Alexandre Garcia
O Rei Juan Carlos esteve com a
presidente Dilma esta semana. Fico imaginando a chefe de estado do Brasil a
dizer ao chefe de estado da Espanha: "Eu sou você, amanhã", tal como
na propaganda de vodka. Não é difícil chegar a essa conclusão. A crise na
Espanha começou quando se decidiu que a expansão imobiliária seria uma solução
maravilhosa para o crescimento do país: criaria emprego na construção civil ao
mesmo tempo em que resolveria do problema da habitação. Empregou-se muita gente
e estrangeiros começaram a chegar aos milhares para atender à demanda de
mão-de-obra. Tijolo e concreto se tornaram sinônimos de riqueza. Áreas verdes
foram cobertas por construções, assim como o cinturão verde de muitas cidades.
Em poucos anos, o preço do
metro quadrado disparou e o boom da construção atraiu especuladores. O metro
quadrado da habitação subiu mas os salários não. Os bancos, para manter a roda
circulando, baixaram exigências para financiamentos, não se importando com a
renda do financiado nem com as garantias. Imaginaram que se o imóvel estava se
valorizando tanto, se o devedor não pudesse pagar, venderia o imóvel por mais
preço e ainda sobraria dinheiro. E ofereceram crédito para comprar casa, carro,
móveis, eletrodomésticos, viagens... A dívida se tornou fator de crescimento.
Mas aí, estourou a bolha dos
Estados Unidos. Os espanhóis se retraíram, o consumo caiu, vieram as demissões
e se descobriu que o país se sustentava tirando do futuro; nunca houve
realmente riqueza nem subida na escala social. Você que me lê, e percebe as
semelhanças, bata na madeira para torcer que por aqui não aconteça o mesmo. Os
sinais são alarmantes: o PIB brasileiro do primeiro trimestre deste ano,
segundo o IBGE, aumentou apenas dois décimos por cento (0,2%). A inflação vai
crescer o dobro do PIB neste ano.
Na Veja desta semana, a
excelente Lya Luft chama de "ilusão" o que está acontecendo no
Brasil. Ela mostra como também estamos sacando do futuro. "Palavras de
ordem nos impelem a comprar, autoridades nos pedem para consumir, somos convocados
a adquirir o supérfluo, até danoso, como botar mais carros em nossas ruas
atravancadas ou em nossas péssimas estradas... Estamos enforcados em dívidas
impagáveis, mas nos convidam a gastar ainda mais, de maneira impiedosa, até
cruel." – escreveu ela. Nossa bolha está inchada. E é de sabão.

Título e Texto: Alexandre Garcia é jornalista em
Brasília e escreve semanalmente em Só Notícias
Colaboração: J. Moletta
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