Alberto Gonçalves
Visto que em Portugal a direita se define
por ser tudo aquilo de que a esquerda não gosta, eu defino-me por não gostar de
tudo aquilo o que a esquerda é. Quanto à direita, tem dias. E tem direitas.
Em centenas de crónicas,
milhares de conversas e milhões de pensamentos (é verdade, penso imenso), julgo
que nunca por uma vez me afirmei de direita. Sobretudo porque não sei bem o que
a direita é. Definir a esquerda é fácil: vai da moderada, que saqueia os
cidadãos para financiar clientelas, destrói quem resistir ao saque e no médio
prazo arrasa a economia, à radical, que saqueia os cidadãos para financiar
clientelas, destrói quem discordar do saque e no curto prazo arrasa a economia.
Para compor o ramalhete, a esquerda acrescenta umas palavras meiguinhas,
simpáticas e falsas como Judas.
A direita é uma confusão. Há a
direita que se confunde com a esquerda moderada. Há a direita que se confunde
com a esquerda radical. Há a direita que combate ambas pelos melhores motivos.
Há a direita que combate ambas por motivos duvidosos. Há a direita que só é direita
porque se diz direita. Há a direita que só é direita porque a dizem direita. Há
a direita que teima não ser direita. Há a direita liberal-conservadora. Há a
direita conservadora que não é liberal. Há a direita liberal que não é
conservadora. Há direita nacionalista. Há a direita “europeísta”. Há a direita
“mundialista”. Há a direita autoritária. Há a direita moderna. Há, em suma,
balbúrdia bastante para que unicamente os esquizofrénicos se sintam, assim sem
mais, de direita.
A situação é global. Em Portugal,
é fatalmente pior. O problema começou quando, durante as primeiras quatro
décadas de democracia, a direita esteve representada por dois singelos
partidos, nenhum, por acaso, assumidamente de direita. Isso não impedia – de
facto obrigava – que recolhessem os votos das pessoas que se assumiam de
direita, fosse de que direita fosse. E o problema não se resolveu agora, quando
cada parcela da direita aparentemente decidiu arranjar o seu próprio partido,
numa explosão de representatividade que urge explicar a benefício do eleitor
distraído. Por azar, para explicar um fenómeno (ou meia dúzia deles) é
aconselhável compreendê-lo antes. E eu não compreendi grande coisa.
O PNR.
É certo que o PNR já existe há tempos. Dado que praticamente ninguém reparou, é
o mesmo do que ter nascido ontem. Do pouco que sei, o PNR aprecia a pátria, “Os
Lusíadas”, um Salazar por esquina ou rotunda, a ordem, a disciplina, a
regulação da economia e, corrijam-me se estiver enganado, uma pureza racial (ou
as “diferenças entre raças”) cujos fundamentos me escapam. Não sei se o PNR
aprecia “skinheads”. Suponho, corrijam-me de novo, que os “skinheads” apreciam
o PNR. Avaliação: para saudosistas do progresso experimentado por volta de
1942.
Aliança. A mais
recente birra, perdão, projecto de Santana Lopes. Pretende ser a alternativa ao
PSD para quem julga, com abundante razão, que o PSD do dr. Rio é uma sucursal,
em pousio, do PS. Leio, a título informativo, que o “Aliança é um partido com
causas muito próprias que não se confundem com as de outros”. O engraçado é que
não distingui nenhuma. O Aliança afirma-se “patriótico” e – fazia falta – de
“centro”. Não satisfeito, defende “os princípios, os valores e os costumes que
integram a identidade nacional e a sua história multissecular”. Detecto aqui um
eventual remoque ao avanço dos delírios do “politicamente correcto”. Não
detecto que espécie de “princípios, valores e costumes” da nossa “identidade”
devemos preservar com tamanho afinco. Avaliação: o João Gonçalves, das pessoas
mais lúcidas que conheço, meteu-se nisto, logo é capaz de haver algum mérito
menos óbvio.
Chega. O Chega
ergueu-se (não muito) em redor de um senhor que apoia o Benfica em programas
televisivos. Para os benfiquistas, será programa suficiente, a que acresce um
“justicialismo” popular contra, talvez especificamente, ciganos, beneficiários
do rendimento mínimo, abortos e, creio, portistas. Não posso ir longe na
análise na medida em que o “site” do Chega não funciona e a página do Facebook
parece concebida na Bolívia. Avaliação: chega de internet, vejam a CMTV.
Democracia 21.
Disseram-me que, formalmente, o D21 ainda não é um partido. Isso não o impediu
de se aliar ao Chega nas “europeias”, embora me impeça de me alargar nos
comentários. Deduzo que seja contra a ciganada, os parasitas do RSI, as
galdérias que abortam à balda e, quem sabe, os portistas. Avaliação: consta que
o D21 é feminista.
Partido Libertário. O
Partido Libertário encontra-se em fase de recolha de assinaturas para se
constituir oficialmente como tal. Colaborem, por favor: além de eu conhecer por
lá gente decentíssima, possui um programa em prol da liberdade com o qual,
salvo pormenores, é humanamente impossível discordar. Com sorte, o PL cumprirá
o seu destino e nunca chegará a oficializar-se. Avaliação: não se metam nisto.
Iniciativa Liberal. O
Carlos Guimarães Pinto é um sujeito brilhante numa terra repleta de
“brilhantes” idiotas. E é o presidente da IL. E tem quase sempre razão. E não
está sozinho. Lamentavelmente, o IL enfiou-se numa senda pela descentralização
que passa pela “valorização das autarquias”, o que afronta os princípios,
valores e costumes da minha identidade pessoal. Avaliação: se, entretanto, se
lembrarem do magnífico cadastro do “poder local” e agirem em conformidade,
prometo votar na IL.
Estes são partidos de direita?
Não importa, visto que em Portugal a direita se define por ser tudo aquilo de
que a esquerda não gosta. Por mim, defino-me por não gostar de tudo aquilo o
que a esquerda é. Quanto à direita, tem dias. E tem direitas.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Observador,
16-2-2019
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