Reinaldo Azevedo
Leitores pedem que eu comente
o resultado da eleição francesa — e há até os bobinhos que acham que estou tristíssimo
com a derrota de Nicolas Sarkozy. Se o meu objetivo fosse caçar motivos para
insatisfações políticas, não precisaria buscá-los na França… Que tolice! Já
admirei Sarkozy mais do que hoje — e já escrevi aqui sobre o desencanto. Divido
seu tempo no poder em dois momentos: antes e depois de se tornar uma
celebridade, o marido de Carla Bruni. Mostrou-se um tanto deslumbrado e andou
desrespeitando certos rituais do homem público, ao tentar, por exemplo, fazer
do filho um misto de gênio político e de negócios. É evidente que acho que
ainda era o melhor para o seu país no que diz respeito às ideias — nem eu nem
os franceses sabemos direito quais são as de François Hollande. Algum tempo na
oposição fará bem aos conservadores franceses. Os socialistas estão longe da
Presidência há 24 anos. A democracia consolidada, como é a francesa, convive
bem com a alternância no poder. Os totalitários daqui é que se dedicam à
criminalização do dissenso. Na França, é o sal da política.
O resultado era esperado. Foi
mais um governo europeu colhido pela crise. Por enquanto, só Angela Merkel se
segura bem no cargo porque a economia da Alemanha tem sobrevivido bem a terremoto.
Os governos de turno no momento em que o tsunami colheu o continente arcaram
com o peso da crise: os socialistas cederam lugar aos conservadores na Espanha
e em Portugal, por exemplo; na França, deu-se o contrário. Eis o lado bom da
democracia.
Há turbulências no horizonte.
Hollande já estreou afirmando que vai cortar 30% do próprio salário. Huummm…
Vamos ver. O que isso muda? Nada! Ah, mas é um gesto demonstrando que pretende
ser austero nos hábitos políticos”… Sei. Mostra-se um adversário do corte de
gastos porque acha que isso aprofunda a crise. Está na contramão do pensamento
influente na área econômica da União Europeia, liderada pela Alemanha. A
convivência certamente será menos pacífica do que com Sarkozy… Vai dar certo?
Hollande também chega com um
dos velhos truques das esquerdas, as contemporâneas, que consiste em esconder a
falta de um programa econômico com uma agenda liberalizante nos costumes:
casamento gay, adoção de crianças por gays etc. e tal. Conquistar as franjas
dessa militância politicamente correta, muito influente na imprensa e nas redes sociais, ajuda a compor o perfil do governante moderno… Também deve acenar com
alguma concessão a imigrantes. Ocupará espaço no noticiário se fazendo suposto
representante das luzes, em contraste, como gostavam de considerar alguns, com
o dito “reacionarismo” de Sarkozy.
Eu, na verdade, duvido que ele
vá tentar emplacar uma agenda muito distinta da do seu adversário. Os acordos
da União Europeia não dão espaço para muita criatividade. Se a economia do
continente se recuperar no curso de seu mandato, virão alguns bons anos de
Partido Socialista pela frente. E isso, por óbvio, se decide mais na Alemanha
do que na França.
Vamos ver. Qualquer
racionalista diria que a União Européia foi feita para não funcionar. Povos
locais decidem que governo querem ter e com qual inclinação, mas um único
organismo — onde a Alemanha dá as cartas porque a economia lhe faculta essa
licença — decide que política econômica esses povos terão.
Título e Texto: Reinaldo
Azevedo, 07-05-2012
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