sexta-feira, 7 de junho de 2019

[Pensando alto] Brasileiros criativos e judeus deploráveis

Pedro Frederico Caldas

Vai mais uma aí, Bahia?
Garçom, em Salvador

Qual é a religião mundana do judeu? A pilantragem. Qual é seu deus mundano? O dinheiro.
Karl Marx

Nos seus efeitos e consequência ele (o judeu) é como uma tuberculose racial das nações.
Hitler, em carta a Adolph Gemlich

Está deprimido? Está eufórico? Em qualquer das hipóteses, pare a leitura, pode não lhe fazer bem, ou, então, vamos combinar uma coisa: pegue um rivotril ou qualquer tranquilizante, um copo d´água, ponha-os ao lado e continue a ler. Mas, lembre-se, corre por sua conta. Depois não vá dizer que não avisei.

Sabe quem eu sou? Não? Quer saber? Se quer, vá à página do IBGE e dê uma olhada na projeção demográfica do Brasil. Vou facilitar a sua vida, não precisa fazer isso; como diria Temer, fá-lo-ei por você. Segundo o PopClock do IBGE, precisamente às 00h33min45s de 10 de março de 2017, a projeção da população brasileira era de 207.193.410.

Agora você já sabe quem eu sou. Sou uma pessoa comum do povo, um daqueles mais de 207 milhões de brasileiros perdidos na multidão e, assim como consideravam os judeus, também fui chamado de deplorável por ter votado em Trump.

Por que preciso me apresentar a você? Claro que é porque nada tenho de especial para ser lembrado pelos brasileiros. Não sou político, não estou na Lava-Jato, não sou famoso, sequer sou bonito, que nem todo mundo tem a sorte de ser charmoso como meu dileto amigo Pedro Flávio, aquele dos porquinhos tristonhos. Vejam a foto do gajo que publiquei abaixo: louro, olhos azuis, quindim de “Benzinho” e membro da Honorável e Seleta Confraria do Quibe, que se reúne secretamente na cidade de Itabuna, composta de gente de apurado garbo, mas ninguém tão galante como ele.

Quando estou em Salvador, acho uma delícia o garçom olhar para mim, descontraído, informal, boapraçamente (acabei de criar um neologismo), dissolver-me numa abstração que ele denomina “Bahia” e perguntar: “vai mais uma aí, Bahia?”. Essa abordagem baiano-garçoniana (acabei de criar outro neologismo – tô que tô!) nos coloca sempre no devido lugar porque, no Brasil, somos todos ignotos e, para sair do anonimato, deixar de ser “Bahia” ou CPF para ser alguém, é preciso ser político, estar na Lava-Jato, ser artista da Globo, ou bonito como meu dileto amigo Pedro Flávio.

Feito esse introito, colocados, nós brasileiros, no devido lugar, vamos ao que interessa.

Didi pega a bola no meio de campo, dá um passe de vinte metros e a bola cai, com precisão, lá na extrema direita, a uns dez metros da bandeira do corner, nos pés de Garrincha.

Vem um “João”, como se diz no jargão futebolístico, para tentar barrar o avanço do jogador das pernas tortas. O pobre coitado sabe, de antemão, que Garrincha fingirá ir para a direita e que, depois de umas três requebradas, para um lado e para o outro, terminará indo pela direita mesmo. Dito e feito. O pobre beque, mesmo sabendo todo o roteiro, não consegue evitar a realização do script, cai sentado, Garrincha sai pela direita, cruza a bola na área e alguém faz o gol de cabeça.

E aí é que vem a melhor parte. Um locutor esportivo, narrador da jogada, grita: gênio!, gênio!, gênio!. Terminada a gritaria, pede a um comentarista, cheio de ciência e fórmulas futebolísticas esotéricas, para comentar o lance. Com voz um tanto embargada pela emoção, dirá que a criatividade, a genialidade do brasileiro está bem retratada nos lances daquele “gênio da raça” de pernas tortas. Cai o pano. Isso carimba a lenda, penso eu, que o brasileiro tem por característica frisante a criatividade.

Somos aquele número imenso de brasileiros lá do tal relógio do IBGE, no qual existo e me escondo. Nem eu, nem você, nem nenhum outro brasileiro conseguiu ganhar um, sequer unzinho, prêmio Nobel! Os inventos que mais ajudaram e empurraram a humanidade para o progresso não saíram das nossas mentes, muito menos dos nossos pés, como querem os profissionais do futebol.

Mas o Brasil é um país jovem, você não sabe disso? Claro que sei. Não estou falando de criações pristinas como a roda, o número zero, a matemática ou o astrolábio. Estou falando da criação do arado a tração animal para cá. Que tal navio a vapor, locomotiva, telefone, telégrafo, luz elétrica, radar, penicilina, antibiótico, jato, rádio, televisão, robótica, transplantes, internet e o escambau a quatro?

Voltemos ao tema prêmio Nobel porque essa premiação se traduz no resumo dos grandes feitos humanos na área da ciência e, em menor escala, das letras. Acho, e, creio, vocês concordam, seja uma boa régua para medir a criatividade, o gênio criativo de um país.

Os judeus foram ridicularizados por Marx, espezinhados, perseguidos e aniquilados aos milhões por Hitler e seus aliados, que os consideravam gente inferior. São, em termos populacionais, uns quinze milhões, concentrados, quase que meio a meio entre os Estados Unidos e Israel. Representam cerca de 0.2% da população mundial. Em termos numéricos, quase nada. Mas, considerados em termos de prêmios Nobel, são uma enormidade, representam, com dados de 2011, cerca de 20% de todas as láureas já concedidas.

Você, meu caro, pode contrapor que os muitos mais de 150 prêmios Nobel concedidos a judeus não significam a concessão a judeus de Israel, ou seja, a israelenses. Okay, o Estado de Israel foi criado em 1948, estado mais jovem que alguns dos meus queridos leitores, entretanto os Nobel concedidos a judeus lá radicados, daquele ano a 2011, já representam 12 lauréis.

As conquistas científicas e inovadoras, muitas vezes assombrosas como a teoria da relatividade e a da gravitação universal, dão a esse formidável povo, tão perseguido por idiotas e arrivistas políticos, um pedestal singular no campo da criatividade.

Por que escolhi o povo judeu para êmulo do povo brasileiro em termos de criatividade? Escolhi talvez o povo que tenha tido mais adversidade no curso da história, desde a Grande Diáspora, começada no ano setenta da Era Cristã, quando o general romano Tito, filho do Imperador Vespasiano, destruiu o Templo.

A maior parte da população deixou o país e vagou por cerca de dois milênios, sofrendo perseguições de toda ordem na maioria dos países onde pousou. Os brasileiros, por seu turno, nunca sofreram nenhuma agrura ou insulto histórico e sempre dispuseram de uma base territorial imensa, rica e variada, unificados pela mesma língua e unidos pela mesma religião cristã. Ou seja, a história e o destino nos deram as condições necessárias para sermos uma potência mundial em criatividade, a exemplo dos Nobel concedidos a países novos como a Austrália (13), Canada (23) e Estados Unidos (355).

Aí vem a pergunta inevitável: em que somos criativos? Quais são as nossas contribuições na área da ciência para a humanidade? Alguém há de sacar o avião, que não foi. Está documentado que não foi o nosso grande Santos Dumont, foram os irmãos Wright. Todavia, mesmo que tenha sido Santos Dumont, o seu avião não era comercializável. Já os Wright desenvolveram e fabricaram em série aviões operacionais e ficaram podres de ricos, embora isso não tire os grandes méritos de Santos Dumont. Aqui e ali se pode apontar alguma criação de alguma importância, mas nada que nos tire de situação, no particular, modestíssima.

Você, caro leitor, é brasileiro como eu sou? Se é, pegue o comprimido que está ao lado, ponha-o na boca e tome um gole d´água. O copo, não esqueça, também está ao seu lado. Para não entrar ou não aumentar a depressão, assuma uma dessas frases de autoajuda que recomenda você a mudar o que você pode mudar e a aceitar aquilo que você mudar não pode.

E por que isso acontece? Acontece porque não se fazem grandes nações com conversa fiada. As grandes nações se constroem com trabalho duro, liberdade econômica, poupança para investimento, abertura de mercado, proteção e respeito à propriedade privada, estabilidade das regras e segurança jurídica.

Pode dar certo um país em que a carga fiscal é da ordem de 34% de tudo que se produz, a que se agrega um déficit fiscal de 10%, juntos significando o sequestro de 44% de toda a riqueza, ficando a iniciativa privada com somente 56% dos 100% por ela produzidos; que qualquer bando que se intitule “sem-terra” ou “sem teto” pode invadir fazendas e casas sob o olhar condescendente de um judiciário e de um ministério público emasculados; que tem um Supremo de linguagem Rococó, de decisões contrárias à letra da constituição, verdadeira mãe de leite de criminosos obsequiados por interpretações lenientes da lei penal; que tem uma legislação trabalhista como um dos fatores impeditivos de geração de empregos, ou que tem uma justiça do trabalho que custa dezessete bilhões de reais por ano para que, através dela, os trabalhadores recebam míseros sete bilhões; que matar um bicho do mato dá prisão, enquanto matar uma pessoa para roubar só dá prisão se houver flagrante, mesmo assim relaxável ao exame da primeira petição; que tem um legislativo que não para de fazer leis, no mais das vezes para magnificar as despesas públicas e atrapalhar e azucrinar a vida de todos, principalmente de quem realmente produz; que tem um setor público que paga aos seus empregados várias vezes a média do que ganha um empregado do setor privado, o real produtor; e que grande parte dos políticos com acesso aos cofres públicos roubam e deixam roubar aquilo que você entregou ao governo com o suor de seu rosto?

É isso aí, amigo, eu poderia ficar descrevendo as mazelas nacionais por horas e não teria a capacidade de esgotá-las.

Sabe o que significa “deixar a pátria livre”, frase de hino? Significa enxugar o Estado, unificar o sistema previdenciário, estabelecer, como os demais países que se respeitam, idade mínima de aposentadoria compatível com a expectativa média de vida do universo dos aposentados; desregulamentar os negócios e atividades econômicas; reduzir fortemente a carga fiscal para aumentar os investimentos privados; abolir o imposto sindical, rever as leis trabalhistas e dar melhor destino ao sistema judiciário trabalhista; criar leis duras pelas quais se tome do patrimônio dos ladrões do erário algumas vezes aquilo que roubaram e torne esse tipo de crime imprescritível, dentre um rol mais extenso de medidas indispensáveis para dar outro rumo ao país.

Mas, quem fará nisso? Sinceramente, num horizonte visível, acho que ninguém.

Dito isso, preciso lhe fazer uma pergunta. Vou bater na sua porta: toc, toc, toc.
- Bom dia, amigo, diga-me, por favor, onde está a tal criatividade do brasileiro?
- Suma daqui seu deplorável!

Por último, mas não menos importante, se alguém a mim indagasse qual seria minha aspiração caso pudesse deixar de ser um número perdido na massa amorfa e ganhar importância e representação, responderia de bate-pronto: ser charmoso como Pedro Flávio e armado cavaleiro andante da Honorável e Seleta Confraria do Quibe de Itabuna.

A propósito, se sobrou algum tranquilizante, passe-me-o, por favor.
Um bom fim de semana para todos.
Título e Texto: Pedro Frederico Caldas, 10-3-2017

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