Pedro Frederico Caldas
Garçom, em Salvador
Qual é a religião mundana do judeu? A pilantragem. Qual é seu
deus mundano? O dinheiro.
Karl Marx
Nos seus efeitos e consequência ele (o judeu) é como uma tuberculose racial das nações.
Hitler, em carta a Adolph
Gemlich
Está deprimido? Está eufórico?
Em qualquer das hipóteses, pare a leitura, pode não lhe fazer bem, ou, então,
vamos combinar uma coisa: pegue um rivotril ou qualquer tranquilizante, um copo
d´água, ponha-os ao lado e continue a ler. Mas, lembre-se, corre por sua conta.
Depois não vá dizer que não avisei.
Sabe quem eu sou? Não? Quer
saber? Se quer, vá à página do IBGE e dê uma olhada na projeção demográfica do
Brasil. Vou facilitar a sua vida, não precisa fazer isso; como diria Temer,
fá-lo-ei por você. Segundo o PopClock do IBGE, precisamente às 00h33min45s de
10 de março de 2017, a projeção da população brasileira era de 207.193.410.
Agora você já sabe quem eu
sou. Sou uma pessoa comum do povo, um daqueles mais de 207 milhões de
brasileiros perdidos na multidão e, assim como consideravam os judeus, também
fui chamado de deplorável por ter votado em Trump.
Por que preciso me apresentar
a você? Claro que é porque nada tenho de especial para ser lembrado pelos
brasileiros. Não sou político, não estou na Lava-Jato, não sou famoso, sequer
sou bonito, que nem todo mundo tem a sorte de ser charmoso como meu dileto
amigo Pedro Flávio, aquele dos porquinhos tristonhos. Vejam a foto do gajo que
publiquei abaixo: louro, olhos azuis, quindim de “Benzinho” e membro da
Honorável e Seleta Confraria do Quibe, que se reúne secretamente na cidade de
Itabuna, composta de gente de apurado garbo, mas ninguém tão galante como ele.
Quando estou em Salvador, acho
uma delícia o garçom olhar para mim, descontraído, informal, boapraçamente
(acabei de criar um neologismo), dissolver-me numa abstração que ele denomina
“Bahia” e perguntar: “vai mais uma aí, Bahia?”. Essa abordagem
baiano-garçoniana (acabei de criar outro neologismo – tô que tô!) nos coloca
sempre no devido lugar porque, no Brasil, somos todos ignotos e, para sair do
anonimato, deixar de ser “Bahia” ou CPF para ser alguém, é preciso ser
político, estar na Lava-Jato, ser artista da Globo, ou bonito como meu dileto
amigo Pedro Flávio.
Didi pega a bola no meio de
campo, dá um passe de vinte metros e a bola cai, com precisão, lá na extrema
direita, a uns dez metros da bandeira do corner, nos pés de Garrincha.
Vem um “João”, como se diz no
jargão futebolístico, para tentar barrar o avanço do jogador das pernas tortas.
O pobre coitado sabe, de antemão, que Garrincha fingirá ir para a direita e
que, depois de umas três requebradas, para um lado e para o outro, terminará
indo pela direita mesmo. Dito e feito. O pobre beque, mesmo sabendo todo o
roteiro, não consegue evitar a realização do script, cai sentado, Garrincha sai
pela direita, cruza a bola na área e alguém faz o gol de cabeça.
E aí é que vem a melhor parte.
Um locutor esportivo, narrador da jogada, grita: gênio!, gênio!, gênio!.
Terminada a gritaria, pede a um comentarista, cheio de ciência e fórmulas
futebolísticas esotéricas, para comentar o lance. Com voz um tanto embargada
pela emoção, dirá que a criatividade, a genialidade do brasileiro está bem
retratada nos lances daquele “gênio da raça” de pernas tortas. Cai o pano. Isso
carimba a lenda, penso eu, que o brasileiro tem por característica frisante a
criatividade.
Somos aquele número imenso de
brasileiros lá do tal relógio do IBGE, no qual existo e me escondo. Nem eu, nem
você, nem nenhum outro brasileiro conseguiu ganhar um, sequer unzinho, prêmio
Nobel! Os inventos que mais ajudaram e empurraram a humanidade para o progresso
não saíram das nossas mentes, muito menos dos nossos pés, como querem os
profissionais do futebol.
Mas o Brasil é um país jovem,
você não sabe disso? Claro que sei. Não estou falando de criações pristinas
como a roda, o número zero, a matemática ou o astrolábio. Estou falando da
criação do arado a tração animal para cá. Que tal navio a vapor, locomotiva,
telefone, telégrafo, luz elétrica, radar, penicilina, antibiótico, jato, rádio,
televisão, robótica, transplantes, internet e o escambau a quatro?
Voltemos ao tema prêmio Nobel
porque essa premiação se traduz no resumo dos grandes feitos humanos na área da
ciência e, em menor escala, das letras. Acho, e, creio, vocês concordam, seja
uma boa régua para medir a criatividade, o gênio criativo de um país.
Os judeus foram
ridicularizados por Marx, espezinhados, perseguidos e aniquilados aos milhões
por Hitler e seus aliados, que os consideravam gente inferior. São, em termos
populacionais, uns quinze milhões, concentrados, quase que meio a meio entre os
Estados Unidos e Israel. Representam cerca de 0.2% da população mundial. Em
termos numéricos, quase nada. Mas, considerados em termos de prêmios Nobel, são
uma enormidade, representam, com dados de 2011, cerca de 20% de todas as
láureas já concedidas.
Você, meu caro, pode contrapor
que os muitos mais de 150 prêmios Nobel concedidos a judeus não significam a
concessão a judeus de Israel, ou seja, a israelenses. Okay, o Estado de Israel
foi criado em 1948, estado mais jovem que alguns dos meus queridos leitores,
entretanto os Nobel concedidos a judeus lá radicados, daquele ano a 2011, já
representam 12 lauréis.
As conquistas científicas e
inovadoras, muitas vezes assombrosas como a teoria da relatividade e a da
gravitação universal, dão a esse formidável povo, tão perseguido por idiotas e
arrivistas políticos, um pedestal singular no campo da criatividade.
Por que escolhi o povo judeu
para êmulo do povo brasileiro em termos de criatividade? Escolhi talvez o povo
que tenha tido mais adversidade no curso da história, desde a Grande Diáspora,
começada no ano setenta da Era Cristã, quando o general romano Tito, filho do
Imperador Vespasiano, destruiu o Templo.
A maior parte da população
deixou o país e vagou por cerca de dois milênios, sofrendo perseguições de toda
ordem na maioria dos países onde pousou. Os brasileiros, por seu turno, nunca
sofreram nenhuma agrura ou insulto histórico e sempre dispuseram de uma base
territorial imensa, rica e variada, unificados pela mesma língua e unidos pela
mesma religião cristã. Ou seja, a história e o destino nos deram as condições
necessárias para sermos uma potência mundial em criatividade, a exemplo dos
Nobel concedidos a países novos como a Austrália (13), Canada (23) e Estados
Unidos (355).
Aí vem a pergunta inevitável:
em que somos criativos? Quais são as nossas contribuições na área da ciência
para a humanidade? Alguém há de sacar o avião, que não foi. Está documentado
que não foi o nosso grande Santos Dumont, foram os irmãos Wright. Todavia,
mesmo que tenha sido Santos Dumont, o seu avião não era comercializável. Já os
Wright desenvolveram e fabricaram em série aviões operacionais e ficaram podres
de ricos, embora isso não tire os grandes méritos de Santos Dumont. Aqui e ali
se pode apontar alguma criação de alguma importância, mas nada que nos tire de
situação, no particular, modestíssima.
Você, caro leitor, é
brasileiro como eu sou? Se é, pegue o comprimido que está ao lado, ponha-o na
boca e tome um gole d´água. O copo, não esqueça, também está ao seu lado. Para
não entrar ou não aumentar a depressão, assuma uma dessas frases de autoajuda
que recomenda você a mudar o que você pode mudar e a aceitar aquilo que você
mudar não pode.
E por que isso acontece?
Acontece porque não se fazem grandes nações com conversa fiada. As grandes
nações se constroem com trabalho duro, liberdade econômica, poupança para
investimento, abertura de mercado, proteção e respeito à propriedade privada,
estabilidade das regras e segurança jurídica.
Pode dar certo um país em que
a carga fiscal é da ordem de 34% de tudo que se produz, a que se agrega um
déficit fiscal de 10%, juntos significando o sequestro de 44% de toda a
riqueza, ficando a iniciativa privada com somente 56% dos 100% por ela
produzidos; que qualquer bando que se intitule “sem-terra” ou “sem teto” pode
invadir fazendas e casas sob o olhar condescendente de um judiciário e de um
ministério público emasculados; que tem um Supremo de linguagem Rococó, de
decisões contrárias à letra da constituição, verdadeira mãe de leite de
criminosos obsequiados por interpretações lenientes da lei penal; que tem uma
legislação trabalhista como um dos fatores impeditivos de geração de empregos,
ou que tem uma justiça do trabalho que custa dezessete bilhões de reais por ano
para que, através dela, os trabalhadores recebam míseros sete bilhões; que
matar um bicho do mato dá prisão, enquanto matar uma pessoa para roubar só dá
prisão se houver flagrante, mesmo assim relaxável ao exame da primeira petição;
que tem um legislativo que não para de fazer leis, no mais das vezes para
magnificar as despesas públicas e atrapalhar e azucrinar a vida de todos,
principalmente de quem realmente produz; que tem um setor público que paga aos
seus empregados várias vezes a média do que ganha um empregado do setor
privado, o real produtor; e que grande parte dos políticos com acesso aos
cofres públicos roubam e deixam roubar aquilo que você entregou ao governo com
o suor de seu rosto?
É isso aí, amigo, eu poderia
ficar descrevendo as mazelas nacionais por horas e não teria a capacidade de
esgotá-las.
Sabe o que significa “deixar a
pátria livre”, frase de hino? Significa enxugar o Estado, unificar o sistema
previdenciário, estabelecer, como os demais países que se respeitam, idade
mínima de aposentadoria compatível com a expectativa média de vida do universo
dos aposentados; desregulamentar os negócios e atividades econômicas; reduzir
fortemente a carga fiscal para aumentar os investimentos privados; abolir o
imposto sindical, rever as leis trabalhistas e dar melhor destino ao sistema
judiciário trabalhista; criar leis duras pelas quais se tome do patrimônio dos
ladrões do erário algumas vezes aquilo que roubaram e torne esse tipo de crime
imprescritível, dentre um rol mais extenso de medidas indispensáveis para dar
outro rumo ao país.
Mas, quem fará nisso?
Sinceramente, num horizonte visível, acho que ninguém.
Dito isso, preciso lhe fazer
uma pergunta. Vou bater na sua porta: toc, toc, toc.
- Bom dia, amigo, diga-me, por
favor, onde está a tal criatividade do brasileiro?
- Suma daqui seu deplorável!
Por último, mas não menos
importante, se alguém a mim indagasse qual seria minha aspiração caso pudesse
deixar de ser um número perdido na massa amorfa e ganhar importância e
representação, responderia de bate-pronto: ser charmoso como Pedro Flávio e
armado cavaleiro andante da Honorável e Seleta Confraria do Quibe de Itabuna.
A propósito, se sobrou algum
tranquilizante, passe-me-o, por favor.
Um bom fim de semana para
todos.
Título e Texto: Pedro
Frederico Caldas, 10-3-2017
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