Helder Carreira
Vejam só como são as coisas:
bastou a Polícia Federal vazar as 300 ligações entre o contraventor Carlinhos
Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (DEM/GO) para, imediatamente, a maior
emissora de TV do Brasil produzir uma matéria tendenciosa – e até mentirosa –
sobre a realidade dos bingos e cassinos no país. E o pior: certamente uma
pseudomatéria comprada pela máfia política que infesta o Congresso Nacional e
os bancos estatais, principais interessados na manutenção da proibição dos
jogos em nossa tapera tupiniquim. Veja a matéria do "Fantástico"
Vamos observar com bastante
cuidado o que revela um dos trechos das conversas entre Demóstenes e Cachoeira.
Nele, o senador democrata alerta o bicheiro que o Projeto de Lei nº 7.228/2002,
do ex-senador Maguito Vilella (PMDB/GO), que está parado na Câmara dos
Deputados, visa transformar a exploração de jogos de azar em crime, ao invés de
simples contravenção. Demóstenes diz: “Isso,
inclusive, te pega, né?!” E o que bicheiro responde? “Pega não! É bom demais! Regulariza as [loterias] estaduais. (...) Você
tinha que trabalhar isso com o Michel [Temer, atual vice-presidente da
República e, à época (2009), presidente da Câmara] pra pôr em votação. Isso aí é interessantíssimo!”
Ou seja, não interessa ao
contraventor a legalização dos bingos e cassinos, pois é justamente a sua
proibição que permite a manutenção de seu arco de poder através da compra de
autoridades (juízes, desembargadores, ministros, delegados, promotores,
governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores) e de legendas
partidárias, para que permitam seus negócios na clandestinidade. O que
realmente importa ao criminoso é a regulamentação das loterias estaduais,
conhecido antro de bilionários desvios de dinheiro público.
Não por acaso, foi a Carlinhos
Cachoeira que Waldomiro Diniz recorreu, em 2004, para arrecadar dinheiro sujo
para o “Caixa Dois” de campanha do PT e do PSB, inaugurando a série de
escândalos que devastou o primeiro governo do ex-presidente Lula. Naqueles
dias, Waldomiro era o principal assessor do então ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu. Também não é por acaso que, até à eleição de Lula em 2002,
Waldomiro Diniz era presidente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (LOTERJ).
Mas esse tipo de apuração não interessa nem aos veículos de comunicação, já que
essas loterias estaduais são bastante “generosas” na compra de espaços de
publicidade nos jornais, revistas, portais e emissoras de TV.
É exatamente essa dinâmica
nauseabunda que corrompeu e afundou o senador goiano Demóstenes Torres,
tornando-o uma decepção nacional. Muito provavelmente vão afogá-lo no lamaçal –
tal qual um boi de piranha – para preservar autoridades de todas as espécies e
de todas as instituições, que estão envolvidas no monumental esquema de
Carlinhos Cachoeira e de bicheiros e contraventores congêneres. Não é novidade
pra ninguém que esses criminosos financiam a eleição de muitos, bancam a
imprensa e são os diletos patronos do Carnaval brasileiro, tão celebrado como
cartão postal do nosso país.
Em nome da manutenção dessas
excrescências corruptas, há a promoção deslavada da proibição dos bingos e
cassinos como bandeira de fé e de moralidade, escondendo os reais motivos da
proibição e criando matérias de mídia como a exibida no último domingo. Basta
observar a quantidade comerciais de estatais – como a Caixa Econômica Federal –
veiculados durante os intervalos do programa. Proteger bandidos custa caro,
minha gente! O pior é concluir que quem está pagando a conta dessa imundice
somos nós, os brasileiros idiotas, doces contribuintes dessa farra.
Que ninguém se engane. O que
há de verdade nessa demonização dos bingos e cassinos no Brasil é a tentativa
de mantê-los proibidos legalmente, para que os partidos políticos, os
parlamentares corruptos, os governos indecentes e até os veículos de
comunicação volúveis e sem linhas editoriais sérias e comprometidas com a
ética, possam seguir alimentando a indústria das propinas, do “dinheiro por
fora”, do “caixa dois”, da grana que verte dos cofres públicos direto para o
bolso dos mamateiros. E isso só é possível porque o povo brasileiro é tão tolo
e manipulável, quanto hipócrita. Até parece que gostam muito de sustentar essa
bandalheira. Não por acaso, os bingos e cassinos só são proibidos em dois
países no mundo: no Brasil e no Iraque!
Texto: Helder Caldeira, no
site “Gente
de Opinião”
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