Realizando uma mudança
residencial, pude perceber claramente como minha geração foi erroneamente
educada, mal preparada para o mundo atual. Nela sempre ouvimos que nada deveria
ser jogado fora, descartado, pois um dia faria falta, poderíamos precisar exatamente
daquilo.
Principalmente os que tiveram
bastante contato com o meio rural saberão exatamente ao que me refiro. Câmaras
de ar velhas eram guardadas para um dia ser usada como um pedaço de borracha
que amarraria algo ou estancaria um vazamento. Um parafuso ou um prego velho e
enferrujado eram guardados, pois algum dia poderia fazer falta para fixar algo.
Uma tábua de curral quebrada, em outra oportunidade teria suas partes
danificadas cortadas e o restante seria reutilizado.
Foi assim que aprendi e assim
sempre agi, motivo pelo qual não esperava que um de meus filhos agisse de modo
diferente e um dia ter me dito que não guardava nada que não estava usando.
Contou que, principalmente em relação a suas roupas, quando adquiria uma peça
nova sempre descartava outra. Objetos que não estavam sendo usados também nunca
eram guardados.
Apesar de considerá-lo uma
pessoa bastante responsável, trabalhador e excelente pai de meus netos, não
acatava essa sua maneira de ser em virtude da educação que eu e grande parte de
meus contemporâneos recebemos, mas ao mudar de residência pude entender que
estamos errados e ele certo.
Vi sair dos armários, cômodas,
guarda roupas e criados mudos coisas que nem lembrava que possuía, sobrando,
sem nenhuma utilidade atual, roupas que nem se usam mais, ternos de modelos
antigos, calças que não me servem mais porta-retratos sem fotos, revistas
antigas, uma máquina de datilografia e até um visor de slides fotográficos.
Foram tantos os sacos
preenchidos com materiais que determinei fossem jogados no lixo que até me
assustei. Afinal, de que me adiantou guardar tantas coisas para um dia jogar
fora? Imediatamente me lembrei do ensinamento que recebi de meu filho, o
inverso do recebido de meus pais, tios e avós, mas que agora entendia ser o
mais correto.
Muitas pessoas poderiam, em
determinado momento, estar precisando de algo que estávamos mantendo guardado,
sem uso e tempos depois, por qualquer motivo, fazemos uma faxina na casa ou uma
mudança como a minha e jogamos fora o que não nos serve mais e agora não
servirá para mais ninguém, mas que no passado poderia ter ajudado muito outra
pessoa.
Pensando sobre o assunto, me
senti uma pessoa bem menos preparada do que pensava ser, apesar de já haver
entendido que ainda sei muito pouco e que a vida continua me ensinando muito,
como neste caso. Com essa mudança percebi que a visão do ter, possuir, de meu
filho é muito mais objetiva que a minha.
Realmente preciso concordar
que de nada me adianta ter o que não utilizo, desfruto, aproveito. Pensando
sempre em utilizar no futuro, acabamos por perder muitas coisas que se tornam
obsoletas, fora de uso, sem peças de reposição, enfim, sem utilidade alguma,
lixo.
Aprendi que a educação
recebida por minha geração precisa ser repensada e passar por mudanças, pois
sem guardar muitas dessas inutilidades teríamos aberto espaço para coisas mais
importantes e ao mesmo tempo permitido que outras pessoas utilizassem o que
guardamos sem usar.
Não há sentido algum em guardar algo que não utilizamos agora, pensando
em utilizá-lo no futuro, quando nem mesmo sabemos se teremos futuro.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal
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