Pierre-Antoine Delhommais
Ele queria atacar o laxismo orçamentário. A
dívida pública aumenta.
Enquanto a França debate e manifesta,
seu déficit público aprofunda o buraco. Desde há dois anos, ele tinha
conseguido, não sem esforço, depois de uma década de deambulações, a descer até
à barra dos 3% do PIB. Mas ele vai ultrapassar essa barra em 2019, para se
estabelecer em 3,2% do PIB: uma consequência direta das medidas anunciadas em
dezembro para responder à irritação dos coletes amarelos; prova, sobretudo, da
insustentável ligeireza orçamentária dos governos da França.
Como constata com severidade, mas com
lucidez o economista Charles Wyplosz em artigo publicado no site Telos: “Eis o déficit público crescendo. Desde há
quarenta e cinco anos – o último exercício equilibrado foi em 1973 –, é sempre
a mesma coisa. Existe sempre uma circunstância qualificada de excepcional para
adiar para amanhã o que é necessário fazer hoje, já que não se fez ontem; neste
caso, colocar em ordem as contas públicas. Emmanuel Macron havia manifestado a
firme intenção de parar com este laxismo. Alguns coletes amarelos mais tarde,
ele caiu de novo na sopa. Desesperador.”
Mais desesperador ainda é quando
comparamos a situação da França com a que é observada no resto da zona euro,
cujo déficit será limitado, em média, a 0,8% do PIB, e onde nada menos do que
10 Estados apresentarão um excedente orçamentário. Não só o nosso país exibirá
em 2019 o déficit mais elevado da zona, bem superior ao de 2% do câncer
italiano, a quem Paris quer dar lições de boa gestão, mas será também o único a
estar fora das determinações de Maastricht de 3%.
Alargando, desta vez, aos 28 membros
da União Europeia, somente a Romênia, que é um pequenino consolo, deverá este
ano apresentar contas públicas mais desequilibradas do que as nossas. Enfim, de
todos os países europeus a França será o que menos aproveitou do ciclo de
crescimento que o Velho Continente passou para pôr em ordem as finanças
públicas, desordenadas pela crise das subprimes.
Isto significa que quando chegar a
próxima recessão, a França será também a mais mal colocada, sob o plano
orçamental, para fazer face, para tomar as medidas de relançamento e
sustentação da atividade econômica. O dinheiro gasto hoje para os coletes
amarelos, é dinheiro de menos disponível para as vítimas das crises por vir.
Claro, podemos considerar que o
governo de Édouard Philippe não tinha outra opção, para evitar que o país mergulhe
num caos completo, que a de pegar o talão de cheques. Podemos também estimar
que ele cedeu rapidamente aos bloqueios nas rotatórias e à violência das
manifestações, com, à chegada, uma conta bastante salgada (15 bilhões de euros
para 100 000 manifestantes, ou seja, 150 000 euros por cada colete amarelo). O
que é certo é a que a sua resposta consistiu em combater o mal com o mal; a
dopar artificialmente o nível de vida dos franceses endividando o país como
fizeram todos os governos desde décadas; a aumentar ainda mais as despesas
públicas que já atingiam um recorde, com como corolário a pressão fiscal, esta
também recorde.
A conta é bastante salgada: 15 bilhões de euros para 100 000
manifestantes, ou seja, 150 000 euros por cada colete amarelo.
Os estragos econômicos causados pela
crise dos coletes amarelos arriscam, infelizmente, de não se limitarem somente
às contas públicas, mas também a de se fazer sentir nas cabeças, reforçando a
visão administrada e estatista que os franceses têm da economia, a ideia que o
governo, no fundo, pode tudo. E que pressionando-o, queimando alguns pedágios,
pilhando lojas e ferindo alguns policiais, poder-se-á, da noite para o dia,
aumentar o poder de compra de milhões de franceses.
O perigo é sobretudo o de entreter os
franceses com as suas ilusões keynesianas, com a opinião majoritária e
intimamente convencida que a despesa pública é o melhor meio, em todas as
circunstâncias, de favorecer a atividade econômica. Logo, vemos economistas,
nos estúdios de televisão, explicar com cara confiante e satisfeita, sem dizer,
é claro, nenhuma palavra sobre o déficit e a dívida, que as medidas urgentes
econômicas e sociais em favor das famílias vão fomentar este ano o crescimento
do PIB. Claro, o suficiente para justificar e excitar mais ainda a loucura
gastadora coletiva.
Se acrescentarmos os recentes e
surpreendentes argumentos de Bruno Le Maire [foto acima] (Ministro da Economia e
Finanças), que apelou “a refundar o capitalismo” ou do Chefe de Estado, ele
mesmo, que denunciou “uma Europa ultraliberal”, concluímos que o quinquênio
arrisca bastante, na saída da rotatória mantida pelos coletes amarelos, de se
engajar de maneira muito inesperada e, sobretudo, muito inquietante na rota do
socialismo e não na do social-liberalismo inicialmente prevista.
Título e Texto: Pierre-Antoine Delhommais, Le Point nº
2423, 7-2-2019
Tradução e Digitação: JP, 19-2-2019
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