segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A obsessão antiamericana (IV)

Mais uns parágrafos do excelente livro de Jean-François Revel, A obsessão antiamericana:
 
“Se a Europa se recusa a ver no terrorismo uma ameaça é talvez porque a sua capacidade de intervenção militar se degradou no decorrer dos últimos dez anos, enquanto que a dos Estados Unidos não cessou de aumentar e de se aperfeiçoar, cavando entre as duas Uniões um fosso estratégico já impossível de transpor. Com base na sua impotência, a Europa formula um princípio.

A teoria de que o terrorismo resulta unicamente das desigualdades económicas e da pobreza do mundo, não resiste a qualquer análise. A maioria dos terroristas provém de meios abastados dos países islâmicos mais ricos, tendo muitos deles seguido cursos universitários no Ocidente. A fonte do novo ‘hiperterrorismo’ é essencialmente ideológica: é o extremismo islâmico.

Como escreveu Francis Fukuyama, ‘o presente conflito não constitui um choque de civilizações no sentido em que se defrontam zonas culturais da mesma importância, é mais próprio de um combate de retaguarda conduzido por aqueles que se sentem ameaçados pela modernização e pela sua componente moral, o respeito pelos direitos do homem’. Para os terroristas islâmicos, continua Fukuyama, o inimigo absoluto é o ‘caráter laico do conceito ocidental dos direitos, conceito esse que está nas origens da tradição liberal’. Esta tradição liberal que é o horror dos ocidentais que são adversários da globalização.

Isto não quer dizer que não se deva fazer tudo quanto for possível para facilitar o desenvolvimento dos países pobres. Mas as ajudas não chegam, se forem delapidadas e desviadas. A solução de fundo passa pelas reformas: a boa gestão económica, a democratização política, a educação laica, a erradicação da corrupção, a igualdade entre homens e mulheres, a liberdade de informação, o pluralismo dos credos, a tolerância, em suma, tudo aquilo a que se opõe o extremismo islâmico, tudo aquilo que odeia e que combate por via do terrorismo que alimenta. Para todos os países pobres, o meio de reduzir a distância que os separa dos países ricos é a modernização. Ora é precisamente isso que os islamitas não querem, pelo menos sob a forma que seria eficaz, pois para a pôr em prática seria renunciar à sharia.”

“Quando em 1986 os Estados Unidos bombardearam a Líbia em represália pelos atos terroristas cometidos na Alemanha contra militares americanos, inscreveram-se numa incontestável lógica de guerra. Tal como Kadhafi, que ripostou lançando mísseis Scud sobre a ilha italiana de Lampedusa. Os hipócritas europeus do costume velaram a face perante a nova e perigosa cavalgada do ‘cowboy de série B’ que ocupava a Casa Branca. Com exceção do governo britânico, os governos europeus chegaram a interditar os seus espaços aéreos ao ‘aliado’ americano, comportando-se de fato, como aliados de Kadhafi. Foi nomeadamente o caso da França, sempre a mais zelosa quando se trata de se prosternar aos pés de um ditador. Foi devidamente recompensada, pois em 1989 os terroristas à ordem de Kadhafi fizeram explodir um avião da UTA-Air France, que fazia a ligação Brazzaville-Paris, matando 170 pessoas. Já em 1988 tinha ocorrido a explosão de um avião da Pan Am sobre Lockerbie, na Escócia, causando 270 mortes. Não havia dúvida de que, no espírito de Kadhafi, o terrorismo era a guerra.”

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