesada. Mas para isso, o Irã tem que permitir que todo o urânio que necessitam seja armazenado em locais no mundo dentro do controle total da agência internacional da ONU. Somente isso afastaria a preocupação do Ocidente, que é a da produção de tório (urânio enriquecido) para a fabricação da bomba atômica.             

Do lado de fora das paredes de tijolos à vista da antiga embaixada americana – coberto com cartazes antiamericanos – alunos de escola aparecem diante de um modelo de centrífuga usada no enriquecimento de urânio e uma frase que dizia: "Resultado da resistência contra sanções: 18.000 centrífugas ativas no Irã". Outra faixa cita Khamenei: "O objetivo das sanções é fazer com que a nação iraniana fique desesperada". O apoio que o novo presidente Rouhani recebe de Khamenei também lhe atribui uma capacidade ainda desconhecida de tranquilizar os linhas-duras de que ele não abandonou as suas opiniões.

Khamenei elogiou no domingo os “estudantes militantes” iranianos que invadiram a Embaixada dos EUA em 1979. "Trinta anos atrás, os nossos jovens chamaram a embaixada dos EUA de um ‘antro de espiões’... Isso significa que os nossos jovens na época estavam 30 anos à frente do seu tempo", disse o clérigo, em referência a uma série de denúncias de escutas EUA sobre líderes estrangeiros, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel.

Mohsen Rajabi, um manifestante linha-dura, ecoou os dizeres do Chefe Supremo dizendo que "eles ilegalmente escutaram celulares da Primeira-Ministra alemã e da presidente brasileira. Eles escutam seus aliados e não são fiéis a eles. Como eles podem se comprometer com eles?", disse Rajabi. "Também não irão se comprometer conosco. Suas alegações são mentiras, e seus truques são para impedir o nosso progresso".
Título e Texto: Francisco Vianna, 05-11-2013

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