Antecipando a queda
A final da taça Guanabara de
futebol (RJ), em 17 de fevereiro de 2019, foi a maior piada (quase trágica)
esportiva que o mundo tomou conhecimento desde a criação da FIFA.
Movidos por vaidades,
dirigentes do Vasco e do Fluminense criaram uma polêmica sobre assentos (os
ainda não destruídos) que as torcidas ocupariam no Maracanã. O dirigente máximo
da federação carioca, sem pulso firme para definir a questão, piorou o assunto
por seu silêncio.
Numa sequência cronológica
resumida tivemos os seguintes fatos no dia do jogo, faltando menos de dez horas
para início da partida.
07h30min - Uma Juíza acabou
decretando que o jogo seria realizado com portões fechados e multa de R$ 500.000,00
no caso de descumprimento.
12h30min – Presidente do
Fluminense incita seus torcedores a não comparecerem ao estádio para evitar
tumultos (já em ebulição) nas imediações do estádio.
13h00min – diversos
funcionários do estádio foram dispensados devido a não existirem torcedores
dentro do complexo esportivo. Diversos comerciantes (e vendedores ambulantes)
que prepararam lanches para quase 60.000 torcedores ficaram sem saber o que
fazer com a alimentação perecível estocada.
14h00min – Surgiu uma reunião
na federação (ao lado do estádio) entre dirigentes esportivos e da segurança
pública quanto ao risco de tumulto entre torcedores que compraram ingressos e
vieram de municípios próximos. Sentados dentro do estádio haveria menos riscos
de confrontos.
15h15min – Ficou decidido que
os torcedores poderiam entrar. Mas faltava um documento oficial exibindo esta
decisão a ser entregue ao comando policial (JECRIM) dentro do estádio.
Documento que foi entregue uma hora depois. Neste intervalo, centenas de torcedores
estavam comprando ingressos e se aglomerando diante dos portões protegidos pela
PM!
16h45min – A consagração dos
incompetentes: JECRIM não autorizou abertura dos portões! Explodiu a revolta de
torcedores (consumidores) sacaneados mais uma vez.
17h00min – O jogo começou. Mas
quem se importou com isto? Para os jogadores produzindo um pobre futebol até
estava melhor não havendo torcedores para testemunharem uma peleja sem emoções.
17h05min – torcedores burlados
e irados começaram a ser contidos na base de gás lacrimogênio e cassetetes.
Dezenas de adultos feridos. Centenas de menores (abaixo de 12 anos) assustados
com a selvageria causada pelos dirigentes que afirmam que estão criando novas
legiões de torcedores (ou de bárbaros?).
17h40min – Nova consagração
dos incompetentes: depois de espantar mais de 20.000 pessoas, liberaram os
portões com os bares fechados. Um pouco mais de 50% se animaram a entrar. Os
que já estavam dentro de transportes coletivos, planejavam qual a forma de
receber o dinheiro investido no ingresso (o da passagem, nem pensar).
Certamente os ludibriados só irão receber depois que as vítimas de Mariana
forem ressarcidas. Algo perto de vinte anos.
Pelo clima de impunidade que
assola o país, também neste evento desastroso não deveremos ter elementos
punidos pela balbúrdia criada e que alimenta a meta (que beneficia a TV a cabo)
de espantar torcedores dos estádios.
Nosso temor é que um dia,
alguns destes dirigentes possam estar dentro de um grupo gestor de alguma
mineradora que segue a mesma linha. Possuindo algumas barragens com risco de
rompimento em torno de cinco a dez anos.
Estes produtores de balbúrdia
popular e desrespeito aos direitos dos consumidores certamente anteciparão
estas quedas em 70% do tempo projetado. Tal evento retrata bem o perfil de
nossa sociedade.
- Dirigentes decidem (em todas
as esferas) usando normas conflitantes sem medirem as consequências desastrosas
por se sentirem seguros pela impunidade.
- O povo prejudicado resmunga
(diz que isto é protesto), mas após um samba regado com cerveja transforma a
tragédia em tema de piada.
- Os prejuízos não são
cobertos pelos responsáveis que criaram o foco das tragédias.
- A Justiça composta por
“amigos” destes meliantes prolonga os processos até que caduquem ou atinjam um
estágio onde penas pesadas sejam transformadas em “cestas básicas”.
- O povo prejudicado, após a
ressaca carnavalesca, aplaude “os mesmos” tão logo eles concedam algumas
migalhas.
- A imprensa após quinze dias
deixa de relatar os desdobramentos das tragédias.
- O mundo se diverte com nossa
“indignação” sabendo que continuaremos submissos aos seus dólares.
Talvez a partir de agora,
nossos torcedores nativos comecem a entender porque o Brasil perdeu de 7 x 1
para Alemanha na copa de 2014 e porque nossa seleção sub20 não vai participar
do próximo campeonato mundial.
Título e Texto: Haroldo P. Barboza, 18-2-2019
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