segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

[Foco no fosso] Lama no esporte

Haroldo P. Barboza

Antecipando a queda

A final da taça Guanabara de futebol (RJ), em 17 de fevereiro de 2019, foi a maior piada (quase trágica) esportiva que o mundo tomou conhecimento desde a criação da FIFA.

Movidos por vaidades, dirigentes do Vasco e do Fluminense criaram uma polêmica sobre assentos (os ainda não destruídos) que as torcidas ocupariam no Maracanã. O dirigente máximo da federação carioca, sem pulso firme para definir a questão, piorou o assunto por seu silêncio.

Numa sequência cronológica resumida tivemos os seguintes fatos no dia do jogo, faltando menos de dez horas para início da partida.

07h30min - Uma Juíza acabou decretando que o jogo seria realizado com portões fechados e multa de R$ 500.000,00 no caso de descumprimento.

12h30min – Presidente do Fluminense incita seus torcedores a não comparecerem ao estádio para evitar tumultos (já em ebulição) nas imediações do estádio.

13h00min – diversos funcionários do estádio foram dispensados devido a não existirem torcedores dentro do complexo esportivo. Diversos comerciantes (e vendedores ambulantes) que prepararam lanches para quase 60.000 torcedores ficaram sem saber o que fazer com a alimentação perecível estocada.

14h00min – Surgiu uma reunião na federação (ao lado do estádio) entre dirigentes esportivos e da segurança pública quanto ao risco de tumulto entre torcedores que compraram ingressos e vieram de municípios próximos. Sentados dentro do estádio haveria menos riscos de confrontos.

15h15min – Ficou decidido que os torcedores poderiam entrar. Mas faltava um documento oficial exibindo esta decisão a ser entregue ao comando policial (JECRIM) dentro do estádio. Documento que foi entregue uma hora depois. Neste intervalo, centenas de torcedores estavam comprando ingressos e se aglomerando diante dos portões protegidos pela PM!

16h45min – A consagração dos incompetentes: JECRIM não autorizou abertura dos portões! Explodiu a revolta de torcedores (consumidores) sacaneados mais uma vez.

17h00min – O jogo começou. Mas quem se importou com isto? Para os jogadores produzindo um pobre futebol até estava melhor não havendo torcedores para testemunharem uma peleja sem emoções.

17h05min – torcedores burlados e irados começaram a ser contidos na base de gás lacrimogênio e cassetetes. Dezenas de adultos feridos. Centenas de menores (abaixo de 12 anos) assustados com a selvageria causada pelos dirigentes que afirmam que estão criando novas legiões de torcedores (ou de bárbaros?).

17h40min – Nova consagração dos incompetentes: depois de espantar mais de 20.000 pessoas, liberaram os portões com os bares fechados. Um pouco mais de 50% se animaram a entrar. Os que já estavam dentro de transportes coletivos, planejavam qual a forma de receber o dinheiro investido no ingresso (o da passagem, nem pensar). Certamente os ludibriados só irão receber depois que as vítimas de Mariana forem ressarcidas. Algo perto de vinte anos.

Pelo clima de impunidade que assola o país, também neste evento desastroso não deveremos ter elementos punidos pela balbúrdia criada e que alimenta a meta (que beneficia a TV a cabo) de espantar torcedores dos estádios.

Nosso temor é que um dia, alguns destes dirigentes possam estar dentro de um grupo gestor de alguma mineradora que segue a mesma linha. Possuindo algumas barragens com risco de rompimento em torno de cinco a dez anos.

Estes produtores de balbúrdia popular e desrespeito aos direitos dos consumidores certamente anteciparão estas quedas em 70% do tempo projetado. Tal evento retrata bem o perfil de nossa sociedade.

- Dirigentes decidem (em todas as esferas) usando normas conflitantes sem medirem as consequências desastrosas por se sentirem seguros pela impunidade.

- O povo prejudicado resmunga (diz que isto é protesto), mas após um samba regado com cerveja transforma a tragédia em tema de piada.

- Os prejuízos não são cobertos pelos responsáveis que criaram o foco das tragédias.

- A Justiça composta por “amigos” destes meliantes prolonga os processos até que caduquem ou atinjam um estágio onde penas pesadas sejam transformadas em “cestas básicas”.

- O povo prejudicado, após a ressaca carnavalesca, aplaude “os mesmos” tão logo eles concedam algumas migalhas.

- A imprensa após quinze dias deixa de relatar os desdobramentos das tragédias.

- O mundo se diverte com nossa “indignação” sabendo que continuaremos submissos aos seus dólares.

Talvez a partir de agora, nossos torcedores nativos comecem a entender porque o Brasil perdeu de 7 x 1 para Alemanha na copa de 2014 e porque nossa seleção sub20 não vai participar do próximo campeonato mundial.
Título e Texto: Haroldo P. Barboza, 18-2-2019

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