sábado, 25 de janeiro de 2020

Crônicas Cariocas: o restante do país não ama chinelos como nós

Raphael Fernandes

O nosso verdadeiro amor por chinelos é uma coisa que quem não é do Rio de Janeiro tem muita dificuldade para entender. Carioca usa chinelo nas mais variadas ocasiões e lugares. Quem não gosta desse nosso hábito está, certamente, botando os pés pelas mãos.


Ir ao shopping usando chinelos nos pés já é praxe no Rio de Janeiro. Nem seria preciso citar aqui, mas essa é uma das situações que mais surpreende quem não é carioca. “Nossa… chinelo no Shopping…”. Sim. De chinelo no shopping. Por quê? Só não vou descalço porque essa prática já é patenteada por cantores de Axé e intérpretes de MPB.

Carioca, sempre que pode, usa chinelos. Às vezes, usa até quando não pode. Uma vez, em um casamento, todo mundo bem vestido, vi um homem usando chinelos. Ele estava com um curativo em um dos pés. Deduzi que esse fosse o motivo do calçado. No entanto, no decorrer da festa, das taças de champanhe, o vi confessar que não estava com problema nenhum no pé, simplesmente não queria usar sapatos. Descobri no mesmo dia que ele seria o padrinho do casamento, só que acabou não sendo. Talvez a não escolha tenha se dado por conta desse desapego nos pés. Que bom para ele. É melhor usar chinelos do que ser padrinho de certos casais.

Trabalhei com um colega que tinha um problema no pé que o impedia de usar sapatos. Ele ia de chinelos para a empresa. Eu adoraria que o problema dele fosse contagioso para eu pegar e poder trabalhar com os pés livres. Até sentava perto dele, porém, não deu certo e continuei com a moléstia dos sapatos nos pés durante o expediente.

Contudo, nas horas livres é liberdade para os pés. Chinelos em quase todos os lugares – e sem perder o estilo. Todavia, ainda há quem não ache isso legal, que discorde do poder estético dos chinelos. Que pessoal mais pé (chinelo) no saco. Cada um sabe onde pisa. Vamos em frente.

Até mesmo em regiões de praia, como o lindíssimo litoral nordestino, o uso de chinelos não é tão intenso como no Rio de Janeiro. Não sei explicar. Não é por falta de incentivo, afinal, lá também é calor e o ambiente é ideal para essa livre informalidade.

Uma das maiores fabricantes de sandálias do mundo é brasileira. A Grendene (que não está patrocinando esse texto pé-de-chinelo) foi fundada por gaúchos. Não sei o motivo que leva o restante do Brasil a não ter o mesmo amor que temos por esses calçados. Azar o deles. São muitas as pesquisas que mostram que sapato demais deforma os pés. Aqui no Rio, com nossos chinelos, estamos sempre com o pé direito.
Título e Texto: Raphael Fernandes, Diário do Rio, 25-1-2020

Um comentário:

  1. NÃO SUPORTO NADA NEM AREIA ENTRE OS DEDOS DO PÉ, PAGO 100 REAIS NUM CHINELO DE COURO NEM UM CENTAVO NUMA HAVAIANA QUE HOJE É FEITA NA CHINA E CUSTA 50 REAIS.

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