Miguel Pinheiro
Nas eleições europeias, o PS é contra a
"Europa da troika", contra a "Europa dos populistas" e
contra a "Europa do Brexit". Ou seja: é uma soma de confusões,
contradições e baralhações.
Pedro Marques está
terrivelmente baralhado.
(Desculpem: não devia ter
começado assim. Possivelmente, não estão a ver quem é. Pedro Marques foi
ministro do Planeamento e das Infraestruturas durante quatro anos e gozou de
uma existência política relativamente clandestina até António Costa ter
decidido, há umas semanas, pô-lo a fazer promessas fantasiosas sobre obras
públicas. Para quem ainda não estiver a ver quem é, fica aqui uma
fotografia.)
Vamos então começar outra vez,
agora com a informação toda: Pedro Marques (esse mesmo) está terrivelmente
baralhado.
Este fim de semana, quando
foi apresentado como cabeça de lista do PS às eleições europeias, Pedro Marques jurou,
exibindo toda a sua esforçada retórica, que é contra a “Europa da troika”. Em
política, é sempre bom ser contra qualquer coisa, tendo em conta que os
inimigos externos tendem a ajudar à união das tropas. Além disso, a expressão
“Europa da troika” tem a indesmentível sedução de ficar no ouvido. Mas, mesmo
assim, temos de admitir que é estranho escutar um ex-ministro do PS a falar
desta forma, como se tivesse encarnado o espírito missionário de Francisco
Louçã. Afinal, se os factos ainda valem para alguma coisa em política, Pedro
Marques devia saber que foi a “Europa da troika” que, em 2011, quando o
primeiro-ministro socialista José Sócrates deixou os cofres do Estado
miseravelmente vazios, nos emprestou dinheiro para pagarmos os salários dos
funcionários públicos e outras minudências semelhantes.
Talvez Pedro Marques ache,
muito patrioticamente, que, em vez de termos pedido ajuda à “Europa da troika”,
devíamos ter mantido a nossa pobre independência, até que se esgotasse a
comida, os medicamentos e a vergonha. Ou, então, em vez de ser adepto do
patriotismo, Pedro Marques é defensor da artimanha. Nesta versão, Portugal
deveria ter recebido o dinheiro da “Europa da troika”, mas, depois, deveria
ter-se recusado a cumprir as suas condições, que se traduzem no cumprimento do
défice e no corte das despesas, medidas exóticas que, como se sabe, só são
defendidas por políticos que odeiam os pobres e idolatram o capitalismo de
casino.
Porém, mesmo neste caso,
sobraria um problema. É que, no mesmo sábado em que exorcizou energicamente a
“Europa da troika”, Pedro Marques partilhou o palco com o presidente do
Eurogrupo (que exige
todas essas terríveis coisas a países como Itália) e com um primeiro-ministro
que se gaba, impante, de governar com “contas certas”.
Pedro Marques também anunciou
que é contra a “Europa dos populistas” (já se percebeu que o candidato do PS é
contra muitas coisas). Há aqui dois detalhes a que convém dar alguns minutos de
atenção. O primeiro é que a “Europa dos populistas” se caracteriza, antes de
tudo o mais, por ser contra a “Europa da troika”, o que coloca Pedro Marques na
desagradável posição de partilhar convicções (usemos a palavra com
benevolência) com esses mesmos perigosos “populistas” que pretende denunciar.
O segundo é que Pedro Marques
governou durante quatro anos ao lado de partidários da “Europa dos populistas”,
como sabe qualquer pessoa que ouça Jerónimo de Sousa e Catarina Martins a
falarem sobre os “ditames de Bruxelas” ou sobre as maldades da “senhora
Merkel”, num discurso que reproduz, quase palavra por palavra, os argumentos de
Matteo Salvini.
Por fim, Pedro Marques
declarou-se (imagina-se que já perto da exaustão física com tantos combates)
contra a “Europa do Brexit”. Como não há ninguém em Portugal, com a possível
excepção dos comunistas (cá estão eles outra vez), a defender as virtudes de
eventuais saídas da União Europeia, não se percebe como isso pode ser
particularmente distintivo de algum candidato.
Pedro Marques está, como se
vê, muitíssimo baralhado. Mas, pelo menos, não está sozinho nessa nebulosa
baralhação. Quando apresentou o seu cabeça de lista, António Costa anunciou,
com grande convicção, que a sua Europa é a “de Tsipras e de Macron”. Vou
repetir e sublinhar: é a “de Tsipras”; e também é a “de
Macron”. Não me vou dar ao trabalho de explicar tudo o que está comicamente
errado com a frase de Costa porque aqui, sem dúvida, a piada faz-se por si
própria, não faz?
Título e Texto: Miguel Pinheiro, Observador,
20-2-2019
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